Reserva para a diversidade

O arquipélago dos Bijagós foi classificado pela UNESCO como reserva ecológica da biosfera, devido à sua diversidade de ecossistemas. O seu isolamento, em termos de transportes e desenvolvimento, acaba por ser uma vantagem, mantendo-se a natureza intocada, com uma fauna e uma flora difíceis de encontrar noutros pontos do planeta

 

Situado ao largo da costa da Guiné-Bissau, em frente à foz do rio Geba, o arquipélago dos Bijagós, com quase 90 ilhas, permanece protegido da vertiginosa prospecção turística que se regista em outras partes do mundo.

Em estado virgem, os únicos indícios de civilização apenas se notam na ilha de Bolama, cuja cidade com o mesmo nome antecedeu Bissau como capital do país, e na ilha de Bubaque, onde está concentrada a maior parte dos 27 mil habitantes deste arquipélago do continente africano.

Classificado pela UNESCO como reserva ecológica da biosfera, devido à diversidade de ecossistemas, que vão desde as florestas húmidas às savanas, é também possível encontrar neste arquipélago hipopótamos (última reserva de água salgada), tartarugas gigantes, golfinhos e bandos de flamingos, que aproveitam o sossego das paisagens para garantir a sobrevivência da espécie.

Este santuário permanece intocável devido à situação política da Guiné-Bissau e à não entrada de investimento estrangeiro, bem como à falta de acessibilidades, que impedem o desenvolvimento do arquipélago, mas também devido à falta de acessibilidades.

O isolamento dos Bijagós deve-se em muito às dificuldades que existem para chegar às ilhas. A travessia das águas é garantida pelas pirogas ou pelas lanchas que podem ser alugadas por cerca de 500 euros, e também pelo Expresso Bijagós, um ferry-boat a operar desde Junho, que faz a ligação entre Bissau, capital da Guiné-Bissau, e Bubaque, considerada a capital do arquipélago.

Estas viagens são, contudo, arriscadas, principalmente na época das chuvas (entre Maio e Outubro) pela falta de segurança existente. Estes meios de transporte, na sua maioria, não têm forma de comunicar com terra, caso fiquem presos num banco de areia ou sem rumo devido às fortes correntes ou alterações nas marés. Por outro lado, a intervenção da Marinha guineense está sempre condicionada ao estado do mar.

Apesar dos riscos, vale a pena apanhar um qualquer meio de transporte marítimo e visitar as ilhas e conhecer os seus habitantes, os bijagós, uma das etnias guineenses que mantém o seu estado cultural mais preservado. Exímios escultores, pescadores e dançarinos, os bijagós continuam a manter as tradições da etnia, quer na forma como vivem e vestem, quer na prática dos seus rituais sagrados, como é o caso da realização do fanado (passagem para a idade adulta) e das cerimónias de cura.

Uma das razões apontadas para a conservação dos rituais das curandeiras é a falta de médicos no arquipélago, onde apenas existe um para todos os habitantes.

Os rituais que os habitantes dos Bijagós conservam acabam também por permitir proteger as espécies que ali se encontram, porque a maior parte das ilhas é considerada sagrada.

Segundo os rituais, nas ilhas sagradas o solo não pode pertencer a ninguém e, como tal, ficam desertas, proporcionando aos animais verdadeiros refúgios para garantir a sobrevivência das espécies.

O exemplo desta protecção está no ritual existente para observar as tartarugas gigantes, consideradas sagradas pelo bijagó por desovarem em solo sagrado. Para as conseguir, os turistas têm de se submeter a um ritual na ilha de Canhabaque (antiga ilha Roxa na época colonial), caso contrário, ou não conseguem encontrar as tartarugas ou a ilha.

Verdade ou não, são inúmeros os relatos de pessoas que não cumpriram com o ritual e que não viram as tartarugas…

Além da fauna e da flora, o arquipélago dos Bijagós é dono de longas extensões de areia ponteadas por palmeiras que oferecem frescas sombras para os amantes da praia.

Com fraca procura, já que a relação dos locais com o mar passa apenas pela pesca, os banhistas apenas têm como companhia manadas de vacas, que gostam de descansar, durante o dia, próximo das águas do mar, mas que são inofensivas.

Mais ofensivas são as raias existentes em grande quantidade nas areias das praias, aconselhando-se o uso de chinelos ou sandálias de borracha para entrar nas águas.

Segundo os bijagós, que não apresentam nenhuma explicação, as raias não mordem as mulheres, mas vale mais prevenir e utilizar uma protecção para os pés.

Rubane, Bubaque, Orango, João Vieira e Quéré são algumas das ilhas que dispõem de unidades hoteleiras para quem quer visitar os Bijagós.

O arquipélago ainda não tem electricidade pública e água canalizada e os estabelecimentos comerciais são inexistentes. Os restaurantes apenas podem ser encontrados nos hotéis.

Algumas ilhas estão tão distantes do século XXI que ainda funcionam com o sistema de troca directa.

O distanciamento e o isolamento têm, no entanto, tornado o arquipélago numa tentação para narcotraficantes, que tentam utilizar as suas ilhas como placa giratória para os seus negócios ilícitos, ou como ponto de saída para a emigração clandestina, com destino a Europa.

Apesar de alguns riscos, visitar o arquipélago dos Bijagós é como entrar na máquina do tempo e recuar milhares de anos na nossa história. Conhecer os Bijagós é termos a possibilidade de perceber a nossa evolução enquanto seres humanos.

 

* Jornalista da Lusa, na Guiné-Bissau

 

Do Palácio do Governo à primeira barragem

 

A  China e a Guiné-Bissau iniciaram relações de cooperação nos anos 60, quando o país africano iniciou a sua luta pela independência.

Estas relações só foram suspensas por algum tempo durante os anos 90, quando a Guiné-Bissau realizou acordos de cooperação com Taiwan.

Nos finais nos anos 90, Pequim voltou a restabelecer relações com a Guiné-Bissau, tendo actualmente vários projectos em curso no país.

Além do sector da educação, a China coopera com a Guiné-Bissau nos domínios da agricultura, da saúde e da construção de infra-estruturas públicas.

Além do Palácio do Governo, edifício que vai começar a ser construído ainda durante este ano, a China está a avaliar as possibilidades de recuperar o Palácio Presidencial, destruído durante a guerra civil na Guiné-Bissau.

O Governo chinês foi também responsável pela construção da Assembleia Nacional Popular guineense.

Técnicos chineses trabalham actualmente na recuperação de unidades militares na capital guineense, Bissau, e na construção de residências para os oficiais das Forças Armadas.

A China anunciou também, recentemente, a disponibilidade para construir a primeira barragem da Guiné-Bissau, no leste do país, um projecto orçado em mais de 60 milhões de dólares norte-americanos.