Foi Macau mas podia ter sido outro sítio qualquer. Francisco Aranha, 30 anos recentes, concorreu a um programa de estágios profissionais promovido pelo Governo português com a expectativa de ter mais uma experiência fora de casa. Tinha passado sete meses em Angola e soube-lhe bem. Regressar a África era apetecível mas na sorte saiu-lhe Macau.
Descobriu então que um bisavô viveu cá e que a avó só não nasceu em Macau por acaso. “Mas as duas irmãs dela sim e até falavam cantonês.” Para quem vive à beira Atlântico, a RAEM é coisa que fica longe e Aranha sabia pouco sobre o que vinha encontrar. As primeiras impressões não o desiludiram e confessa uma “euforia inicial” que, com o passar dos dias, foi abrandando.
Licenciado em Marketing, Francisco Aranha veio para Macau para “ser ponte” entre Portugal e a China. A empresa em que trabalha tem sede na RAEM mas os negócios fazem-se sobretudo em Cantão, onde se encontra o distribuidor exclusivo dos produtos portugueses importados a Lisboa. Os vinhos portugueses são o principal produto desta relação comercial, que começou com a produção de consumíveis informáticos.
“Vim para uma empresa que tem uma estrutura montada mas que não tem cá ninguém a tempo inteiro, apenas uma pessoa que dá apoio, que fala português e chinês. A minha função é servir de ponte entre Portugal e as pessoas com quem temos relações comerciais”, explica. “A nossa intenção é ainda arranjar distribuidores para as principais províncias da China.”
Embora a empresa onde trabalha tenha relações de longa data com a China, onde chegou a ter uma unidade fabril, o papel que o gestor de marketing desempenha é essencial, porque se avança no relacionamento “com as pessoas com as quais já temos contactos de um modo mais próximo e consistente, de uma forma mais física, que vai além do e-mail ou do telefone”.
A viver na cidade que tem, entre outros intuitos, o grande objectivo de ser a plataforma entre a China e o espaço lusófono, e a desenvolver trabalho nessa área, Francisco Aranha encontra-se na posição ideal para analisar as condições de Macau no apoio a quem tenta entrar na China via RAEM. O território sai com nota positiva desta avaliação.
“Existe uma percentagem de pessoas, por mais pequena que seja, que fala português e chinês, o que é fundamental e único no país. Além disso, Macau está numa boa localização. E depois há também a componente histórica, a capacidade de se perceber aqui como é que o Ocidente funciona, o que ajuda muito.” Francisco Aranha só lamenta que a definição de Macau enquanto espaço de ligação entre a China e a lusofonia não tenha surgido antes. “Mas pode tentar-se amenizar as consequências disso não ter sido feito na devida altura”, arrisca.
Com vontade de ficar por cá depois de findos os seis meses de estágio, que “dão para muito pouco”, o gestor de marketing prefere olhar para a RAEM sem as suas fronteiras. “É uma cidade num enorme país e num contexto geográfico importante”, salienta. E se Macau for apenas um local de passagem? Aranha garante que fará as malas com a noção de que, a par com alguns mercados emergentes, “estamos aqui numa das partes do mundo de maior importância, que nunca deve ser esquecida e à qual se deve dar a maior atenção”.