A maior agência de notícias do mundo

Verdade objectividade, imparcialidade e prontidão. São estes os princípios essenciais da linha editorial da Agência de Notícias Xinhua. Este órgão de informação, que nasceu há mais de 70 anos com o nome China Vermelha, está hoje presente em todo o mundo
A maior agência de notícias do mundo

Tudo começou em 1931 com o nome de China Vermelha. Mao Zedong liderava o Partido Comunista Chinês. numa altura em que o país vivia momentos de grande turbulência com a invasão nipónica da Manchúria.
Foi neste contexto que Mao Zedong entendeu ser necessário criar uma agência noticiosa capaz de divulgar informações sobre a luta de libertação. Nascia assim. a Agência de Notícias China Vermelha no distrito de Ruijin a Leste da Província de Jiangxi.
Em Janeiro de 1937, a agência muda de nome. Passa a chamar-se Xinhua, o que quer dizer “Nova China”. Nome que se manteve inalterado até hoje. Mas apesar da denominação se manter. tudo o resto é diferente nesta agência de notícias que se assume actualmente como uma das mais importantes organizações do género a nível mundial.
De simples agência noticiosa doméstica, a Xinhua evoluiu para se transformar numa grande produtora mundial de conteúdos num ambiente multilingue. A Xinhua produz actualmente informação em oito línguas. disponivel no website (www.xinhuanet.com) e através de subscrição, e publica 40 diferentes títulos entre jornais e revistas.
O processo de modernização da agência está longe de concluído. O presidente da Xinhua, Tian Congming, anunciou recentemente que a agência está Ua integrar gradualmente os recursos noticiosos e informativos, a modificar as componentes dos produtos noticiosos e informativos com o objectivo de aumentar a qualidade e garantir aos clientes um melhor serviço e apoio técnico”.
Mas as ambições da Xinhua vão mais longe. A palavra de ordem nos últimos anos tem sido de criar uma verdadeira agência de notícias à escala global, algo em que todos os funcionários se encontram empenhados. O projecto tem já resultados visíveis: uma simples busca no motor da Internet Goosle mostra que as notícias produzidas pela Xinhua surgem inevitavelmente no topo dos resultados.
Dois momentos históricos marcam a evolução da Agência Xinhua. O primeiro, a fundação da República Popular da China em 1949, que permitiu à Xinhua afirmar-se como agência oficial a nível nacional. Foi a partir dessa altura que a agência começou a expandir os seus serviços. O segundo, o lançamento da política de abertura e reforma em 1978.
que constituiu o mote para a crescente internacionalização da cobertura noticiosa.

Colosso mundial

 

A Agência Xinhua tinha no final de 2005 cerca de 8400 trabalhadores, dos quais 1900 eram jornalistas a trabalhar na sede e dezenas de delegações a nível nacional e internacional. Estes são números que colocam a Xinhua como a maior agência de Notícias do Mundo.
No quartel general da Xinhua, situado no centro de Pequim, funcionam os departamentos de notícias nacionais, notícias internacionais, notícias nacionais para clientes estrangeiros, notícias de referência, fotojornalismo. notícias desportivas, difusão de informação, notícias on-line e de informação.
A Xinhua tem também delegações nas 31 províncias assim como nas regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong. Existem também escritórios nas 50 cidades mais importantes da China, contando a agência também com uma vasta presença internacional.
A Agência Xinhua é um dos órgãos de comunicação social mais conceituados na China. É nesta agência que trabalham os melhores recém licenciados em jornalismo das universidades de Pequim.

Xangai e Nanquim. O recrutamento é feito nas próprias universidades, onde são identificados os alunos com maior potencial.
Mas a entrada nos quadros da agência está longe de ser fácil. uma vez que o acesso só é possível a quem passar os exames escritos e uma exigente entrevista conduzida pelos editores da secções nacional e internacional.
A carreira de jornalista na Xinhua é considerada das mais aliciantes pelos candidatos, uma vez que permite a colocação nas delegações no estrangeiro.
Além da produção de notícias para Setembro, 2007 outros órgãos de comunicação social, a Xinhua é também responsável pela produção de dossiers que condensam o essencial da informação e que se destinam a ser lidos pelos dirigentes nacionais.
Outra das missões da Xinhua é a gestão do acesso à informação, produzida por agências estrangeiras, por clientes chineses. Legislação publicada em Setembro de 2006 determina que cabe à agência decidir que informação pode ser publicada e em que condições. Assim, a Xinhua pode impedir a divulgação de informação que ponha em causa os princípios da Constituição da República Popular da China, viole a unidade, a soberania e a integridade territorial da China, que coloque em risco a segurança, a reputação e os interesses nacionais, entre outros.

 

Xinhua em Macau

 

A delegação da Xinhua em Macau teve, até 1999, funções que iam muito além de uma mera agência de notícias.
Assim, durante a fase final da administração portuguesa a agência funcionou como representação diplomática de Pequim, uma vez que à luz dos acordos internacionais assinados pela China e Portugal, Macau era reconhecido como território chinês sob administração portuguesa, o que impossibilitava a instalação de uma embaixada ou consulado.
O papel duplo da Xinhua era reconhecido pela administração portuguesa e a agência assumia a função de porta-voz do Governo Central sempre que havia necessidade de tomar posições quanto a temas locais ou facilitar o diálogo entre as forças locais e o Governo Central.
Esta dupla função perdeuse logo após a transferência de administração, em 20 de Dezembro de 1999, com a separação das duas funções e a criação do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na Região Administrativa Especial de Macau e da Delegação de Macau da Agência de Notícias Xinhua.

Processo semelhante foi vivido em Hong Kong que em 1 de Julho de 1997, foi reintegrado na nação chinesa.
A Xinhua celebrou em Janeiro passado 70 anos de vida com a actual identidade. Mas a verdade é que esta agência noticiosa tem já uma história de 76 anos vividos em torno do lema “Verdade, Objectividade, Imparcialidade e Prontidão” que consagra os princípios essenciais do trabalho desenvolvido desde 1931.

 

Português entre oito

 

O Português é uma das oito línguas usadas na produção de notícias na Agência Xinhua. Além da língua portuguesa, a Xinhua tem serviços em chinês, inglês, francês, russo, espanhol, japonês e árabe.
Para Xue Yongxing , director da delegação Ásia Pacífico sedeada em Hong Kong, a introdução de serviços em língua portuguesa “mostra que a Xinhua dá grande importância à cooperação com Portugal e os Países de Língua Portuguesa em todo o mundo”.
Actualmente trabalham no serviço em língua portuguesa cerca de 20 pessoas. “Nos últimos anos, para reforçar o serviço em língua portuguesa reunimos estes funcionários, que estavam dispersos por diferentes departamentos, num único gabinete”, afirma Xue Yongxing, que lembra também que a agência tem delegações em quase todos os países de língua portuguesa com um ou dois correspondentes residentes.
A aposta no serviço português é justificado pelas “boas relações políticas e económicas” que Pequim mantém com estes estados.
É também esse o motivo que levou a Xinhua e o Jornal Tribuna de Macau a assinar um protocolo de cooperação em Maio passado.
O acordo prevê a troca de notícias e informação, mas também a formação em Macau de estagiários enviados pela sede em Pequim.
Para Xue Yongxing o protocolo é “benéfico para ambas as partes, pois permite incrementar a troca de informações e a Xinhua pode oferecer aos países lusófonos e a Macau mais notícias da China Continental, e vice-versa.
Macau tem funcionado com plataforma entre a China e os países lusófonos em várias áreas e, com este acordo, pode desempenhar o mesmo papel ao nível da cultura e do jornalismo”, defende Xue Yongxing.
Para Rocha Dinis, director do Jornal Tribuna de Macau, a presença na RAEM de estagiários chineses da Xinhua vai permitir “ajudar a Xinhua a impor esse serviço que é dirigido aos países luso-falantes e aproximar os continentes”. Rocha Dinis lembrou também que historicamente Macau tem desempenhado um papel de “ligação entre o Oriente e o Ocidente, China e Portugal”.
As ligações da Xinhua a órgãos de informação de língua portuguesa datam de 1976, ano em que foi estabelecido o primeiro protocolo entre a agência chinesa e a Agência Lusa sedeada em Lisboa. Xue Yongxing diz agora que existe um maior interesse em “reforçar a cooperação” com organizações de comunicação social nos países de língua portuguesa.

Agência oficia dos Jogos Olímpicos

 

A Xinhua será a agência oficial dos Jogos Olímpicos de Pequim, que vão decorrer em Agosto de 2008. Além da produção e difusão de notícias, a Xinhua vai ser também responsável pelo serviço fotográfico.
O acordo foi assinado em Outubro do ano passado e atribui à agência o papel de “Host News Agency”. O vicepresidente da Xinhua, Ma Shengrong, prometeu todo o empenhamento na cobertura das 29a Olimpíadas da Época Moderna.
“A Xinhua vai formar um corpo de elite com os melhores jornalistas e editores para garantir a cobertura noticiosa e fotográfica total dos Jogos Olímpicos e, em particular, dos atletas chineses para os meios de comunicação social chineses”, refere Ma Shengrong.
“Como Host News Agency, a Xinhua compromete-se a fornecer aos órgãos de comunicação social toda a assistência necessária”, adianta o vice-presidente.

Presente em 110 países

 

Nasceu como agência nacional, mas hoje a Xinhua tem os seus serviços espalhados por todo o mundo.
A primeira experiência de internacionalização da Xinhua deu-se em 1944, ano em que começou a produzir conteúdos em inglês. A primeira delegação no exterior foi aberta em 1948.
Actualmente a rede de delegações e correspondentes da Xinhua cobre todo o planeta. Na dependência directa da sede em Pequim estão cinco escritórios regionais. A Delegação Regional para a Ásia e o Pacífico, está sedeada em Hong Kong; a Delegação Regional para a América Latina localiza-se na Cidade do México; a Delegação Regional para a África, fica em Nairobi; a Delegação Regional para o Médio Oriente tem sede no Cairo, e a Delegação Regional para os Países Francófonos, sedeada em Paris. Além disso, a Xinhua possui redacções em Nova Iorque e Moscovo e delegações em cerca de 110 países e regiões do mundo.
A Agência Xinhua produz informação 24 horas por dia em oito idiomas: chinês, inglês, francês, espanhol, árabe, russo, japonês e português. No serviço em língua chinesa são produzidos diariamente cerca de 600 mil caracteres. O noticiário da Xinhua, em média mil textos diários, inclui notícias nacionais e internacionais, sendo que 70 por cento são temas internacionais e 30 por cento são notícias da China.
Desde Novembro de 1997, a Agência Xinhua começou a distribuir oficialmente na Internet (http://www.xinhua.org) as notícias da China e de todo o mundo, nas várias línguas em que produz informação.
Actualmente, a Agência Xinhua emite também, através da Internet, noticiário, fotos, informações económicas, banco de dados sobre informações sintetizadas da agência, e informações sobre acções e produtos futuros nas bolsas de valores, em chinês, inglês, espanhol, francês, russo, árabe e português. Além da Internet, a difusão do serviço da Xinhua é feita também através de satélite e linha telefónica, disponível para clientes registados.

Disponível on-Iine

 

Centro de notícias: fornece notícias sobre a actualidade doméstica e internacional, abordando temas como a polftica, economia, diplomacia, desporto, entre outras. Actividades da liderança: cobertura das actividades do Partido Comunista Chinês e dos dirigentes nacionais a nível doméstico e internacional. Mudanças governamentais: a Xinhua tem o exclusivo na divulgação de informações sobre mudanças no Governo da República Popular da China a nível central e provincial. Fórum Xinhua: um dos mais influentes fora de discussão sobre questões da actualidade nacional e internacional. Governo electrónico: divulgação de novas políticas e regulamentos do governo central, dos governos provinciais e locais. Universidades on-line: divulgação das actividades das mais conhecidas universidades chinesas com a cobertura dos principais acontecimentos académicos a nível nacional. Empresas on-line: fornece informação sobre empresas, mercados e produtos chineses. Zonas de desenvolvimento on-line: divulgação de informação sobre as zonas de desenvolvimento tecnológico e zonas económicas especiais da China, contribuindo para a atracção de investidores.

Alargar a actuação no Brasil

 

A Xinhua planeia alargar a sua actuação no mercado brasileiro, por meio da contratação de jornalistas locais e da criação de um serviço em português, com uma média diária de oito notÍCias, revelou à revista .[lI o responsável pela agência noticiosa chinesa no Brasi!.
Yang Limin disse que o objectivo será aumentar o número total de notícias produzidas pela equipa da agência no Brasil e passar a transmiti -las directamente das delegações brasileiras para o serviço em português da Xinhua.
“Como o Brasil é um parceiro estratégico da China e as relações económicas e comerciais entre os dois países estão a intensificar-se, a Xinhua presta muita importância e trabalha para contribuir para o conhecimento mútuo entre os dois povos’, afirma Yang Limin.

Criado em 1995, o serviço em português da Xinhua conta actualmente com cerca de 50 notas diárias, traduzidas em Pequim a partir do noticiário em chinês, inglês e espanhol, sendo distribuído aos países de língua portuguesa via Internet, após o pagamento de um valor simbólico.

A Xinhua iniciou a sua actuação no Brasil, em 1961, com a abertura de uma delegação no Rio de Janeiro, mas três anos depois foi obrigada a encerrar as suas actividades, após o golpe militar que derrubou o então presidente João Goular!.
Nos anos 70, com a retoma das relações diplomáticas entre o Brasil e a República Popular da China, a agência noticiosa  chinesa regressou ao Brasil, com a abertura de uma delegação em Brasília.
Desde 1987, a Xinhua mantém duas delegações no Brasil, uma cm Brasília e outra no Rio de Janeiro, actualmente com um total de cinco correspondentes, além de seis jornalistas contratados localmente, nota Yang Limin.
“Temos planos de contratar mais repórteres locais, nomeadamente em São Paulo, onde ainda não temos delegação, e ampliar a nossa cobertura também para outras áreas, como financeira e científica, acrescentou.
As delegações da Xinhua no Brasil enviam actualmente para Pequim uma média diária de cinco notícias em chinês, 12 em espanhol e três em inglês.
“Cobrimos todas as áreas de interesse jornalístico, tais como política, economia, educação, cultura, desporto, ciência e tecnologia, a vida dos brasileiros e as relações bilaterais entre a China e o Brasil”, salientou.

Marco Antinossi

Jornalista da Lusa, no Brasil