O acto de pintar está-me no sangue

Não existe mais do que uma mão cheia de noruegueses em Macau. Um deles chama-se Catherine Bjerke Herédia, que responde em português com um ligeiro sotaque. Filha de uma portuguesa e de um norueguês, vive em Macau há 15 anos e acaba de iniciar duas novas carreiras: decoradora/agente imobiliário e pintora. Ainda hoje, quando pensa na família e depois de mais de dez anos “fora”, tem vontade de chorar. Catherine tem seis irmãos e 21 sobrinhos.

 

De onde veio a veia artística que tem manifestado nas recentes exposições, colectivas e individuais?

 

Não sou uma profissional da pintura, não tenho o curso, mas o meu pai e avô são arquitectos, a minha mãe e tias pintam, uma dela é pintora profissional. O acto de pintar está-me no sangue.

 

Tem três filhos pequenos, trabalha e pinta. Como coordena tudo isso?

 

Antes de mais começo o dia com um jogging. Depois é que vou trabalhar. Decoro apartamentos, trabalho numa empresa que se encarrega da sua gestão, venda e aluguer. Não é um trabalho das nove às cinco, mas gosto imenso. Pinto em casa, por vezes com os meus filhos, que me dão as suas opiniões e comentam o meu trabalho. Há tempo para tudo.

 

Se pudesse dedicava-se apenas à pintura? Como define o seu trabalho?

 

Hoje em dia penso que poucos conseguem viver só da pintura. Se pudesse dedicava-me só a ela.

Pinto o que me apetece no momento. Não atribuo a inspiração a nenhum momento especial. Por vezes sigo sugestões, arrisco outras cores, muitas vezes frente à tela não tenho nada em mente e começo a pintar.

 

Como vê o panorama artístico local?

 

Penso que Macau oferece boas condições para quem gosta de pintar e quer fazê-lo. Há instituições que dão apoios, como o Centro de Indústrias Criativas, e permitem uma maior dedicação à arte. Mas há espaço para mais. No entanto, se uma pessoa quer aventurar-se nesta área Macau é seguramente um local onde isso pode acontecer.

 

Como veio parar a Macau?

 

Vim a Macau pela primeira vez em 1989, a minha irmã, que estudava mandarim em Oslo, escolheu vir para Macau estudar os arquivos históricos locais. A dado momento necessitou de ajuda e eu vim dar-lhe uma mão. Foi quando conheci o meu marido. Dois anos depois estava em Macau definitivamente e casada.

 

Gostou do que viu?

 

Não havia nada aqui! Gostei de sentir as diferenças culturais, a comida era tão diferente, a vida em geral era diferente da Europa. Mas adaptei-me rapidamente, porque desde pequena que tenho essa facilidade. Quando era nova, e fiz isso durante 15 anos com a minha família, todos os anos íamos da Noruega para Portugal passar dois meses de férias, e íamos de carro com uma caravana atrelada! Os sete irmãos, os meus pais e a empregada. A viagem durava no mínimo quatro dias! Era fantástico, passávamos por tantos sítios. Depois, quando os bilhetes de avião começaram a ser mais acessíveis, começámos a viajar de avião.

 

O que diria a alguém que pensa instalar-se cá?

 

A quem vem a Macau pela primeira vez aconselho abertura de espírito e disposição para aceitar o que é diferente. Sugeria também que tente aprender a língua e a história de Macau. Isso é muito importante, conhecendo-a permite-nos entender melhor a vida local, o espaço.

 

O que pensa da Macau de hoje em dia?

 

A vida em geral está muito mais cara, dentro de cinco anos não haverá espaço para tanta gente que está constantemente a chegar! Já não é a cidade tranquila, encontra-se de tudo hoje em dia, há mais opções, mais saídas, mais coisas para fazer, atracções. Enfim, muito mais movimento.

 

O seu trabalho leva-a a conhecer muita gente?

 

Muita mesma! Desde australianos, a britânicos, americanos, chineses, de Hong Kong e Singapura também, gente de todo o mundo. Até portugueses que compraram cá apartamentos como investimento, mas que não vivem cá. Na empresa estão dois chineses, uma inglesa, duas australianas, uma portuguesa e eu. Isso prova como a cidade se está a expandir em termos de variedade humana.

 

Macau ou Oslo?

 

Macau, para já, Macau.