Li Changsen: Um dos primeiros falantes de português na China

Foi intérprete dos conselheiros que deram treino militar aos guerrilheiros que lutaram contra as tropas lusas, esteve na Guiné-Bissau a fomentar a educação patriótica, “ideal muito nobre” de servir a sua China natal onde foi um dos primeiros a falar português. Hoje considera Portugal a sua segunda pátria

 

Foi por acaso” que descobriu a língua portuguesa. Nos anos 60, “altura em que na China muito pouca gente tinha ouvido falar de Portugal”, estudava numa escola secundária de Xian, fez um exame de admissão à faculdade, escolheu francês como idioma estrangeiro “por ser muito bonito” e, surpreendentemente, foi chamado para o Instituto da Rádio Difusão de Pequim. Quando lá chegou, disseram-lhe que ia aprender português. “Fui obrigado. Escolheram por mim”, confessa, decidido, não negando que ficou apavorado pois “nunca tinha ouvido falar essa língua”.

O primeiro contacto foi difícil, até porque a ideia seria sustentar uma tentativa de relacionamento com as então colónias portuguesas, principalmente com os africanos que falavam português, “em tempos em que a China defendia uma política apelidada de internacionalismo, que visava apoiar todas as nações oprimidas”.

Assim, em 1973, o Governo chinês enviou-o para trabalhar num centro de treino militar no sul da Tanzânia, para onde os guerrilheiros da FRELIMO e do MPLA eram enviados. Li Changsen era o intérprete, função que cumpriu durante dois anos, período em que privou de perto com líderes revolucionários como Agostinho Neto.

Dividido em duas frentes, os treinos consistiam numa componente política – onde se divulgava o pensamento da guerra popular e se ensinava a lutar pela independência – e uma parte técnica em que se davam a conhecer tácticas de guerra.

Changsen confirma que naquela época “era um apoiante acérrimo da FRELIMO”. “Eu estava ao serviço do meu país e como foi o meu Governo que me enviou para lá, tomava o movimento pela independência, cujo objectivo era livrar povos do jugo dos colonizadores, como sendo o mais certo”.

 

Na Guiné-Bissau

 

Changsen enfatiza que aprendeu “imensas coisas sobre guerra” e que teve oportunidade de privar com povos africanos, conhecimentos que contribuíram para, na década de 80, ainda enquanto intérprete, ter sido destacado para a Guiné-Bissau. O objectivo era ensinar a plantar cereais, projecto que visava resolver os problemas de fome naquele país e fomentar a educação patriótica que recebia do seu partido, “ideal muito nobre de servir o meu país”.

Quando saiu da Guiné, Li voltou para a Rádio Pequim, onde foi tradutor, locutor, fez programas e reportagens, sempre em português, uma das 38 línguas que se falavam nesta rádio e cujo foco estava apontado na ampliação da propaganda nos países africanos de expressão portuguesa, em Portugal e no Brasil.

A afinidade com a língua portuguesa ia-se expandindo para além dos comunicados de guerra e, sobretudo desde 1978, altura em que o sector de imprensa chinesa começou a deixar de ser obrigado a “corresponder ao diâmetro exigido pelo Governo, passámos a ter mais liberdade”. Iniciou então as funções de jornalista e foi a Portugal acompanhar altos dirigentes do Estado. “Sempre que um deles ia a um país lusófono, era sempre eu que o acompanhava. Nestas circunstâncias, das várias visitas que fiz a Portugal, entrevistei Mário Soares, Mota Pinto, Jaime Gama, Ramalho Eanes e Cavaco Silva”.

 

Missão em Macau

 

Antes do estabelecimento da RAEM, altura em que já era director do Departamento da Língua Portuguesa da Rádio Pequim, recebeu um comunicado interno a avisar que iria ser destacado para Macau, a fim de colaborar no processo de transição em curso.

Ao chegar ao território, o primeiro impacto foi deveras positivo, também porque ficou surpreendido por, “num lugar tão pequeno, existirem tantas marcas do Ocidente, construções que me lembravam Portugal, África e Brasil”, motivos que o levaram a, crescentemente, se interessar por estudar a influência portuguesa no mundo, “nomeadamente a imprensa lusa em Macau”.

 

Segunda pátria

 

“Com esta idade, na casa dos 60 anos, já não posso falar do papel que posso desempenhar na RAEM. Como professor quero ensinar as minhas experiências sobre a língua e a cultura portuguesa às novas gerações, e transmitir o meu historial de mais de 30 anos de traduções”. Li Changsen dá aulas de Técnicas de Tradução Chinês-Português no Instituto Politécnico de Macau, “numa altura em que a China tem relações amistosas sem precedentes com o mundo lusófono, o que representa uma oportunidade e um desafio”. E explica: “O Governo de Macau tem dedicado verbas e recursos para fortalecer este trabalho, e eu, como docente, quero expandir os meus conhecimentos. Considero que as minhas aulas são um autêntico testemunho vivo”. Por vezes sente-se velho mas não deixa de acalentar o sonho de contribuir para ajudar o povo chinês e os povos lusófonos a estreitaram relações, “principalmente na área dos recursos humanos, formando mais intérpretes, criando intercâmbios, tornando estes povos cada vez mais íntimos”. Faz isso também porque, desde a primeira vez que visitou Portugal, “aquele país passou a ser como uma menina que adoro. Um país pequeno, com uma paisagem fantástica e diversificada, um mar azul que chega a emocionar-me, as boas recordações que tenho do tempo em que ensinei mandarim na Universidade do Minho”.

Li Changsen está hoje convicto de que Portugal é a sua “segunda terra”, apesar do seu envolvimento pessoal na luta pela independência. E justifica: “É preciso não esquecer que, naquela época, Portugal era Salazar, era a PIDE, era um outro país que não aquele que aprendi a gostar, que me marcou profundamente, que nunca irei esquecer”.

 

“Para desenvolver Macau há que ter perspicácia para se ver mais longe”

Li Changsen mal sabia que aquele “casamento para toda a vida” estava a começar quando foi chamado para aprender português no Instituto da Rádio Pequim. Anos depois de ter sido intérprete dos guerrilheiros africanos que lutavam contra Portugal pela independência, aprendeu a amar uma “terra pequena e maravilhosa” onde mais tarde iria ensinar mandarim e cultura chinesa, aproveitando para desenvolver uma talentosa veia de artista, pintando quadros que aqui revela pela primeira vez. Há 17 anos em Macau, o professor deixa um aviso: “esta península tem um problema para resolver, pois está a correr o risco de perder o seu valor histórico”.

 

 Foi, na sua adolescência, obrigado a aprender português quando entrou para o Instituto da Rádio Difusão de Pequim. O que é que pensou quando soube que ia estudar este idioma?

– Quando comecei a aprender português não tinha ideia nenhuma ideia nem possuía nenhum conhecimento prático sobre esta língua e também não conhecia nada de Portugal para além de saber que era um país pequeno da Europa. Pouco a pouco, com os ensinamentos dos meus professores, fui aprendendo muitas coisas sobre a língua e a cultura portuguesa. Daí foi um passo para começar a gostar de uma língua que hoje considero maravilhosa, sobretudo se a compararmos com outras línguas que antes tinha aprendido, como o russo.

– Porque é que “o primeiro contacto com a língua portuguesa foi como que traumático”?

– Naquela altura não havia condições para aprender a língua portuguesa e em Pequim, para onde fui estudar, não havia ambiente para a praticar. Por isso, no início, a única possibilidade era falar com os meus professores, até porque na China seria difícil encontrar quem falasse português. Finalmente, em 1973, ainda durante a Revolução Cultural, tive oportunidade de ir trabalhar em África, o que fez com que pudesse ter contacto com povos que falam a língua de Camões. Lembro-me que, no primeiro dia em que fui ensinar aos guerrilheiros palavras que, mesmo em chinês, eu não conhecia, foi muito complicado.

– Nesse tempo em que foi enviado para o sul da Tanzânia para trabalhar como intérprete dos guerrilheiros militares da FRELIMO e do MPLA, a China tinha adoptado a chamada política internacionalista. Qual é a sua opinião sobre esta política?

– Era muito jovem e só tinha recebido a educação da parte chinesa. Não tinha outros canais para saber opiniões de outro mundo. Assim, deste pequeno que, para mim, o internacionalismo é uma política que serve para ajudar os povos oprimidos e pobres a livrarem-se da pobreza e da opressão exercida por grandes potências, os chamados países capitalistas ou imperialistas. É preciso compreender que, naquela altura, o mundo vivia numa situação completamente diferente da actual. Existiam dois campos de sistemas diferentes, o campo socialista e o campo capitalista.

– Nessa altura privou de perto com guerrilheiros e, inclusivamente, conheceu pessoalmente Agostinho Neto. Que opinião tem sobre este líder africano?

-Encontrei-me com ele numa altura em que foi visitar o centro de treino militar. Fui basicamente seu intérprete e não tivemos conversas longas. Lembro-me que ele tinha um discurso muito fluído e, apesar da nossa conversa ter sido curta e formal, percebi que era uma pessoa muito culta. Se bem me lembro, ele estava a vir da União Soviética e na viagem de regresso passou pela Tanzânia para visitar os seus guerrilheiros.

– Como é que se sentia no papel de intérprete de tácticas de guerra?

– Para mim aquilo era simplesmente um trabalho. Não tinha medo de nada. Estava numa idade, 20 anos, em que ainda era muito ingénuo. Quando me mandaram ir para África fui com a sensação de que ia para uma terra misteriosa, pelo que queria apenas aproveitar a oportunidade para conhecer o resto do mundo. Só isso.

– Podemos dizer que, naquele tempo, por estar ao serviço dos guerrilheiros, era inimigo dos portugueses?

– A ideia era ensinar os moçambicanos e os angolanos a conquistarem a independência. Devido ao facto de ter estudado português tinha bastante interesse em conhecer Portugal. Por isso procurava livros e jornais que falassem de Portugal, tinha muita curiosidade sobre esse país do qual sabia tão pouco. Agora, se me pergunta se via Portugal como inimigo, isso nunca. Ou melhor, eu não fazia nenhuma ideia sobre isso pois só pensava que estava ali para ajudar os povos africanos a libertarem-se. Só isso e mais nada.

– Já na década de 80 foi em missão para a Guiné-Bissau. Com que ideia ficou sobre esse país?

– Um país bastante pobre. Vou dar um exemplo: naquela altura usava um carro, um jipe, Toyota, que certo dia ficou sem travões, pelo que era perigoso andar na estrada. Todavia, durante seis meses continuei a conduzi-lo. Tinha dinheiro mas não havia uma peça nova para trocar. Tive que ir ao Senegal para repara-lo porque senão ia andar toda a vida sem travões. Outro exemplo: a festa da Primavera é muito importante para os chineses pelo que, quando essa data se aproximou, pensámos comemora-la com muita comida. Acontece que não encontrámos arroz nem azeite, em lado nenhum. Fomos a um mercado muito conhecido de Bissau, o Armazém Popular, onde não havia nada.

Mesmo assim acho a Guiné-Bissau um país interessante mas com uma riqueza que é mal explorada. Tenho recordações muito bonitas do tempo em que lá estive.

– Foi ensinar os guineenses a trabalharem a terra. Preferiu traduzir a guerra ou a agricultura?
– São duas actividades que, apesar de serem ambas do internacionalismo, são muito diferentes. Uma levada a efeito em tempo de conflito e outra para fins pacíficos. No trabalho na Guiné-Bissau podia manter mais contactos com o povo, enquanto que na Tanzânia os meus contactos se limitavam a um espaço restrito. Na Guiné tinha mais tempo para conversar e para conhecer a vida das várias etnias, pois é um país pequeno com muitas raças diferentes. Tudo isso para mim era um prazer.

– Em Portugal entrevistou, entre muitos outros, António Ramalho Eanes, Mário Soares e Cavaco Silva. Com que opinião ficou destes estadistas?

– Ramalho Eanes é um verdadeiro general. Fala com uma grande serenidade, mantendo sempre um estilo militar. Mário Soares é bastante simpático. É um verdadeiro homem da política, profundo conhecedor das relações entre a China e Portugal. Cavaco Silva é outro tipo de figura política. Conheci-o para além das entrevistas que fiz com ele. O que mais me impressionou foi que, durante a campanha para se tornar primeiro-ministro, vi milhares de pessoas com bandeiras laranjas nas ruas. Para mim aquele dia em Lisboa é inesquecível pois foi a minha primeira aula sobre democracia ocidental. Mais de 300 mil pessoas a gritarem o slogan: “Cavaco, amigo, o povo está contigo”. Nunca tinha visto tanto entusiasmo.

– O que é que sentiu nessa altura?

– Perguntei-me se a China poderia um dia vir a ser assim.

– Gostava que fosse?

– Acho que é possível que venha a ser mas tem-se que esperar com paciência. A história e a cultura da China são diferentes. A democracia de hoje no Ocidente foi temperada em séculos e séculos. A China, como é um grande país que saiu do feudalismo, ainda tem um caminho bastante longo pela frente.

– Ensinou mandarim na Universidade do Minho. Que memórias tem desse período?

– Foi uma experiência nova. Claro que, após a abertura da China ao exterior, muitos estrangeiros começaram a interessar-se por aprender a língua e a cultura chinesa. Em 1999, a pedido da Universidade do Minho, fui enviado para Braga. Fiquei maravilhado com a forma como os portugueses se interessaram pela matéria. Não só os alunos do curso de licenciatura de Relações Internacionais que escolheram a língua chinesa, mas pessoas com 50 e 60 anos que se matricularam no curso e que revelaram um entusiasmo que para mim foi impressionante.

– Pinta, desenha, faz ilustrações, escreve poemas, cria música com rara mestria. Que papel representa a arte na sua vida?

– É uma actividade de divertimento. Nunca aprendi nenhuma arte com profissionais. Simplesmente, desde pequeno que gosto de criar. Aos 9 anos de idade uma pintura minha foi escolhida para participar na exposição internacional de pinturas infantis em Inglaterra. Aquilo para mim foi um grande estímulo. Depois de começar a trabalhar nunca me dediquei a nenhuma arte como profissão mas sempre como passatempo.

– Para além dessas actividades lúdicas, também é professor e tradutor. Que tarefa é que desempenha com mais afinco?

– Não sei. A vida do ser humano é curta. A diferença é que alguns a sabem aproveitar. No mesmo prazo alguns podem fazer muita coisa, outros menos. Se quiserem aproveitar plenamente a vida, os seres humanos têm que se dedicar ao maior número possível de actividades. No fim da vida não há que haver arrependimentos.

– Considera Portugal uma segunda pátria?

– Já visitei muitos países, dos Estados Unidos a Inglaterra, da Rússia à Tanzânia. A nenhum deles fui tantas vezes como a Portugal, país que conheço do Algarve ao Minho. Grande parte dos meus amigos é portuguesa. Quando fiz um estágio na Rádio Difusão Portuguesa, em Lisboa, alguns amigos convidavam-me para ir a casa deles. Conheci famílias e pessoas fantásticas. Posso dizer que, depois da China, Portugal é o país que melhor conheço no Mundo. Gosto muito desse país.

– Como é que analisa o papel de Portugal no mundo?

– Portugal não é grande mas é um país importante devido ao facto de estar situado no Oeste Europeu e na boca do mediterrâneo, o que representa um lugar estratégico na disposição dos países europeus. Agora, quase toda a Europa foi unificada, pelo que Portugal está a par do desenvolvimento de todos os países desse velho continente.

– Depois de ter vivido em vários países voltou à China para trabalhar na Rádio Pequim. Fale-nos dessa emissora e da sua função estratégica.

– A Rádio Pequim tem uma história com mais de 50 anos, existindo desde antes da fundação da República Popular da China. A situação desta emissora foi evoluindo conforme os tempos. Durante a Guerra-fria, a Rádio Internacional da China tinha o papel de divulgar o internacionalismo e de apresentar as construções socialistas. Com o desenvolvimento da sociedade, o objectivo e o trabalho desta emissora foi mudando. Hoje em dia, a Rádio Internacional da China, que é falada em 39 línguas estrangeiras, serve para apresentar a nova política da construção da China e para promover o entendimento entre povos no sentido de dar a conhecer o país na actualidade. Isso pode ver-se nos diferentes programas, nomeadamente nas reportagens que falam do turismo, das etnias e da vida quotidiana do povo chinês.

– Qual é a sua visão sobre Macau?

– É um sítio muito pequeno. Da primeira vez que passei as Portas do Cerco fiquei impressionado. Nunca imaginei que aqui pudesse encontrar monumentos puramente ocidentais. O que de imediato aqui mais me atraiu foram as construções, as diferentes arquitecturas. Um dia fui jantar ao Hotel Boa Vista, que hoje pertence ao consulado português e, quando entrei naquele corredor, ao ver ao longe os canais formarem um só canal em cruz entre Macau, a Lapa e a Montanha, surgiu na minha mente uma imagem de há 500 anos atrás. E perguntei-me: como é que os navios portugueses conseguiam passar aquela porta em cruz para ancorarem na península? Foi nesse momento que passei a interessar-me sobre a história deste pequeno território. Através desses estudos e da minha estadia aqui por mais de 20 anos, passei a gostar muito desta terra.

– Um desses seus estudos debruça-se sobre o papel dos jornalistas portugueses em Macau, concluindo que foram eles que influenciaram toda a imprensa chinesa e nomeadamente a de Hong Kong. Como é que chegou a essa conclusão?

– Não sei se o público aceita isso ou não mas já mostrei fundamentos que o comprovam. Depois da palestra que dei sobre esse assunto, os especialistas e historiadores com os quais me encontro dizem que esse estudo vale a pena. Para a grande maioria dos chineses, as conclusões a que chego são uma novidade. Uma editora já tomou a iniciativa de publicar um livro de minha autoria sobre o assunto, considerando que este estudo é muito valioso no que se refere a esta área, podendo alterar o pensamento de muita gente sobre o tema.

– Está, desde 1991, em Macau. Como é que vê as mudanças no território?

– Para a história, 17 anos é um tempo muito curto. É como abrir e fechar os olhos. Todavia, tenho que reconhecer que as mudanças são enormes, sobretudo na área da construção, tendo sido erguidos muitos edifícios e casinos. Sobre os casinos em si, bem ou mal, eles representam um grande desenvolvimento. O panorama mudou imenso. Há novas pontes que reflectem crescimento. Porém, acho que Macau tem um problema para resolver pois está a correr o risco de perder o seu valor histórico. O desenvolvimento económico é bom mas espaços como o Centro Histórico de Macau são fundamentais para a sobrevivência deste território que recebe muitos turistas que sabem que aqui existem as Ruínas de São Paulo ou o Farol da Guia, que está a ser cercado por outros edifícios. Para desenvolver Macau é fundamental que se tenha perspicácia para se ver mais longe. Não pode haver um interesse pensado a curto prazo.

– Se a indústria do jogo entrar em crise, que futuro perspectiva para Macau?

– Isso faz parte da economia e a economia é algo que eu não entendo muito bem. Apesar de ter tantos casinos, de ter mais renda por causa do jogo, nem todos os residentes beneficiaram com isso. A receita do Governo aumenta mas a vida de alguns residentes tem vindo a tornar-se cada vez mais pobre. Isso depende de política e é preciso ter em conta que a história da região administrativa é curta e ainda precisa de passar por experiências. Acho que todos os sectores têm de tomar atenção a este problema para que, no futuro, haja mais gente a gozar dos benefícios trazidos por essas actividades.

– Acredita que a China se vai tornar, a curto prazo, numa grande potência mundial?

– Na minha experiência, grande potência não é uma palavra positiva. Recebi uma educação onde sempre me disseram que grande potência significa arrogância. De qualquer maneira, a China vai ser um grande país e com cada vez maior influência no mundo.