Servir Macau

Aos 30 anos de idade, em 1999, assumiu a liderança do organismo que promove a imagem do comércio e do investimento de Macau no mundo. Quase uma década depois, LEE Peng Hong, presidente do IPIM, reitera a sua disponibilidade para continuar a servir a sociedade de Macau

Servir Macau

 

É um dos mais jovens directores da Administração Pública de Macau. Quando em 1999 substituiu João Domingos na presidência do IPIM – Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau – , LEE Peng Hong tinha apenas 30 anos de idade.
Na altura, a nomeação não deixou de surpreender os meios económicos locais, mas quem o conhece garante que era o quadro mais bem preparado, no seio do IPIM, para liderar os desafios que então se avizinhavam.
Natural de Macau, filho de pais chineses, estudou na escola Hou Kong. Licenciado em gestão de empresas, frequentou em Coimbra o curso de língua e cultura portuguesas, e assistiu a aulas na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Entre 1990 e 1992 aprendeu a falar português, sendo hoje um dos quadros superiores da Administração Pública que meJhor domina a língua de Camões.
De regresso a Macau inscreveuse no mestrado em Administração Pública, que o INA – Instituto Nacional de Administração promoveu em colaboração com a Universidade de Macau, e completou o Doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Tsinghua em Pequim.
Em 1992 ingressou no Instituto de Promoção do Investimento de Macau, na altura dirigido por José Romão, trabalhando na área da promoção económica. Em Julho de 1994, após a reestruturação institucional, foi criado o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), onde passou a trabalhar no Núcleo de Estudos, que depois dirigiu até ser designado presidente, em Setembro de 1999.
Ao longo da sua actividade profissional.
participou em pesquisas, estudos, investigações e realização de actividades de promoção económica e comercial entre a China e os países de língua oficial portuguesa, especialmente Portugal. Em 1994 acompanhou a delegação empresarial portuguesa à China, na visita oficial do então primeiro-ministro de Portugal, Prof.
Aníbal Cavaco Silva; em Maio de 2000, acompanhou uma delegação empresarial dos países de língua portuguesa à cidade de Yiwu, na China, e participou no “‘Fórum Internacional entre a Cidade de Yiwu, Zhejiang – Macau – Fórum dos Empresários da Língua Portuguesa”‘; organizou as Actividades Empresariais por ocasião dos 1°. e 2°, “Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau)”, respectivamente em 2003 e 2006; organizou anualmente, a partir do ano de 2005, os “Encontros de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa'” em Angola (2005), Lisboa (2006) e Maputo (2007).
Em 1999 colaborou com a Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria na elaboração do …. Guia de Macau – para empresários e investidores portugueses'” e é autor do livro intitulado …. Estratégia para o Desenvolvimento da Plataforma de Macau – Estudo sobre o Papel de Macau como Plataforma de Serviços para a Cooperação Económica entre a China e os Países de Língua Portuguesa”‘, lançado em Setembro de 2006.
Discreto, não gosta de dar entrevistas (a conversa com a mA[AU estava agendada há mais de meio ano) e de falar da família.
Casado, tem um filho e uma filha. Foi praticante de natação e basquetebol.
…. Como atleta amador ganhei algumas medalhas”, recorda com satisfação.
LEE Peng Hong diz não ter ambições políticas, mas está disponível para continuar a servir a sociedade de Macau.
“Disciplina e compromisso social” são, de resto, dois objectivos que procura alcançar no dia-a-dia. No amplo gabinete de trabalho, no edifício World Trade Center, tem, aliás, um amplo quadro, com esse desiderato desenhado em caracteres chineses.

Compreender a estratégia de cooperação

Entre outros temas, LEE Peng Hong fala, nesta entrevista, na edição 2007 da Feira Internacional de Macau (MIF), a maior de sempre, e no papel “notável” de Macau na relação com os países de língua portuguesa. Mesmo assim, acha que os empresários da RAEM precisam de compreender melhor a estratégia de cooperação delineada

 

– A edição 2007 da Feira Internacional de Macau (MIF) vai decorrer no complexo Venefian Macau. Quantos exfJOSitores e Instltulçães vão participar no evento?
– A 12″ Feira Internacional de Macau (MIF) vai decorrer, de 18 a 21 de Outubro, no Centro de Convenções e Exposições do Venetian Macau. Organizada pelo IPIM e co-organizada por onze associações comerciais locais e do exterior, é o maior evento de promoção comercial e de exposição de serviços e de produtos que se realiza em Macau.
Recorde-se que a edição de 2006 atraiu 148 delegações comerciais oriundas de 47 países e regiões e 24 associações comerciais da RAEM.
O Centro de Convenções e Exposições da Venetian Macau possui uma área total de cerca de 100 mil metros quadrados.
A 12″ edição da MIF vai realizar· se, pela primeira vez nesse Centro e irá acolher um número aproximado de 900 stands, o que corresponde um aumento para mais do dobro em relação ao número disponibilizado nas edições anteriores.
– O que espera da edição deste ano?
– A MIF terá como tema Apresentar a Nova Dinâmica de Macau, Desfrutar das Oportunidades Geradas pela Plataforma de Cooperação”. A feira vai concentrar investidores, empresários, comerciantes e expositores de diversos países e territórios.
Ao mesmo tempo em que se verifica uma maior internacionalização do evento, a feira constitui também uma excelente oportunidade para os homens de negócios do exterior tomarem conhecimento da nova dinâmica de Macau.
A concepção dos diversos pavilhões foi inspirada pela plataforma de serviços e pelo crescimento económico que Macau atravessa no presente momento.
Graças ao CEPA -Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o Continente Chinês e Macau – a RAEM tornou-se numa ponte ideal para as empresas estrangeiras entrarem na China. A edição de 2007 apresentará um ‘Pavilhão das Províncias e Cidades da China”, reforçando assim o papel de Macau como plataforma de serviços e investimento da China.
O referido pavilhão visa, por outro lado, estreitar o relacionamento estabelecido na sequência de visitas de estudo efectuadas por delegações comerciais de Macau ao interior da China e das deslocações a Macau por parte de delegações comerciais oriundas do interior da China.
Na zona “The Flying Macau” os visitantes poderão constatar a capacidade produtiva dos sectores comercial e industrial de Macau, apresentada pelas Associação Industrial de Macau; Associação dos Exportadores e Importadores de Macau, Associação dos Industriais de Tecelagem e Fiação de Lã de Macau e Associação de Fretadores de Macau.
O “Pavilhão dos Países de Língua Portuguesa” pretende salientar o papel desempenhando por Macau como plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa, tendo atraído nos anos anteriores, em média, mais de uma centena de empresários dos diversos países de língua portuguesa, quer para aquisição de mercadorias, quer para estabelecimento de negócios.

A presença da União Europeia

 

– A União Europeia vai estar representada pela primeira vez …
– A União Europeia (UE) é o maior bloco comercial do Mundo, tendo Macau sido o primeiro entreposto comercial dos países europeus. Portugal desempenha agora a presidência da União Europeia e este ano vamos ter um “Pavilhão da União Europeia”. Macau quer servir de plataforma de serviços entre a China e os países europeus.
Com vista a impulsionar e diversificar o desenvolvimento económico de Macau, a edição de 2007 instituirá, pela primeira vez, um “Pavilhão para organismos de promoção do comércio e do investimento internacional e um “Pavilhão para convenções e exposições internacional”.
Temos que estreitar as relações comerciais entre Macau e os organismos internacionais vocacionados para a promoção do comércio e do investimento e, ao mesmo tempo, dar a conhecer aos grupos empresariais ligados ao sector de convenções e feiras as vantagens que Macau pode oferecer como destino ideal para esses eventos, de modo a que possam ser estabelecidas mais oportunidades para cooperação.
Além disso, será instalado um “Pavilhão Internacional”, onde ficarão concentrados todos os expositores do exterior, havendo também no recinto três subzonas temáticas: “Zona de exposição para serviços e produtos de turismo e lazer”, “Zona de exposição para artigos e equipamentos de entidades expositoras” e “Zona de exposição dos produtos gerais”.
No recinto da feira será instalado um “Pavilhão de Pequenas e Médias Empresas”, com mais de 100 stands.
– A MIF terá também uma forte componente institucional …
Gostaria de salientar a realização do “Fórum para a Cooperação entre as Empresas Privadas da China e dos Países Africanos (Macau)”. Por outro lado, durante a feira, vai ser criado o “Conselho de Negócios China-África de Macau”.
Durante o evento serão realizadas várias conferências e sessões de promoção, das quais se destaca a “lnternational Chinese Entrepreneurs Convention – 2007”.
Com vista a desenvolver o sector de convenções e feiras vão decorrer dois fóruns, um sobre o desenvolvimento do sector, o outro de cooperação na área de convenções e fóruns entre Cantão, Hong Kong e Macau.
Serão realizadas várias sessões de esclarecimento sobre o ambiente de investimento, promovidas por vários países e diversas províncias da China, com vista a proporcionar aos visitantes uma apresentaçãoprofissionalsobre o ambiente de investimento e desenvolvimento da economia.

Melhorar o business matching

 

– A e dição 2007 tem outra novidades?
– Vamos aumentar a dimensão e melhorar o conteúdo de business matching. Dado que os visitantes das edições anteriores manifestaram interesse em projectos de investimento, a organização oferece uma nova modalidade de serviços (“matching de projectos”). Os participantes são solicitados a proporcionar projectos de investimento, com vista a aumentar a qualidade e quantidade dos mesmos. É também oferecido o serviço de “matchina das delegações comerciais. mediante registo prévio”, em que os participantes poderão, dentro do horário estabelecido, realizar bolsas de contactos com 05 membros das delegações comerciais.
Vai ser criada uma comissão de consultores internacionais na área de exposições, que vai integrar individualidades de grande prestígio, oriundas dos Estados Unidos, Alemanha, Portugal, Hong Kong, Taiwan e Singapura. Com o objectivo de recolher opiniões e partilhar experiências na organização de grandes eventos.
– Como classifica as relações comerciais com os país de língua portuguesa?
– Neste momento, as relações comerciais e diplomáticas entre a China-Macau e os países de lfngua portuguesa são as melhores da história contemporânea. O papel de Macau neste contexto é muito elevado e notável.
Ao nível dos contactos institucionais e entre governos a situação está mais avançada do que em termos comerciais .
É preciso reforçar o relacionamento empresarial.
É compreensível que assim seja, dada a estrutura da economia de Macau e a capacidade de intervenção dos seus agentes económicos. Os empresários de Macau precisam de compreender melhor a estratégia delineada pelos Governos de Macau e de Pequim. Têm de planear melhor a sua actividade e alinhar com os colegas do Continente e dos países de língua portuguesa.
Apesar destas dificuldades, o volume de transacções comerciais e o investimento tem aumentado.

Macau tem de mudar

 

– Como é que os empresários de Macau têm respondido aos novos desafios, tendo em conta a forte concorrência mundial e a necessidade de diversificar o tecido económico…
– Macau está a mudar e tem de mudar, já que a globalização obriga as empresas locais a reagir e a encontrar soluções para a forte concorrência que enfrentam. Hoje vivemos numa aldeia global e as empresas tradicionais estão a sentir as alterações.
Começa a existir uma nova geração de empresários, que aposta em outras formas de trabalho.
A indústria de mão-de-obra intensiva tem-se deslocado para os locais, onde a mão-de-obra é mais barata. É um processo irreversível. que ninguém pode vencer.
Hoje o conceito empresarial é totahnente diferente. Uma empresa pode ter escritórios em Macau, o escritório de compras no Vietname e a unidade de produção na China. É a chamada globalização, a que os empresários de Macau também têm que se adaptar.
– E isso está a suceder …
– Não tão rapidamente como todos desejamos, mas há sinais evidentes de que algo está a mudar. O número de empresas nas acções de promoção no exterior está a aumentar. A sua participação é mais activa, o que revela que os empresários locais estão interessados em aproveitar as oportunidades que vão surgindo.
– O CEPA tem sido bem aproveitado?
-Em número absoluto não há muitos casos, mas algumas empresas têm tirado partido das vantagens que o acordo oferece. As exportações de mercadorias e serviços para o Continente têm aumentado. O Setembro. 2007 mais importante, é que foi criado um enquadramento de cooperação económica com o Continente …
Há ainda muito a fazer, já que muitos empresários continuam a olhar para os mercados tradidonais (Estados Unidos e Europa) e outros optaram pelos países asiáticos.
– Está sarlsfelto com o desenvoMmento do parque industrial tran$(r’onteiriço?
– Os resultados são muito satisfatórios, pois o parque está já lotado, uma parte das unidades fabris já se encontra a laborar.
A torrefação de café de Vasco Pereira Coutinho, o maior investimento português em Macau nos últimos anos, tem o inído de actividade previsto para o próximo ano.

Diversificação é um desafio

 

– A captação de Investimento está quase toda ligada ao sector do jogo …
– Os números das outras áreas, embora reduzidos, vêm crescendo gradualmente e muitos investidores do exterior continuam a criar empresas em Macau noutros sectores, como trading, convenções e feiras, transporte aéreo, serviços e media.
– O sector das convenções e feiras pode sobreviver sem o jogo…
– A curto e médio prazo, não, e não faz sentido desligá-lo totalmente do jogo.
Macau deve, de resto, aproveitar as vantagens que o jogo lhe proporciona para atrair exposições e congressos. A longo prazo, o sector pode gradualmente começar a ter autonomia de sobrevivência.
A economia de Macau não pode depender de um único sector. A diversificação é uma tarefa, um desafio para Macau.
– Há meios humanos para desenvolver a área das convenções?
– O Governo e os privados têm feito grandes esforços na área da formação, mas é evidente que há falta de recursos humanos, em qualidade e quantidade.
Tenho que reconhecer que o desenvolvimento deste sector e da economia em geral tem sido muito acelerado. A pressão sobre os agentes económicos é elevada. O ritmo de crescimento que Macau está a atravessar excede o quadro legal, o ambiente de negócios e os hábitos.
No entanto, estou confiante que os operadores vão rapidamente adquirir conhecimentos, desenvolver experiências e colocá-las em prática, elevando assim a sua competitividade.
– O IPIM tem pessoal suficiente para desenvolver as funções que lhe estão atribuídas?
– Quando assumi a presidência do IPIM, em 1999, o número de funcionários ultrapassava ligeiramente a meia centena.
Gradualmente o mesmo foi aumentando, atingindo mais de uma centena. O número de funcionários vai aumentar nos próximos tempos, mas não será um crescimento significativo.
Vamos, entre outras tarefas, reforçar o serviço de apoio às pequenas e médias empresas. O IPIM não existe para promover relações diplomáticas, Ja que há outras entidades que têm essas responsabilidades. O IPIM tem que servir os empresários e as empresas de Macau e auxiliar os empresários e as empresas do exterior a apostar na RAEM.
– A fixação de residência continua a ser uma “dor de cabeça” para o IPIM? Quantos processos aguardam aprovação?
– No último ano, o IPIM recebeu um total de 3096 novos pedidos de fixação de residência, mais 221 casos do que no ano anterior. Os pedidos com fundamento na aquisição de imóveis foram 2337, menos 127 pedidos do que no ano anterior.
O Governo suspendeu em Abril a fixação de residência por investimento na compra de imóveis. No IPIM há, no entanto, mais de 3000 pedidos em lista de espera.
Temos marcações até Novembro do próximo ano.

50 empresas portuguesas na MIF

 

Com o apoio da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEPPortugal Global) e das principais associações comerciais de Portugal, a MIF tem atraído, todos os anos, empresários lusos para exporem os seus produtos e a tecnologia de Portugal, além de bolsas de contactos. Em Fevereiro deste ano, o IPIM, a Associação de Convenções e Exposições de Macau, a Associação de Comércio e Exposições de Macau e a Associação das Companhias e Serviços de Publicidade de Macau, o ICEP Portugal – actualmente AICEP Portugal Global, a Associação Industrial Portuguesa – Confederação Empresarial (AIP-CE), a Associação Empresarial de Portugal (AEP), subscreveram um acordo de intenções relativo à cooperação no sector de convenções e feiras.
Em 2007, a dimensão do “Pavilhão de Portugal” será significativamente ampliada, de forma a constituir uma das principais atracções do evento. Mais de 50 empresas lusas vão marcar presença no certame.