Pavilhão de Macau: um coelho especial

A “Lanterna Imperial – Coelho de Jade” promete surpreender os visitantes com uma forma inovadora de conhecer a história e os espaços de Macau. O projecto que serve de vitrina da Região conjuga tradição, alta tecnologia e cruzamento de culturas. O mote é “Macau, Espírito de Culturas – Essência de Harmonia”

 

É uma lanterna, um coelho mágico, imperial. O Pavilhão de Macau na Expo 2010 “Lanterna Imperial – Coelho de Jade” promete oferecer uma experiência única aos visitantes que se deixarem atrair pela cabeça do coelho que se vai elevar junto ao Pavilhão de Hong Kong e bem perto da Coroa Imperial, o espaço da China na exposição.

Lá dentro, está alojado um tesouro que proporciona uma viagem no tempo e no espaço para dar a conhecer a multiplicidade de uma urbe com mais de quatro séculos de encontro de culturas entre o Oriente e o Ocidente. Esse foi o ponto de partida da RAEM – dar a conhecer o desenvolvimento económico, social e cultural de uma região que se orgulha do seu património e do dinamismo registado sobretudo nos últimos anos. Christiana Ieong Pou Yee, coordenadora do Gabinete Preparatório para a Participação de Macau na Exposição Mundial de Xangai (GPPMEMS), explica que o que Macau foi ao longo da história e o que oferece hoje “é possível pelas características das pessoas que aqui vivem em harmonia”. É nesse sentido que vai o lema da presença da RAEM na Expo: “Macau, Espírito de Culturas – Essência de Harmonia”.

 

A diferença do coelhinho

 

O projecto da Lanterna do Coelhinho (nome inicial do projecto) foi escolhido entre um lote de 31 propostas de design. Vários projectos incluíam um dragão, mas o Gabinete Preparatório preferiu algo diferente. “O Júri do concurso escolheu o coelho porque este animal é pequeno e ágil, representando algumas das qualidades de Macau. O coelho é também atractivo para as crianças e enquanto produto de marketing tem potencialidades”, diz Christiana Ieong.

O design alude à fisionomia da velha lanterna do coelho da região do Sul da China. A estrutura da “Lanterna Imperial Coelho de Jade” (Pavilhão de Macau) é concebida em dois grandes cinemas em formato de dois anéis: O anel interior, no centro do Pavilhão é um cinema de 5 andares com sistema “surround” e de 360 graus e é designado de “Anel do Tempo”. O anel exterior, denominado de “Anel da Harmonia”, é dividido em quatro zonas: zona da Harmonia entre Terra e Mar, zona de Harmonia entre Tradição e Modernidade e a zona da Harmonia das Energias. Passando por estas zonas, os visitantes entram numa viagem mágica entre diferentes tempos, experimentam a passagem de Macau de uma pequena aldeia piscatória para a cidade turística internacional de hoje, salientando a mensagem de “Retorno à Pátria, Macau: ainda melhor”.

 

Viagem no espaço e no tempo

 

O projecto inicial sofreu depois várias alterações “para ficar mais atractivo, funcional e acomodar melhor os visitantes”. Ao todo são cinco andares que vão espelhar a evolução de Macau de cidade piscatória a destino turístico mundial. Essa história é contada através do percurso de um rapaz e de uma lanterna que subitamente desaparece, para reaparecer no final da jornada ao lado de dezenas de outras que brilham intensamente. Tecnologia de ponta vai estar presente em cada momento da viagem, que percorre dois anéis – um interior e um outro exterior – e quatro harmonias: terra e mar, culturas, património e modernidade, e Macau vibrante. O percurso vai cruzar o tempo e o espaço de forma dinâmica, através de um filme realizado propositadamente para ser exibido em Xangai, que guia os visitantes por momentos da história de Macau e os leva aos edifícios mais marcantes da cidade. Em destaque vai estar Zheng Guangying, famoso intelectual que viveu na agora restaurada Casa do Mandarim.

 

Surpreendente e inovador

 

“Vai ser algo de inovador e absolutamente surpreendente”, afiança a coordenadora do GPPMEMS. A inovação deverá acontecer quer ao nível do conteúdo, quer em termos estéticos e tecnológicos. Ecrãs LED vão estar espalhados por todo o pavilhão com as próprias paredes a servirem de suporte para as múltiplas projecções de imagens. Há também espaço para hologramas e um robô. Antes de entrarem para testemunhar esta viagem com constantes recursos à alta tecnologia, os visitantes poderão desde logo apreciar o exterior do pavilhão, cuja altura ascende a 19,9 metros, numa alusão a 1999, ano do retorno de Macau à China. Embora o limite imposto pela organização da Expo fosse de 20 metros, com a cabeça, em forma de balão, o coelho acaba por ter mais dez metros de altura. Christiana Ieong explica que convenceu a organização a aceitar esta solução, porque “o Coelho de Jade com a cabeça a movimentar-se de uma lado para o outro dá as boas-vindas aos visitantes e sinaliza a presença do Pavilhão da China, mesmo ali ao lado”.

A cor vermelha é a base das orelhas e da cauda da “Lanterna Imperial Coelho de Jade”, em sintonia com a cor da “Coroa do Oriente,” o pavilhão da China.

O reflexo do vidro da parede exterior espelha o Pavilhão Nacional Chinês, “o que significa que o país está sempre no coração de Macau”. À noite, quando o vidro brilha em cores diversas, “leva-nos a pensar quão dinâmica e épica é Macau, expressando assim a concretização da política de ‘um país, dois sistemas’.

 

A réplica da Casa Tak Seng On

 

Além do Pavilhão, Macau faz-se representar na expo através de uma réplica em tamanho real da Casa de Penhores Tak Seng On, um edifício famoso localizado na Avenida de Almeida Ribeiro, no centro de Macau.

A Casa de Penhores Tak Seng On, construída originalmente em 1917, expressa a face social histórica da cidade, bem como a forma de arquitectura da região. O Gabinete Preparatório salienta que a “Tak Seng On é uma herança histórica e cultural valorizada pela sociedade e pelo Governo”, que ilustra um caso bem-sucedido de protecção e reutilização de património histórico-cultural na cidade. Foi por isso que ganhou a entrada na zona de exposição das Melhores Práticas de Desenvolvimento Urbano da Expo de Xangai.

Em 2004, o projecto de restauro da casa de penhores Tak Seng On recebeu uma menção honrosa da UNESCO na atribuição dos prémios para a Cultura e Preservação do Património Ásia-Pacífico. A distinção foi justificada na altura por ser um excelente exemplo de um tipo único de edifício do Sul da China e manter viva a memória associada da história financeira e comercial da região.

 

Janelas para a lusofonia

 

A Lusofonia vai estar representada em formatos diferentes na exposição universal de Xangai. “Uma Cidade Melhor, uma Vida Melhor”, o mote desta exposição universal, é incorporado por vários países lusófonos para projectar imagens de dinamismo e modernidade. As apostas mais fortes partem de Portugal, Angola e Brasil

 

TEXTO: Maria João Belchior

e José Carlos Matias

 

Brasil pulsante

 

O Brasil faz uma aposta forte na sua participação na Expo. O pavilhão, que ocupa mais de dois mil metros quadrados, tem como tema “Cidades Pulsantes: sinta a vida das cidades brasileiras”. A fachada, em forma de parêntesis invertido, procura espelhar a ideia de pulsação. O revestimento é feito com pedaços sobrepostos de madeira reciclada e pintada de verde (cor dominante na bandeira brasileira) que vão ser apoiados numa estrutura metálica.

Ao entrar no Pavilhão os visitantes irão sentir o bater do coração das cidades brasileiras, a alegria e a energia características do país. O comissário geral do Brasil na Expo 2010, Alessandro Teixeira, sublinha que o “Brasil e a China são países bastante visuais, cujas formas e cores são factores importantes. A ideia é mostrar essa interacção”.

A estrutura, da autoria do arquitecto Fernando Brandão, assemelha-se à primeira vista ao famoso Ninho de Pássaro construído para os Jogos Olímpicos de Pequim, mas a inspiração do projecto foi a obra Cadeira Favela dos irmãos Campana, conhecidos por serem dos mais conceituados designers de móveis do Brasil. Dividida em várias áreas, pretende mostrar o país e a cultura brasileira, salientando projectos de sucesso.

“O Brasil é um país com uma grande diversidade, cujos backgrounds se misturam com harmonia. Queremos mostrar isso, a combinação de cultura, religião e raças de forma única no mundo”, explica Alessandro Teixeira.

O verde também é associado às tecnologias limpas e às energias amigas do ambiente. As autoridades brasileiras fazem questão de destacar esta vertente, salientando que o país tem 90 por cento da sua electricidade gerada por fontes renováveis, a maior parte por hidroeléctricas, e que 45 por cento da energia utilizada no país é gerada por fontes renováveis. O Brasil planeia investir um total de 44 milhões de dólares norte-americanos na sua participação em Xangai.

 

A energia portuguesa

 

Portugal é apresentado como “um mundo de energias”. Localizado na Zona C, o canto lusitano oferece dois trilhos (salas de exposição) aos visitantes. Um primeiro alusivo aos cinco séculos de relações entre Portugal e a China, e um segundo troço em que é revelada a imagem de um país moderno, dinâmico e criativo através do filme “Portugal, uma Praça para o Mundo”. No segmento contemporâneo, vão ser abordados os progressos no campo das energias renováveis, com destaque para as energias eólica, solar e hídrica. “Vamos passar uma mensagem muito importante que é a de que Portugal é pioneiro a transmitir esta mensagem para o mundo”, afirma José Fragoso, director do pavilhão de Portugal.

A estrutura, desenhada por Carlos Couto, arquitecto português radicado em Macau, tem revestimento de cortiça – produto português por excelência.

“A fachada do pavilhão é inteiramente construída em cortiça preta, o que traz grandes vantagens para a acústica interna”, diz Carlos Couto. Afirma, por outro lado, que “a construção do Pavilhão de Portugal é um tributo à preservação da floresta portuguesa de sobreiros”. A eficiência energética é outra imagem de marca, “com uma redução estimada em 45 por cento do consumo de ar condicionado”.

É por isso provável que se venha a destacar na Praça da Europa, zona onde se eleva um palco com cerca de seis mil metros quadrados, que pode receber 1200 pessoas. É por lá que vão passar grandes nomes da música portuguesa, como Mariza e o projecto Amália Hoje, que irão actuar a 6 de Julho, dia de Portugal na Expo.

 

Angola a florescer

 

Dos países africanos de língua portuguesa, Angola é o único que se apresenta com um pavilhão próprio. É também um dos poucos países de África que terá uma estrutura em nome individual, ao lado da Argélia e da Nigéria. Esta posição de destaque não é de estranhar dadas as relações de grande intensidade económica e comercial com a China. Em África, e apesar de uma redução nas trocas comerciais em 2009, Angola continua a ser o primeiro parceiro comercial da China com o valor de comércio a rondar os 17 mil milhões de dólares.

A estrutura do pavilhão é inspirada na flor nacional angolana, a Welwitschia, uma planta que apenas cresce no deserto do Namibe e que vive entre trezentos e mil anos. O pavilhão vai mostrar os traços dinâmicos de um país em acelerado crescimento económico. O espaço, dividido em sete secções, apresenta-se também como uma vitrina da geografia, história e cultura de um país cujas relações com a China têm florescido a vários níveis nos últimos anos. Os sectores do petróleo e diamantes, e a utilização sustentável dos recursos do país são aspectos que se destacam no pavilhão.

 

Guiné-Bissau: paz e natureza

 

Os restantes países lusófonos de África vão ter os seus espaços albergados no pavilhão construído especificamente pela China para receber os países africanos. Com o lema “Urbanização, Ambiente e Desenvolvimento Rural”, a participação guineense em Xangai vai centrar-se na paz e na natureza.

Carrington Ca, ministro conselheiro em Pequim, sublinha que a participação de Bissau na Expo procura “promover o intercâmbio a níveis que vão do social, económico e cultural até ao político, e mostrar a importância das relações com a China”. A Guiné-Bissau planeia levar a Xangai nomes da música e cultura guineenses.

A cantora Dulce Neves e o cantor Justino Delgado são apenas alguns dos nomes que podem vir a surgir na lista do programa cultural da Guiné-Bissau. Devido às condições financeiras, o país não pôde apresentar um orçamento definitivo mas, segundo a Embaixada em Pequim, o valor inicial calculado para a participação estava nos seiscentos mil dólares.

 

Cabo Verde, pequeno mas global

 

A música cabo-verdiana também vai marcar presença na exposição universal. Cesária Évora estará em Xangai para um espectáculo dado juntamente com Mayra Andrade, a 10 de Julho, dia de Cabo Verde na Expo. No mesmo dia haverá actividades de animação como complemento aos conteúdos temáticos da exposição, designadamente tocatinas interactivas no pavilhão, animadas por artistas cabo-verdianos.

Small and Global” é o mote do arquipélago do Atlântico nesta Expo. Segundo o Comissário geral de Cabo Verde a ideia é mostrar através deste conceito “o legado histórico do país, a posição geoestratégica atlântica, a riqueza cultural e o potencial endógeno”. Cabo Verde quer pela participação na Expo Xangai 2010 “traduzir um país de pequenas escalas mas de conexões globais”. Em concreto foi desenvolvido um programa, organizado seguindo três eixos, que procura dar a conhecer as cidades-porto do arquipélago, como Mindelo, Praia ou Ribeira Grande, zona onde fica localizada a Cidade Velha, que recentemente foi classificada pela UNESCO Património Mundial da Humanidade.

O orçamento global da participação de Cabo Verde deverá ser de aproximadamente um milhão de dólares. O stand, localizado no pavilhão africano, terá 240 metros quadrados de área.

 

Moçambique

 

Até ao momento do fecho desta edição ainda não estavam disponíveis quaisquer dados oficiais relativos à participação de Moçambique na Expo 2010.

 

Timor-Leste: participação especial

Timor-Leste apresenta-se na Expo com um pavilhão com cerca de 320 metros quadrados.

Com o lema “Esteja connosco, esteja com a natureza”, a participação timorense na Expo Xangai 2010 tem um sabor especial. O embaixador de Timor-Leste em Pequim, Olímpio Branco, realçou a importância que tal participação tem, uma vez que “é a primeira vez que participa numa Expo depois da independência em 2002”.

O projecto do pavilhão, que foi desenvolvido a partir de Díli, tem à frente da equipa técnica o arquitecto português Joaquim de Brito.

O orçamento total para a participação está estimado em um milhão de dólares americanos, dos quais seiscentos mil dólares são uma contribuição da organização – a República Popular da China -, dada a vários países em vias de desenvolvimento que vão participar no evento.

Timor-Leste terá o seu dia oficial em Xangai a 13 de Julho. O embaixador timorense em Pequim assegura que nesse dia haverá grupos culturais para actividades programadas no recinto, estando também prevista a presença de empresários timorenses e agendadas amostras da culinária local. Para o diplomata, Timor-Leste terá em Xangai “uma oportunidade única que decerto não se irá repetir nos anos mais próximos”.