Tam Iao San “Quero ser treinador profissional”

Não nasceu em Macau, mas cedo vestiu a camisola da RAEM. Jornalista desportivo no Canal Chinês da TDM, Tao Iao San é também o nome de que se fala no futebol do território. Campeão com o Monte Carlo, o treinador-jornalista explica como equilibra as lides da bola, de um e do outro lado do ecrã

 

O que apareceu primeiro? A paixão pelo futebol ou a paixão pelo jornalismo?

Cheguei a Macau com a minha família quando tinha sete anos e tive a sorte de me estrear pela selecção escolar, num Interport com Hong Kong, aos doze. Fui dos poucos da minha geração a vestir a camisola de Macau nas escolas, nos juniores e nos seniores. Antes de equacionar uma carreira no jornalismo, eu era já um futebolista. Na universidade estudei Inglês e Comunicação e fiz um mestrado em Jornalismo. Entrei na TDM em Setembro de 1999 para um estágio e Tam Kai Ho, director do Departamento de Informação do Canal Chinês, reparou na ligação que tinha ao desporto e colocou-me na secção desportiva. Esse foi o primeiro passo. Integrei a TDM de forma efectiva pouco depois, já lá vão oito anos.

Como é que o jornalista Tam Iao San se refere a Tam Iao San, treinador de futebol?

Nunca menciono o meu nome nas notícias e nas reportagens que faço para a televisão. Mesmo quando jogava e marcava um golo, não dizia “O golo foi marcado por Tam Iao San”. Arranjava sempre uma forma de contornar a questão, dizia qualquer coisa como “a equipa A inaugurou o marcador numa belíssima combinação ofensiva”. Tenho a perfeita noção de que tenho a obrigação de ser objectivo no trabalho que faço.

É fácil aliar as duas coisas? O futebol e a televisão?

Em termos de tempo e de dedicação, tenho conseguido lidar bastante bem com ambos os projectos. Em termos de valores, já não é assim tão fácil. Sou jornalista e nalguns casos vejo-me forçado a reportar notícias que dizem respeito ao Monte Carlo. Por vezes ouço críticas de pessoas que estão comigo no futebol e pondero muito sobre a forma como faço o meu trabalho. Não sou imune a um conflito interior, mas procuro sempre transmitir factos e nunca emoções.

É casado e tem uma filha… Entre o futebol e a TV, é possível ainda arranjar tempo para a família?

Nem sempre, devo dizer. Tenho a sorte de ter uma família que me compreende. Antes de ter casado comigo, a minha mulher já me conhecia há muito tempo e sabia que o futebol para mim é um vício. Ela apoia-me e eu sinto que ela sente orgulho em mim, seja no estádio, seja na TDM.

Monte Carlo campeão, primeiro título como treinador. O ponto mais alto da carreira?

Um dos pontos altos. Enquanto jogador venci quatro títulos com o Lam Pak e com o Pau Peng (FC Artilheiros) e fui chamado à selecção durante mais de seis anos com alguma regularidade. Um dos momentos que recordo com maior enlevo foi o jogo no Iraque a contar para a fase de qualificação para o Campeonato do Mundo. Foi o único jogo que disputei com o estádio completamente cheio. Estavam 50 mil pessoas nas bancadas. Perdemos por 8-0, mas nunca mais vou esquecer a atmosfera daquele estádio em Bagdad.

Quanto vale um título em Macau?

Vale o que vale, num local onde o futebol é amador. O futebol em Macau tem ainda um longo caminho pela frente, mas se atentarmos às coisas por esse prisma também eu tenho muito por onde evoluir. Participei em mais de uma dezena de acções de formação um pouco por toda a Ásia e tenciono continuar a aprender. O objectivo? Treinar a nível profissional … Um dia ….