Nova era na cooperação luso-chinesa

  Portugal e a República Popular da China abriram em Agosto um novo, amplo e promissor ciclo de relações de cooperação, abrangendo variados domínios nas áreas económica, científica, cultural e de inovação, no âmbito do programa que fora estabelecido para a visita oficial do Presidente Hu Jintao a Portugal. Esta visita, que se revestia de […]

 

Portugal e a República Popular da China abriram em Agosto um novo, amplo e promissor ciclo de relações de cooperação, abrangendo variados domínios nas áreas económica, científica, cultural e de inovação, no âmbito do programa que fora estabelecido para a visita oficial do Presidente Hu Jintao a Portugal. Esta visita, que se revestia de importante simbolismo político, pois tinha como cenário de fundo assinalar o trigésimo aniversário das relações diplomáticas entre os dois países, acabaria por ser adiada, devido aos acontecimentos ocorridos na província de Xinjiang.

No entanto, manteve-se a realização do Fórum Económico e Comercial luso-chinês. Praticamente todos os sectores, desde a electromecânica à alta tecnologia, passando pela exploração de energia, recursos naturais, produtos e máquinas têxteis, produtos alimentares e agro-industriais, bens ligeiramente industrializados, logística e comércio de serviços, cooperação no investimento, estiveram presentes.

O Fórum de Cooperação Económica e Comercial Portugal-China foi promovido pelo Ministério do Comércio da China (MOFCOM) e pelo Ministério da Economia e da Inovação de Portugal (MEI) e co-organizado pela Agência para a Promoção do Investimento da China (CIPA) e pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). Um número recorde de empresários chineses participou no evento. Em Lisboa reuniram-se, ao todo, 400 empresários de ambos os países, sob a égide do Ministro do Comércio da China, Chen Demin e do Ministro das Finanças e da Economia e da Inovação de Portugal, Fernando Teixeira dos Santos, acompanhados pelos Vice-Ministro do Comércio da China, Gao Hucheng, chefe da delegação chinesa, e do Secretário de Estado Adjunto da Indústria e Inovação de Portugal, António Castro Guerra.

Intervenções dos responsáveis chineses e portugueses definiram o quadro em que decorre esta acção de cooperação bilateral. Neste contexto, Chen Demin lembrou que, sobretudo desde o estabelecimento da parceria estratégica global de 2005, os dois países têm registado um desenvolvimento nas relações bilaterais e na cooperação económica-comercial iniciando um período de crescimento historicamente mais rápido.

Para aumentar a expressão da cooperação entre Portugal e a China, Chem Demin considerou quatro pontos essenciais: manter com esforço o equilíbrio das trocas comerciais, promover a cooperação no investimento recíproco, enriquecer o conteúdo do Fórum de Macau e ampliar o intercâmbio e a cooperação, tanto a nível governamental como empresarial.

Neste quadro geral, a parte chinesa apresentou a sua política de incentivos ao investimento recíproco, ao desenvolvimento de alta tecnologia e às respectivas feiras e exposições, tais como a Feira de Cantão, a Feira Internacional de Alta Tecnologia da China, a Feira Internacional de Investimento e Comércio da China e outros eventos.

No seu discurso, o Ministro do Comércio da República Popular da China afirmou ainda que, por ocasião do trigésimo aniversário do estabelecimento do relacionamento entre a China e Portugal, “olhamos para o novo início da história do relacionamento bilateral” e que “a parte chinesa está disposta a, de mãos dadas com a parte portuguesa, promover o maior avanço da cooperação económico-comercial bilateral com base em inovações constantes”.

Por sua vez, os responsáveis portugueses apresentaram a situação económica, política, o ambiente de investimento e produtos mais competitivos como factores positivos que Portugal oferece. Basílio Horta, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, destacou a vantagem competitiva do país, lembrando que é o nono país do mundo em termos de segurança e possui modernas infra-estruturas.

Referiu também o grande avanço português no sector das energias renováveis e apresentou Portugal não como país periférico europeu, como geralmente é considerado, mas como detentor de uma posição geográfica estratégica de país central, localizado entre os países que mais consomem no mundo, ou seja, fronteira entre a Europa e os Estados Unidos. A ligação de Portugal aos países africanos de língua oficial portuguesa, à África em geral e à América Latina, foram outros aspectos destacados pelo dirigente português. “No Atlântico Sul nada poderá acontecer que não tenha a interferência dos países que falam português” – afirmou. Basílio Horta referiu-se também à força de trabalho portuguesa, apresentando como exemplo a Auto Europa que, no universo industrial da Volkswagen, é a fábrica no 1 em produtividade a nível mundial.

Em síntese, o presidente da AICEP fez um apelo ao investimento chinês “para projectos que tragam inovação e valor acrescentado”, afirmando que para isso haverá incentivos, e considerou que este evento marca o início de uma nova era entre Portugal e a China. Nesse sentido revelou duas iniciativas já programadas: a deslocação proximamente a Portugal de um grupo de empresários chineses para contactos com os seus parceiros portugueses e a Semana de Portugal na Feira de Xangai, que mostrará tudo aquilo que é hoje a moderna economia portuguesa.

 

Acordos e protocolos para diversos sectores

 

O Fórum de Cooperação Económica e Comercial Portugal-China desenvolveu-se a três níveis (governos, instituições sectoriais e empresariais) permitindo a conclusão e assinatura de vasto conjunto de protocolos, acordos comerciais e institucionais, a começar por um memorando de entendimento entre o Ministério do Comércio da China e o Ministério da Economia e Inovação de Portugal, para reforçar a cooperação entre as pequenas e médias empresas, oferecendo-lhes acesso a informações para facilitar a exploração dos respectivos mercados.

O Centro de Comércio Externo da China assinou acordos de parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa e a Associação Comercial de Lisboa. Por outro lado foi obtido um consenso entre a Agência de Promoção de Investimento do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China e a AICEP, oferecendo às empresas melhores serviços para a sua cooperação no investimento e comércio.

Empresas das duas partes assinaram também um pacote de contratos comerciais e protocolos de intenções abrangendo as áreas de exploração de novas energias, cooperação logística e aquisição de café, azeite, vinho, mármore, móveis e produtos alimentares, entre outros.

A empresa chinesa Hailite Windpower Company sedeada em Wenzhou na Província de Zhejiang e a portuguesa EDP (Electricidade de Portugal) vão explorar conjuntamente a energia no centro da Província de Jiangsu, sul de Zhejiang e norte de Fujian, no valor de 294 a 441 milhões de dólares para a fase inicial do investimento.

A Nam Kwong (Group) e a portuguesa Mota-Engil vão cooperar na construção de uma plataforma logística no Poceirão, próximo do local previsto para a construção do futuro aeroporto internacional de Lisboa.

 

 

Mota-Engil e Nam Kwong ligadas numa Plataforma Logística Atlântica

 

Em 2006, o Governo português lançou um programa designado Portugal Logístico, que consiste na criação de uma rede complementar de plataformas logísticas em todo o território do país. Este programa visava promover a racionalização da actividade logística, fomentar a intermodalidade, promover ganhos ambientais e desenvolver a economia. Para isso foi definida uma rede de 11 plataformas logísticas, com objectivos distintos, sendo a do Poceirão a maior de todas.

Os promotores do projecto são a Mota-Engil, através das empresas TERTIR, a Odebrecht, a Opway e o grupo Espírito Santo, que constituíram uma sociedade denominada LOGZ-ATLANTIC HUB SA, responsável pelo respectivo desenvolvimento.

A Plataforma Logística do Poceirão será desenvolvida numa área de 600 hectares e com um investimento total de 85 milhões de euros. Ficará localizada no concelho de Palmela, a 35 quilómetros de Lisboa e a 15 quilómetros da localização prevista para o novo aeroporto internacional de Lisboa, junto ao nó ferroviário que permite ligar os portos de Setúbal, Sines e Lisboa, para posterior ligação a Espanha pela linha para Badajoz.

Entre a Mota-Engil e a Nam Kwong foi estabelecida uma parceria para estudos dessa plataforma logística atlântica, mediante um acordo celebrado em Janeiro de 2007, aquando da visita oficial do primeiro-ministro português à China.

O passo mais recente foi, agora, a constituição da sociedade conjunta CHINALOG, detida em partes iguais pela Mota-Engil através da Tertir e pela Nam Kwong, que fará a promoção no mercado chinês e prestará um conjunto de serviços de consultoria às empresas chinesas, nomeadamente as que pretendem estabelecer uma base na Península Ibérica, podendo servir outros mercados da CPLP, nomeadamente Angola.

 

Guangdong marca presença no Brasil

 

A presença de uma delegação de Guangdong, juntamente com a de Macau, foi uma das tónicas marcantes do encontro empresarial sino-lusófono deste ano, que decorreu na cidade brasileira do Rio de Janeiro

 

Entre 11 e 13 de Agosto, empresários da China e de países de língua portuguesa estiveram reunidos na cidade brasileira do Rio de Janeiro, no Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa – Edição Brasil.

Foi a quinta edição deste tipo de encontros, no âmbito do Fórum para a Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, lançado pelas autoridades chinesas em 2003. Os anteriores encontros empresariais realizaram-se, a partir de 2005, em Angola (Luanda), Portugal (Lisboa), Moçambique (Maputo) e Cabo Verde (Praia).

Esta edição foi promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), com o apoio do Conselho de Promoção do Comércio Internacional da China (CCPIT) e do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). O encontro reuniu empresários de Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, além das delegações de Macau e do Continente chinês.

Ao fazer o balanço do encontro numa conferência de imprensa, já em Macau, o presidente do IPIM, Lee Peng Hong, disse que esta a edição com maior número de participantes de sempre, tendo sido assinados diversos protocolos de cooperação e feitas mais de 400 bolsas de contacto.

Aliás, uma das tónicas deste encontro foi a presença destacada de uma delegação da província chinesa de Guangdong, vizinha de Macau, chefiada pelo seu vice-governador Wan Qinliang. Esta participação conjunta da província e da vizinha Região Administrativa Especial de Macau tem a ver com a implementação das Linhas Gerais do Plano de Reforma e Desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas, lançadas recentemente pelo Governo chinês, visando um desenvolvimento integrado de toda a região do Delta do Rio das Pérolas, incluindo Macau e Guangdong.

Esse mesmo espírito presidiu à realização, à margem do encontro empresarial, de um seminário que teve lugar em S. Paulo, onde empresários de Guangdong e Macau divulgaram as oportunidades de negócio proporcionadas pelo desenvolvimento do Grande Delta do Rio das Pérolas.

“Macau poderá apoiar as empresas e os investidores brasileiros a entrarem no potencial mercado consumidor de Guangdong”, disse Lee Peng Hong no seminário de S.Paulo. Referiu ainda a existência de “um mecanismo de cooperação (do IPIM) com todas as agências de exportação dos países de língua portuguesa”.

Por seu turno, o vice-governador de Guangdong, Wan Qingliang, defendeu o reforço da cooperação entre o Brasil e a China e as vantagens oferecidas pela província. “Guangdong é a província de maior desenvolvimento económico de toda a China”, disse.

Finalmente, o presidente da Apex-Brasil, Alessandro Teixeira considerou “inevitável” que as empresas exportadoras e importadoras brasileiras se venham a instalar em Macau nos próximos anos, apontando, entre outras constatações, o facto de a economia de Macau ter crescido 27% em 2008, o que constitui um dos maiores crescimentos económicos do mundo.

A China é presentemente o maior parceiro comercial do Brasil, tendo este ano ultrapassado os Estados Unidos da América.

Em Abril, as trocas comerciais sino-brasileiras atingiram 3,2 mil milhões de dólares, ao passo que o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos da América contabilizou-se em 2,8 mil milhões de dólares. De Janeiro a Abril de 2009 as trocas comerciais entre a China e o Brasil alcançaram 10,2 mil milhões de dólares, um acréscimo de 13,9%, face ao mesmo período do ano anterior (8,9 mil milhões de dólares).

A próxima edição do Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, em 2010, terá lugar em Lisboa, segundo anunciaram os organizadores durante o encerramento da edição brasileira do encontro.

 

MIF em Outubro

 

A Feira Internacional de Macau (MIF) realiza-se este ano entre os dias 22 e 25 de Outubro, no hotel-resort The Venetian Macao. No decurso de uma conferência de imprensa em que abordou o assunto, o presidente do IPIM estabeleceu uma correlação entre o encontro empresarial do Brasil e a realização, dois meses depois, da MIF, considerando que, “Macau reforçou o seu papel de plataforma” e que o certame poderá permitir a concretização de oportunidades geradas no Brasil.

Por outro lado, apesar de o mundo ainda viver em ambiente de crise internacional, Lee Peng Hong manifestou a esperança de que a MIF venha a ser um sucesso e disse que a edição deste ano ocupará uma área muito maior do que a das anteriores. Por outro lado, sublinhou o “significado especial” derivado do facto de este ano se celebrar o décimo aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).