As Expo na história 

As exposições universais começaram por ser formas de projectar o poder das nações industrializadas do século XIX. Hoje apontam os caminhos para um futuro mais sustentável e com mais qualidade de vida

 

A primeira grande feira internacional de que há registo realizou-se em Londres em 1756. Porém, de acordo com o Bureau International des Expositions (BIE), a primeira exposição com características universais apenas teve lugar quase um século depois, em 1851, também em Londres. Em Hyde Park foi construído um palácio de cristal para acomodar expositores de 28 países. Estávamos em plena segunda revolução industrial, no país que tinha sido o berço da idade contemporânea e que se assumia como potência mundial. Desde o início que as exposições foram plataformas por excelência para celebrar a modernidade e o progresso tecnológico. Em Londres as próteses dentárias, os revolveres Colt e o telégrafo, foram as estrelas da feira. Mas seria Paris a receber a mais famosa das exposições mundiais. Em 1889 foi inaugurada a feira que traria à Cidade-Luz a famosa Torre Eiffel que então servia de entrada para o recinto. Mas esta não foi apenas a exposição da torre de aço desenhada por Gustave Eiffel: as próteses, o elevador hidráulico e a famosa cadeira de baloiço também brilharam na Exposition Universelle. A Paris seguiram-se cidades como Viena, Sidney, Antuérpia e Amesterdão, Chicago e Bruxelas, entre outras.

 

As primeiras Expo na Ásia

 

Demorou várias décadas até que as exposições universais – as reconhecidas pelo BIE – saíssem do Ocidente (Europa, EUA e Austrália). De facto, só em 1970 o BIE aprovaria uma exposição fora desse universo, que se realizou em Osaka sob o tema “Progresso e Harmonia para a Humanidade” e introduziu edifícios insufláveis e músicas compostas por computador.

Mas, se incluirmos na lista outras exposições internacionais de grande dimensão, encontramos uma feira mundial na China, realizada em 1910, no último ano da Era Imperial. Embora não tenha tido o sucesso das suas congéneres ocidentais, a Exposição dos Mares do Sul em Nanquim representou um sinal de abertura, ou pelo menos, de tentativa da China se abrir às novas tecnologias europeias. Pela primeira vez o Império do Meio convidava o Ocidente a visitá-lo.

Uma outra exposição internacional teve lugar na Ásia Oriental, na primeira metade do século XX. Nagoya, no Japão, recebeu em 1937 uma feira subordinada ao tema “Paz Universal”, uma designação que surge aos olhos dos dias de hoje como tendo uma grande dose de ironia, atendendo ao expansionismo militar nipónico dessa época.

 

O fulgor pós-II Guerra

 

A segunda era de ouro das Expo – a primeira verificou-se entre a segunda metade do “industrial” século XIX e a “Belle Epoque”, que se prolongou pelo século seguinte – tomou forma após a II Guerra Mundial. O crescimento económico na Europa e nos EUA verificado entre 1945 e 1970 não só elevou a qualidade de vida das populações como trouxe à tona progressos técnicos até então apenas referidos em livros de ficção científica. O futuro passou a ser omnipresente nas Expo. A exploração espacial era elevada ao pináculo do progresso da humanidade. Em Seattle, na exposição em que o tema foi “O Homem na Era Espacial”, em 1962, foi construída a famosa Space Needle.

Em Montreal, apenas cinco anos depois, a Expo sob o tema“O Homem e o Seu Mundo”parecia responder com uma visão mais humanista e pacifista, que acabou por servir de tom para as exposições que se seguiram.

 

Expo em Portugal: Tanto Mar

 

Portugal esperou até 1998 para ter a sua primeira Expo com a chancela do BIE. Mas mais de um século antes, o país já tinha tido feiras mundiais que deixaram marcas. O Porto foi a cidade anfitriã de exposições que tiveram lugar em 1865 e 1894. Uma outra feira ficou para a história do século XX português, na Lisboa de 1940. Não foi uma exposição universal, mas procurou promover os vários aspectos do Mundo Português. Um Mundo que começara cinco século antes e que tinha sido construído à Beira-Mar.

Não foi por isso de estranhar que“Os Oceanos: Um Património para o Futuro” fosse o tema da primeira exposição verdadeiramente universal que Portugal recebeu, em 1998, em Lisboa. Mas agora, esse “Tanto Mar”, estava virado para o futuro. Os oceanos surgiram como vias para o encontro de culturas. Lisboa 98 mostrou-nos não só uma exposição feita de raiz mas um exemplo de planeamento urbano que recebeu prémios internacionais. Com 11 milhões de visitantes e 121 países participantes, o Parque das Nações acabou por reabilitar a zona oriental da cidade, que estava na altura em decadência. Um ano antes do regresso à China, Macau surgiu na Expo 98 com a sua face mais conhecida: um pavilhão cuja entrada era uma versão da fachada da antiga Igreja da Madre de Deus (Ruínas de S. Paulo). O pavilhão de Macau acabou por ser dos poucos espaços que permaneceu em funcionamento depois da exposição encerrar as portas.

 

A procura da sustentabilidade

 

Em Lisboa, os oceanos abriam as portas para um olhar sobre modelos de desenvolvimento mais sustentável e amigo do ambiente. A Expo 2008, realizada em Saragoça, Espanha, juntou essas ideias de forma bem explícita, tendo como tema central: “Água e Desenvolvimento Sustentável”. Xangai 2010 segue-lhe o caminho, centrando-se agora no espaço urbano enquanto palco para a promoção de uma vida melhor, com mais qualidade e sustentabilidade. Em Xangai, cidade ela própria erguida Sobre o Mar, (em chinês, Shanghai, 베, significando o primeiro carácter, shang, , “sobre” e o segundo, hai 베, “mar”) e que se tornou na capital económica da China. Com o tema “Melhor Cidade, Melhor Vida” espera-se de Xangai 2010 uma visão urbanística e sustentável do desenvolvimento da cidade. Com os olhos do mundo virados para as questões ambientais e os problemas que decorrem de uma má exploração de recursos, não é de estranhar que esta última fase na história das exposições mundiais esteja preocupada em descobrir cada vez mais soluções para estes problemas.