A “marca cultural” de Macau

Que o Festival de Artes “se torne na marca cultural de Macau”, é esta a visão do presidente do Instituto Cultural para o evento que este ano cumpriu a sua 21a edição. Ao mesmo tempo, Guilherme Ung Vai Meng estabelece como um desafio importante a participação de artistas locais na programação

A “marca cultural” de Macau

 

Na apresentação do 21º Festival de Artes de Macau (FAM), o presidente do Instituto Cultural (IC), Guilherme Ung Vai Meng, falou de um jardim para todas as flores. Agora, as flores desabrocharam e a mostra atingiu novamente uma assistência a rondar os 20 mil espectadores, tal como no ano passado. Quem o garante é Boyce Lam, chefe da Divisão de Projectos Especiais do IC.
As pétalas do festival que decorreu no mês de Maio foram o teatro e a dança, a ópera tradicional chinesa e as marionetas, as produções mais eruditas e as destinadas à pequenada – tudo num total de 70 apresentações de 25 espectáculos, que chegaram de 20 países diferentes. O orçamento cifrou-se nos 18,5 milhões de patacas, mais quinhentas mil que em 2009.
Este ano, o FAM abriu com ópera cantonense e a peça “O Romance da Seda Vermelha”. Uma homenagem à forma de arte local, classificada em 2009 pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, e um modo de passar a mensagem do que cada vez mais será o festival: uma montra que privilegia os artistas do território.
“O meu desejo é que mais artistas locais integrem a programação do FAM num futuro próximo”, diz Ung Vai Meng. O responsável explica que o Instituto Cultural do Governo da RAEM continuará a “convidar artistas internacionais para participar no festival”, mas quer que “a arte tradicional seja uma componente importante” da mostra. Ung Vai Meng faz mesmo referência directa à ópera cantonense, “uma bela forma de arte que deve ser preservada e promovida internacionalmente”. “Acredito que os esforços que fizemos este ano pela ópera chamaram a atenção das pessoas”, refere.

 

Criar uma verdadeira marca

 

Se há nomes forasteiros do programa que o próprio presidente do IC destaca – como o do pintor George Chinnery, com uma exposição de 150 obras que estará no Museu de Macau até 29 de Agosto –, a verdade é que o FAM já aposta na cultura local. Ung Vai Meng lembra, a propósito, que “40 por cento da programação desta edição é preenchida por associações artísticas locais”. Prova disso são as três sessões apresentadas pelos já habituais Doci Papiaçam di Macau, com a peça “Sabroso Nunca!”, sobre a gastronomia macaense; ou a actuação da Orquestra de Macau num registo mais jazzístico, conduzida pelo maestro Joshua Tan Kang Min e com composições dos norte-americanos George Gershwin e Leonard Bernstein. Espaço ainda para a peça “Um Basco”, do dramaturgo japonês Ryunosuke Akutagawa, levada à cena pelo Grupo de Teatro de Repertório do Conservatório de Macau, e para mais umas quantas produções do território.
Agora, há que prosseguir o caminho. “Espero que o FAM se torne na marca cultural de Macau”, deseja o presidente do IC. Até porque “as artes reflectem o estilo de vida e a qualidade de uma cidade”, lembra Ung Vai Meng, que tem uma relação antiga com a mostra.
Há 20 anos, aquando da edição inaugural do festival, o agora presidente do IC já trabalhava naquela casa, como designer. “Lembro-me de desenhar o programa e todos os materiais de promoção para o primeiro FAM. O tempo voa e sinto-me feliz com o sucesso que o festival conseguiu atingir.”

 

Para miúdos e graúdos

A aposta deste ano nos espectáculos para os mais pequenos foi notória. De Portugal chegou um concerto para bebés e de Espanha um teatro de marionetas pela companhia Jordi Bertran, entre outros. O chefe da Divisão de Projectos Especiais do IC, Boyce Lam, explica que “metade dos espectadores do FAM são cidadãos locais” e que um dos objectivos da programação é “cobrir todas as faixas etárias”.
Ambos, Ung Vai Meng e Lam, vincam a numerosa participação do público, para que contribuem os preços baixos praticados nos bilhetes. “Os principais objectivos do festival são acostumar o público a apreciar espectáculos e encorajar as pessoas a participar em diferentes actividades culturais. O lucro não é um factor decisivo”, sustenta Boyce Lam.
Este ano, como já vem sendo costume, os primeiros dias de venda de ingressos resultaram em vários espectáculos esgotados. “Os Mundos de Fingerman”, peça de fantoches do peruano Gaia Teatro, e “Música de Ennio Morricone”, pelos australianos Spaghetti Western Orchestra, foram das produções mais procuradas. A Austrália cotou-se, de resto, como um dos países mais representados nesta edição do FAM.
Guilheme Ung Vai Meng reconhece que, além da “qualidade e criatividade” dos grupos convidados, a selecção também é feita tendo em conta a sua localização geográfica. “Gostamos de ter um programa o mais variado possível, nem só ocidental nem só oriental”, defende o presidente do IC. Para o ano, a promessa é simples: “Um programação excitante, que dê a provar o sabor da nossa cidade”.