Eddy Murphy

Mestre de Capoeira, Eddy Murphy nasceu no Brasil mas já percorreu meio mundo. Chegou a Hong Kong em 2002 e mudou-se para a China Interior. Agora em Macau, há cerca de cinco meses, ensina capoeira no Universal Yoga e pretende reunir capoeiristas de todo o mundo na RAEM

 

 

O que significa ser Mestre?

Sou o único Mestre da China e para o ser é preciso ter no mínimo 20 anos de prática e ter mais de 30 anos de idade. É necessário desenvolver um bom trabalho neste desporto e tornar-se conceituado entre os Mestres mais antigos.

Como começou a praticar capoeira?

Eu nasci com seis meses e meio. Até aos oito anos tive problemas de desenvolvimento: era muito magro e muito “baixinho”. A minha mãe levou-me a médicos e nada resultava. Aos nove anos comecei a praticar capoeira e isso ajudou-me muito física e mentalmente. Perdi os meus pais cedo e a capoeira adoptou-me. O homem que sou hoje devo-o a este desporto.

E encontrou-se na capoeira?

A capoeira é a arte do mais fraco ganhar ao mais forte. E era tudo o que eu precisava, além de ter sido cativado pelas acrobacias e pela música. Até porque tudo no Brasil é batuque e a gente gosta é de festa. Na capoeira há tudo: hierarquia, disciplina, e fazemos amigos.

Ensinar capoeira é dar continuidade ao trabalho feito pelos pais, como um complemento ao que se aprende em casa. É também uma forma de se manter longe de vícios como o tabaco, a droga ou o álcool. Eu através da capoeira ensino corpo e mente.

Fala de cuidar da mente. Há um lado espiritual na Capoeira?

Algumas pessoas descriminam a capoeira por essa vertente. A capoeira foi criada pela necessidade de liberdade de um povo escravizado: os negros cuja religião era o candomblé. Há 300 anos eles benziam-se antes de praticar. É como no judo. Qualquer judoca antes de praticar ajoelhava-se perante o Buda e orava. O capoeirista também o fazia. Era a uma arte marcial de um povo com uma religião. Mas a capoeira Angola é a que está hoje mais ligada à religião. Eu pratico a capoeira regional contemporânea.

Como é ensinar capoeira a asiáticos?

Eu acredito que a capoeira é para todos e todos são para a capoeira. Os asiáticos são muito dedicados e quando realmente querem, conseguem. Começam sem ritmo, mas depois de algum treino rapidamente se tornam muito bons! Pela experiência de quatro anos na China confesso que é um pouco difícil. Aliás tudo o que é novo é difícil, até porque o país só recentemente se abriu ao mundo. Quando nos vêm estranham: damos umas “pernadas” e dançamos e eles aí já não entendem mesmo nada: “será dança? Será luta?”.

Temos de explicar que a capoeira é um desporto, uma luta, arte e dança e dentro dela cada um se pode encontrar. Não é preciso ser um lutador ou um músico.

Já ganhou alguns prémios?

Nos anos 90 ganhei o primeiro lugar no “vale tudo”, uma luta em que vale tudo literalmente. Recebi também alguns títulos pelos trabalhos sociais realizados em São Paulo, onde cresci, e onde procurei apresentar a capoeira aos mais desfavorecidos. No princípio era um desporto barato e desenvolvi projectos nas favelas também para ajudar os jovens a trocar a droga pelo desporto. Acredito que a capoeira se pode tornar um desporto olímpico dentro de cerca de dez anos.

Quais os projectos para o futuro?

Para o final deste ano ou princípio do próximo estou a tentar organizar um encontro de capoeira em Macau, com o objectivo de reunir aqui capoeirista de todo o mundo. É também uma forma de preservar e mostrar a cultura brasileira.