Vêm aí os veículos eléctricos

O primeiro veículo eléctrico, desenhado em Macau, deve começar a circular nas ruas da região administrativa especial em Outubro. Nos Jogos Olímpicos de Pequim vai circular um outro carro eléctrico concebido pelo designer português Filipe Bragança, que concebeu ainda um riquexó eléctrico

 

Os Estados Unidos da América vão receber, até ao final do ano, as primeiras encomendas do carro de cidade, desenhado por Filipe Bragança. É um carro eléctrico, para quatro pessoas, que vai também circular em Macau, já que algumas empresas e instituições da região administrativa especial manifestaram interesse em adquirir o EMUV (Electric Mobility Urban Vehicle).

No gabinete de trabalho no Instituto Inter-Universitário, na RAEM, o designer revelou  os últimos pormenores dos vários projectos de carros eléctricos que está a desenvolver. “O chamado carro de cidade (2+2) está numa fase muito evoluída. Já temos uma encomenda de 300 veículos para os Estados Unidos. Os primeiros vão ser enviados até ao final do ano. Em Outubro, devemos ter já alguns a circular em Macau”, revela Filipe Bragança. “Nos próximos meses espero obter das autoridades locais a respectiva homologação. Um veículo já esta em Hong Kong para testes”, adianta.

Com uma autonomia de 160 quilómetros a uma velocidade constante de 90 quilómetros por hora, pode alcançar os 100 quilómetros por hora em apenas 13 segundos. O EMUV tem quatro versões diferentes: van, pic-up, crossover e coupe/sports.  É um carro “com zero emissões de poluição”.

O docente do Instituto Inter-Universitário está também a desenvolver um outro veículo eléctrico para transportar menos de dez pessoas. “Já temos clientes e estamos em negociações para começar a construir o primeiro protótipo. Já conversei com empresas e instituições locais que manifestaram interesse em adquiri-lo”, conta. Filipe Bragança adianta que empresas ligadas ao sector do jogo “estão interessados num veículo destinado aos clientes VIP, para sete pessoas no máximo”. Nos próximos meses deverá ser criado um consórcio para produzir e distribuir o veículo.

Para os norte-americanos do Venetian, o automobile designer português acaba de desenvolver um riquexó eléctrico. “Vai ter um pequeno motor eléctrico para ajudar o condutor do tradicional veículo de Macau”. É provável que até ao Verão os novos riquexós comecem a circular no complexo do Venetian.

 

Carro eléctrico nos Jogos Olímpicos

 

O primeiro automóvel eléctrico desenvolvido na China, o ECUV (Electric Commuter Urban Vehicle) 2610, vai começar a ser comercializado em 2009. “Desde Maio do ano passado foram feitos mais de três mil quilómetros de testes. Não foram detectados problemas. O veículo e o conceito funcionam muito bem”, revela. “Um dia fomos apanhados pela polícia, que ficou surpreendida por ver na estrada um carro tão rápido e silencioso. Como ainda não está homologado fomos à esquadra explicar que se trata do protótipo de um carro eléctrico, que está em testes”, conta, com um sorriso nos lábios.

Os primeiros carros, a chamada pré-série, estão a ser produzidos em Zhuhai. “Estamos a fazer as afinações finais de todos os componentes, para depois entrar na produção do carro”, adianta. Os ensaios finais vão ser feitos em Pequim, durante os Jogos Olímpicos, onde o ECUV (Electric Commuter Urban Vehicule) 2610 vai circular. “As olimpíadas são uma ocasião perfeita para ver e testar o comportamento do carro em cidade”, assegura Filipe Bragança. O peso do automóvel é, por enquanto, o principal problema, já que o automobile designer português pretende que o ECUV 2610 pese menos de mil quilos.

“Tem menos de 50 por cento de componentes de que um veículo a motor térmico. Apostei na transferência de tecnologia da Europa para a China, mas foi tudo criado de raiz. Hoje, utiliza baterias, mas amanhã pode recorrer a energias alternativas”, nota.

Com autonomia para 250 quilómetros e capacidade para transportar cinco passageiros foi pensado para ser o futuro táxi de Cantão. A capital da província de Guangdong, com mais de dez milhões de pessoas, situada a 130 quilómetros de Macau, tem actualmente em circulação mais de 50 mil táxis. O projecto é financiado pelo governo da província de Guangdong, que pretende utilizá-lo como táxi.

“Quando a China entrou para a Organização Mundial do Comércio, em 2002, fui convidado por uma empresa de Hong Kong, que tem investimentos na área da educação em Cantão, para ministrar um seminário naquela cidade chinesa. Na sequência desses contactos, membros do governo de Guangdong mostraram-me um projecto que estava a ser desenvolvido há dez anos, mas o carro nem sequer andava”.

Nos últimos quatros anos, desenhou o ECUV 2610, que está limitado electronicamente a uma velocidade de 130 quilómetros por hora. Tem uma autonomia de 400 quilómetros a uma velocidade constante de 96 quilómetros por hora ou 250 quilómetros a velocidades variáveis. O motor pode atingir os 185 quilómetros por hora. Pode alcançar os 100 quilómetros por hora em apenas nove segundos e meio e pesa, sem passageiros, mil quilos, “menos 300-400 quilos que um carro normal”. Tem o tamanho de um Volkswagen Golf. “É o primeiro a nível mundial desenhado para uma família. Vai criar um novo mercado, uma nova maneira de viver”, nota Filipe Bragança, que destaca o conforto e a eficácia, “a distância entre os eixos é semelhante a de um Mercedes Classe S. As portas abrem em borboleta, de modo a facilitar a entrada dos passageiros no táxi”.

O ECUV 2610 é amigo do ambiente, já que é o primeiro carro “com zero emissões de poluição”. A tecnologia utilizada para a sua construção é também pouco poluente, uma vez que foram seguidos os padrões mais avançados de segurança da indústria automóvel.

O futuro táxi de Cantão vai ter uma carroçaria da família dos plásticos – roto molding -, o que significa que os moldes são produzidos por um processo de rotação. “A carroçaria será moldada na cor desejada e não será pintada na linha de montagem”.

A autonomia das baterias não tem permitido a afirmação dos carros eléctricos no mundo automóvel. Filipe Bragança está convicto de que em 2009, quando o carro começar a ser produzido em série, a tecnologia vai possibilitar “um desempenho mais eficaz e maior durabilidade, já que nos próximos tempos vamos assistir a grande evolução tecnológica”. As baterias utilizadas no ECUV 2610 têm já uma “vida” entre os quatro e cincos anos e uma autonomia entre os 260 e 400 quilómetros. As baterias podem ser carregadas pelo sistema tradicional (carregamento entre cinco a sete horas) ou pelo método de indução que permite carregar totalmente as baterias em escassos minutos, “vamos utilizar uma espécie de pacote, que numa estação de serviço pode ser substituído em escassos cinco minutos. Sempre que se trava e não se acelera há recuperação de energia, o que é também muito importante para o tempo de vida das baterias. O tejadilho dispõe de painéis solares que vão alimentar todo o sistema de iluminação do veículo”.

Os responsáveis pelo projecto procuram também uma fábrica na China que assegure a produção de motores eléctricos. “A tecnologia é europeia, mas o objectivo é fazer tudo na China. Ainda não conseguimos encontrar quem faça os motores com as mesmas especificidades que a fábrica da Suíça, que produziu os primeiros motores”, observa. “Se for possível encontrar investidores que paguem os motores fabricados na Suíça podemos avançar para a produção do carro quase de imediato. Sem investidores vai ser mais complexo”. O objectivo é colocar no mercado um automóvel barato, entre as 120 e 150 mil patacas.

 

Coimbra, Suíça, Macau

 

Professor na Universidade de Sun Iat Sen, em Cantão, e no Instituto Inter-Universitário, em Macau, Felipe Bragança cruza quase todos os dias a fronteira de Macau com o continente chinês. Com orgulho mostra o “Foreign Experts Certificate”. Não o utiliza na fronteira, mas facilita-lhe a vida nas viagens entre Macau e Cantão.

Entretanto, as autoridades já lhe atribuíram um visto vitalício, “as entradas e saídas no continente são, por enquanto, o único handicap, pois em dias de grande movimento chego a esperar uma hora na fronteira”. Hoje passa, de resto, mais tempo do outro lado das Portas do Cerco  do que em Macau, já que o modo de viver na região administrativa especial é cada vez mais frenético.

“O meu objectivo sempre foi o interior do País. Estar mais perto do local onde se fabricam os produtos permite acompanhar todo o processo e ser mais eficaz. É mais fácil ter uma acção directa sobre o desenvolvimento do produto para que tenha boa qualidade”, nota.

Natural de Coimbra, trabalhou na Suiça para marcas como a BMW, Honda e Alfa Romeo e integrou uma das equipas que desenhou o Swatch. Trabalhou com importantes nomes da indústria automóvel como Franco Sbarro, Luigi Colani, Walter da Silva ou Giugaro. “Qualquer designer tem sempre a meta de fazer um carro de sonho. O veículo movido a energia eléctrica vai ser o carro do futuro”, assevera.