De portas abertas

A recentemente reeleita presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Améia António, defende a alteração dos estatutos no sentido de ela passar a acolher no seu seio, em condições especiais, elementos de outras comunidades
De portas abertas

Reeleita no passado mês de Junho, Amélia António, advogada com uma carreira de 25 anos em Macau, refere que “os estatutos (da associação) estão feitos exclusiva para a comunidade portuguesa”. Uma lacuna que entende ser necessário colmatar. Basta ver, diz, o interesse cada vez maior manifestado pela comunidade chinesa e por outras comunidades nas actividades da Casa.
A tarefa não é fácil, reconhece. A abertura a essas comunidades implica uma aposta nas traduções – para as línguas chinesa ou inglesa, pelo menos – e isso acarreta custos elevados. “Mas é uma das coisas que quero fazer”, assegura.
Neste sentido, uma das hipóteses que sugere é a criação de uma figura, nos estatutos, “que enquadre os não portugueses”, não os fazendo sócios de pleno direito – para “não desvirtuar a função” da Casa -, mas permitindolhes um contacto mais próximo com a associação.
Um pouco à semelhança da actual figura dos “amigos” da CPM, cuja lista integra tanto nomes de peso nos livros de História, como Xanana Gusmão, como o casal de industriais que cedeu a sede provisória da associação, antes do Executivo lhe atribuir a actual. no n° 28 da Rua Pedro Nolasco da Silva.
Aberta agora das dez da manhã às oito da noite – para tentar facilitar a vida aos sócios que trabalham -, a sede da CPM pretende ser, segundo Amélia António, “um local de convívio”. Para isso, as instalações incluem uma televisão – frente a um ecrã gigante, recorda, muitos portugueses viveram as emoções dos jogos do Mundial de Futebol de 2006, madrugada adentro -, computadores com ligação gratuita à Internet, sala de leitura onde alguns sócios passam para ler o jornal do dia e ainda salas de aulas para os cursos de formação, organizados sobretudo na área das novas tecnologias.
Porque “o importante é o colectivo, Amélia António não tem dúvidas na mensagem que quer passar.

Uma associação com seis anos

 

Mais de 400 anos depois de os portugueses terem pisado pela primeira vez a Cidade do Nome de Deus e volvidos quase oito desde a transferência de poderes do território para a China, a comunidade lusitana, embora minoritária, parece continuar a dar que falar em Macau. Em menos de uma década de existência, a história da Casa de Portugal na RAEM confunde-se com a do sucesso dos jovens atletas que forma, dos cursos que dá, do trabalho dos artistas que divulga.
Há tri-campeões nos Barcos-Dragão e escolas de patinagem, há conferências e workshops e há até prémios para incentivar os mais novos a cultivar a língua de Camões.
Como conta Amélia António, a associação nasceu pouco tempo depois do regresso do território à mãe pátria. Corria o final do ano de 2000, princípios de 2001, e muitos portugueses residentes na RAEM tinham ainda algum receio do que poderia vir a ser o seu futurana Região.
Por isso, decidiram unir-se para manter viva a presença lusitana, ‘preservando a identidade da comunidade e o seu património cultural” e servindo de interlocutor permanente e privilegiado para os seus problemas específicos mas também “cooperando com as associações representativas da comunidade chinesa e de outras comunidades residentes”, como se lê nos seus estatutos. A associação viria a ver formalmente a luz do dia a 1 de Junho de 2001.
Tendo como presidente da primeira direcção João Costa Antunes – director dos Serviços de Turismo -, começaram por dar vida à Casa cerca de 500 sócios. Hoje, as estatísticas dão conta da existência de quase 800. Mas os números enganam, alerta a advogada, estimando-se que cerca de 200 pessoas tenham entretanto deixado Macau.
Na lista dos benefícios dos sócios somam-se descontos em várias entidades do território, mas também o usufruto de preços especiais – ou nalguns casos isenções – nas actividades desenvolvidas pela CPM.
E iniciativas não faltam.

Actividade multifacetada

 

Só nos primeiros seis meses do corrente ano a CPM organizou a projecção de filmes e documentários, trouxe concertos com direito a recolha de fundos para ajudar Timor-Leste, montou exposições e festejou datas especiais, do “25 de AbrW ao São João. No campo das actividades anuais, espaço ainda para a atribuição do prémio CPM, destinado a recompensar os melhores alunos do ensino secundário na disciplina de Língua Portuguesa – um concurso que já viu o prémio pecuniário aumentar para as três mil patacas por aluno e que a presidente espera vir a ver ser estendido aos estudantes do ensino superior, já no próximo 5 de Outubro.
A tudo isto, soma-se o desporto. Porque, como sublinha Amélia António, é importante apoiar os jovens – muitos deles “longe do contexto familiar” alargado -, a CPM tem investido tempo e meios na promoção das actividades desportivas e na formação de novos atletas capazes de representar a RAEM nas competições regionais e internacionais.
No currículo da equipa de hóquei em patins, conta a presidente, já constam “n”vitórias.
Mesmo a nova equipa feminina – única na RAEM e por isso sem ninguém com quem competir no território – viu no ano passado a hipótese de participar no campeonato em Macau, mediante um acordo que obrigava as equipas masculinas dos vários clubes a integrar duas atletas durante a competição.
Além do hóquei, há ainda uma equipa de basquetebol, outra de bolinha, outra de futebol e a famosa escola de Barcos-Dragão, que já deu à equipa da CPM três títulos de campeã. Mas Amélia António quer ir mais longe. A criação de uma escola de natação e a formação de uma equipa feminina de basquetebol são dois dos objectivos do seu segundo mandato à frente da associação.
Reeleita no mês passado, a advogada quer rever os estatutos, de modo a que permitam, por exemplo, a entrada de sócios com menos de 18 anos – “para ganharem o gosto pela vida associativa” e rejuvenescer os membros.
A revisão passa ainda por incluir no documento uma alusão à Casa também enquanto grupo desportivo já que, lamenta, a falta desta formalidade pode gerar problemas nos pedidos de subsídios ao Governo.
Mas o que interessa, sublinha Amélia António, em jeito de conclusão, “é fazer chegar às pessoas que a comunidade portuguesa existe, está activa e tem valores”.