Património cultural celebrado

A China instituiu um dia Nacional do Património Cultural, que será comemorado no segundo sábado do mês de Junho. Este ano, o primeiro em que a data foi celebrada, coincidiu com o dia 10 de Junho e Macau, recentemente reconhecido pela UNESCO na sua Lista do Património Mundial, participou activamente

Macau, 10 de Junho de 2006. Um grupo de mais de 80 pessoas junta-se nas Ruínas de S. Paulo, incluídas no Centro Histórico de Macau, que desde há um ano passou a integrar a Lista do Património Mundial. Num espaço sempre a abarrotar de turistas, este grupo ressalta da multidão: aqui são todos de Macau. Vieram depois de lerem um anúncio de jornal publicitando o evento. Foi na zona de S. Paulo que funcionou a primeira universidade de modelo ocidental do Sudeste Asiático e, na emblemática fachada da antiga Igreja da Madre de Deus, destruída num incêndio em 1835, também há símbolos orientais. Afinal, uma boa imagem de Macau.
Explicadas as Ruínas de S. Paulo (nome que deriva do facto de, ao lado da Igreja da Madre de Deus, ter funcionado o Colégio de S. Paulo, também destruído no incêndio), o grupo deixa a que outrora fora a cidade cristã. A sul está o velho porto chinês, a lembrar que Macau já foi uma aldeia de pescadores. Paragem final, ainda dentro do perímetro do centro histórico: o templo da deusa A-Ma, mais antigo do que a própria cidade.
Aprender foi, pois, a forma de quatro associações de Macau festejarem o primeiro Dia Nacional do Património Cultural da China.
“A China está a viver um processo de desenvolvimento acelerado”, lembra José Maneiras, arquitecto e membro da Associação para a Protecção do Património, alertando para os perigos do crescimento imobiliário, que por vezes, “é incompatível com a preservação do património”, devendo por isso ser criadas “áreas de protecção”.
“Este dia também alerta para a existência daquele património na China que ainda não está classificado”, diz, por seu turno, Chan Su Weng, o presidente da Associação de História, um dos organizadores deste passeio. Na sua opinião, há que, no futuro, “fazer um esforço” para que essa situação seja ultrapassada.
Macau teve uma razão especial para se juntar aos festejos do Dia Nacional do Património Cultural da China pois há cerca de um ano que o centro histórico da cidade foi integrado na Lista do Património Mundial da Unesco, em representação da China.
“Quisemos festejar o dia de modo a que participassem todos os sectores da sociedade”, diz o arquitecto Cheong Cheok Kio, do Instituto Cultural. “Apesar do tempo chuvoso tivemos uma resposta positiva”, acrescenta, comentando assim a forma como foi assinalada a data na RAEM, correspondendo a um aumento significativo da afluência de visitantes aos museus de Macau.
A festa estendeu-se a outros locais integrados na Lista do Património Mundial. Numa visita à Casa de Lou Kao (que foi uma das residências da abastada família Lou Lim Iok) ficava-se a conhecer os coloridos bordados de Cantão. Na Igreja de S. Domingos ouviram-se canções folclóricas chinesas e no Teatro D. Pedro V entoou-se música de câmara chinesa contemporânea.
Chan Su Weng comenta do seguinte modo este Dia Nacional do Património Cultural da China: “Gostava que este dia servisse para mostrar às pessoas de Macau como é rica esta cultura. Uma mistura entre o Oriente e o Ocidente que aconteceu há 500 anos. A maior parte da população de Macau, hoje em dia, é composta por pessoas vindas do interior do país, e esta percentagem está a aumentar. É claro que estas pessoas não têm conhecimento da história de Macau.”
Mas, por outro lado, o presidente da Associação de História reconhece que ”desde que o Centro Histórico de Macau foi elevado a Património Mundial, a população tornou-se mais consciente do seu valor”. Ao passo que José Maneiras considera positivas as campanhas de sensibilização que têm sido levadas a cabo junto da juventude e que é já notório na população que se “está a criar um forte sentimento de identidade de Macau”. Finalmente, Cheong Cheok Kio defende que, com a entrada do Centro Histórico de Macau na Lista do Património Mundial, os cidadãos passaram a ser “guardiães” e “embaixadores” do património e que a decisão da Unesco constituiu “um reconhecimento do valor de Macau e do poder da população”.