A realização da III Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação entre a China e os Países de Lingua Portuguesa é aguardada para a segunda metade do corrente ano, num momento em que se constata a recuperação de 77 por cento no comércio entre a China e a Lusofonia no primeiro semestre do ano.
Por outro lado a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum, Rita Santos, foi nomeada, em Agosto, secretária-geral adjunta do Fórum, em substituição da chefe de gabinete do Secretário para a Economia e Finanças, Karen Lok Kit. Rita Santos passou a acumular as duas funções.
A nomeação de Rita Santos ocorre cerca de nove meses após a entrada em funções, em finais do ano passado, do novo secretário-geral do Fórum, Chang Hexi.
Para Manuel Amante da Rosa, diplomata cabo-verdiano que também é secretário-geral adjunto do Fórum, “os desafios principais (do Fórum) continuam a ser o aprofundamento e a consolidação dos laços económicos e comerciais entre a China e os países de língua portuguesa”.
Os efeitos da crise financeira internacional são um dos factores a ter em conta. Amante da Rosa reconhece que “a instabilidade do clima financeiro internacional ocorrido no último ano acabou por se reflectir, negativamente, no balanço anual do nosso intercâmbio económico em 2009, em que as trocas comerciais sofrerem um ligeiro decréscimo de cerca de 19%, ainda assim, inferior à queda no volume do comercio global.”
Mas os resultados do primeiro semestre do corrente ano são mais animadores, com o comércio entre a China e os países de língua portuguesa a ultrapassar os 41 mil milhões de dólares norte-americanos, o que representa um aumento de 77 por cento em comparação com o período homólogo de 2009.
O diplomata cabo-verdiano considera que “a manter-se inalterável esta tendência no desempenho das nossas relações comerciais é muito natural que se venha a ultrapassar os 100 mil milhões de dólares americanos no corrente ano.
“Esse crescimento robusto, apesar do cenário de crise que ainda paira sobre nós, demonstra que as nossas economias possuem forte potencialidade de complementação e adaptação, com nichos enormes de mercado ainda por explorar” – assinala. E acrescenta: “Gostaria de ver bem mais parcerias tripartidas, entre os países participantes do Fórum, no sector mineiro, agrícola, grandes empreitadas no sector da construção civil e no sistema bancário/financeiro.”
Em termos comparativos, há a referir, por exemplo, que a performance da cooperação económica e comercial entre a China e o mundo lusófono tem-se colocado bem acima do montante transaccionado entre a China e a Índia.
O secretário-geral adjunto sublinha o facto de dois dos países participantes neste Fórum, o Brasil e Angola, serem, respectivamente os maiores parceiros comerciais da China na América Latina e em África.
“Esse crescimento robusto, apesar do cenário de crise que ainda paira sobre nós, demonstra que as nossas economias possuem forte potencialidade de complementação e adaptação.”
“Se observarmos que estes dois países, com níveis de crescimentos consideráveis, são depositários de substanciais recursos, minerais, energéticos, hídricos, agrícolas e haliêuticos e que ocupam lugares cimeiros nas suas sub-regiões, perfazendo ambos cerca de nove mil quilómetros de extensão litoral no Atlântico Sul, dotados de bons portos, que podem servir de interface para os países vizinhos, das suas sub-regiões, facilmente se depreende da premissa estratégica que está inserida na nossa organização.”
Segundo o mesmo responsável, há ainda que ter em conta que os países de língua portuguesa são economias abertas, com um regime de atracção/captação de IDE (investimento directo estrangeiro) muito vantajoso, incluindo incentivos fiscais e aduaneiros, facilidades na alocação de fábricas, etc.] e dispõem, na sua grande maioria, de recursos naturais e de uma população jovem e facilmente treinável. Por seu turno, a China, para além da larga soma de stocks cambiais acumulados, é hoje detentora de know-how (competências industriais) de que os países lusófonos, particularmente os em desenvolvimento, muito precisam.
Neste contexto, “pensamos ser apropriado considerar o reforço da presença de empresas chinesas nos nossos mercados enquanto investidores e da instalação desejada e aguardada de filiais financeiras e bancárias chineses nas nossas capitais”. Procedendo assim, ambos os lados estarão a utilizar as suas vantagens e aumentar a sua capacidade para combater a crise e a reforçar o excelente relacionamento existente.
Assim, nesta fase pós-crise, é possível aproveitar as várias oportunidades existentes para consolidar a cooperação em novos campos, especialmente nos sectores financeiros, agricultura e pescas, turismo, educação, construção de infra-estruturas e logísticas/transportes.