História do Grande Canal

Ainda na dinastia Qin dá-se início à construção do canal Jiangnan, com 85 quilómetros de comprimento. Começando no rio Yangtzé, vai para Sul até Suzhou. Assim ficaram ligados três rios e cinco lagos
História do Grande Canal

 

O Grande Canal foi dragado por secções em tempos diferentes e o traçado que hoje temos dele remonta à dinastia Yuan e conta com sete partes, as secções dos canais. Começando em Pequim, o canal Tonghui terminava em Tongzhou e, daí a Tianjin, era conhecido como o canal Norte. O canal Sul partindo de Tianjin atravessa a Província de Hebei até Linqing. Já na Província de Shangdong, a secção do Grande Canal conhecida como Huitong vai até Jijing.
Seguindo para Sudeste, entre Jining e Xuzhou, já na Província de Jiangsu, é o canal Jiahe. Entre Xuzhou e Huai’na é o canal Central que acaba no rio Huai (Huaihe). A seguir vêm o canal mais antigo, o canal Interior, entre o rio Huai e o rio Yangtzé e, por fim, o canal Jiangnan, a sul do rio Yangtzé, que chega a Hangzhou, já na Província de Zhejiang.
Mas o Grande Canal nem sempre teve este trajecto construído no século XIII e que aproveitou partes dos dois grandes canais rasgados no século VII para ligar Luoyang ao Sul, pelo canal Tongji e para Norte, seguia o Canal Yongji até Zhouxian. O canal Tongji usou uma das secções mais antigas, o canal Hangou, feita no século V a.C. e partes do troço para Sul do Yangtzé até ao lago Tai, e que mais tarde será o canal Jiangnan.

 

O dragar dos canais

Os enormes rios que atravessam a China de Oeste para Leste devem ter despertado na imaginação dos seus habitantes a vontade de tirar proveito deste enorme recurso. E é pelo grande historiador chinês Sima Qian (145 a.C.-87 a.C.), no livro Shi Ji, escrito durante a dinastia Han do Oeste (206 a.C.-25 a.C) , em que, no capítulo sobre rios e canais, se lê estar a haver uma intensa construção em torno dos rios Yangtzé, Huaihe e Huanghe (rio Amarelo). O Estado Chu abriu (nos finais do século VII a.C.) um canal situado entre os rios Yangtzé e Huai e o reino Wu construiu um outro canal entre os mesmos rios.
Em 361 a.C. o reino de Wei abriu outro canal denominado Bianqu. Este canal seguia para leste, a partir de Kaifeng, quando o rio Amarelo virava nordeste, e chegava a Xuzhou.
Em 221 a.C. o imperador Qin Shihuang, abrindo o canal Ling, com 34 quilómetros de comprimento, ligou o rio Yangtzé ao rio das Pérolas, estabelecendo uma estrada de água que ligava o sul da China com o norte, passando assim a ser possível navegar entre aqueles dois rios.
Ainda na dinastia Qin dá-se início à construção do canal Jiangnan, com 85 quilómetros de comprimento. Começando no rio Yangtzé, vai para Sul até Suzhou. Assim ficaram ligados três rios e cinco lagos.

 

Na dinastia Han do Oeste foi dragado o canal Chaoqu, entre Luoyang e Chang’an (Xian), para facilitar o transporte da corte. E é entre esta dinastia e a dinastia Sui que muitos outros canais são rasgados e comportas construídas, criando uma rede fluvial que substituía a viária onde era possível, promovendo a comunicação entre áreas até então separadas. Esse uso constante da água dos rios proporcionava uma via mais fácil de transporte, permitindo fugir ao terreno montanhoso, aproveitar a força da água e evitar a insegurança da viagem por mar.
Mas estava por fazer uma rede fluvial integrada, ideia que ganhou força na dinastia Sui (581-618), quando o imperador Yang Di (605-618) idealizou um grande projecto para a abertura de uma extensa estrada de água com 2400 quilómetros, aproveitando um sistema de rios, lagos, canais e comportas já de grandes dimensões. Pretendia fazer chegar a Chang’an (mais tarde denominada Xian), que estava a construir para ser a nova capital, um Grande Canal, que atravessava também a ainda capital Luoyang e ligar essas duas cidades às regiões férteis do centro e sul do país, de novo reunificado.
Entre 605 a 610, este imperador manda milhões de homens dragar secções de canais para ligar os grandes rios que drenam a água para o Grande Canal. E é assim que, em 610, Yuhang (Hangzhou) fica ligada à capital Luoyang e, durante a dinastia Tang, chega a Chang’an (Xian) usando o rio Wei que corre até ao rio Amarelo.
A dinastia Sui, com um projecto de caminho usando a água, liga a capital Luoyang a Hangzhou. Era uma via privilegiada, que ficou pronta em seis anos e servia para fazer chegar os alimentos à capital, vindos das ricas regiões agrícolas do Sul da China. Este canal passava ainda por Kaifeng e Zhengzhou.
Os canais serviam para regularizar os leitos do rio, ao desviar a água das inundações periódicas, para onde e quando ela era mais necessária. Por vezes, os barcos só conseguiam navegar com a ajuda de cavalos e homens, que puxavam as embarcações ao longo das margens, método que deixou se ser necessário à medida que foram sendo construídas comportas. O sistema de canais permitiu na dinastia Song o controlo das inundações, o que trouxe um desenvolvimento extraordinário a uma China agrícola.
Desde então, foram construídas, nas margens desses canais, cidades onde a vida pulsava activamente. Assim um sistema de estradas de água foi evoluindo até chegar ao que hoje conhecemos como Grande Canal, cujo percurso atravessa quatro províncias, (Zhejiang, Jiangsu, Shandong e Hebei), 17 cidades e liga cinco grandes rios, que lhe drenam a água: desde o rio Qiantang, a sul, que banha Hangzhou, o Yangtzé (que divide o Norte e o Sul, atravessando a China de oeste para leste, como uma grande estrada), o Huaihe, o rio Amarelo (Huanghe, o rio das capitais) e o rio Hai.
O percurso definitivo, com 1794 quilómetros, foi feito durante a dinastia Yuan, quando a capital passou do centro do país para Pequim, no Norte da China. A secção que maior trabalho deu à dinastia Yuan foi a passagem pelas regiões mais montanhosas da Província de Shandong. A tarefa era difícil já que o terreno levantava uma série de questões, resolvidas com a ajuda de reservatórios e comportas (zha kou) que permitiram refazer os desníveis. Terminado em 1327, foi construído com vários níveis, sendo o mais elevado em que os barcos navegavam a 42 metros de altitude. Essa secção do Grande Canal, de Jining até Pequim, encurtou o caminho que fora feito para ligar as anteriores capitais como Luoyang e Chang’an (Xian) a Hangzhou e para Norte, até Zhuoxian, próximo de Pequim. Assim o Grande Canal mudou a sua trajectória e, numa linha recta, ligou Hangzhou a Pequim. Este grande empreendimento, ampliado por outros pequenos canais que durante diferentes tempos se foram construindo, permitiu que uma boa parte do país fosse acessível por barco, desde Pequim a Cantão, de Sichuan ao Mar da China.
É durante a dinastia Ming, quando esta decide fechar o País ao exterior e retirar as populações do litoral, que o Grande Canal atinge o seu apogeu e se torna a via de transporte mais importante. Em 1525, um édito imperial promove a destruição de todos os barcos que navegassem no mar e o aprisionamento de todos os mercadores que tivessem intenções de comercializar com outros países, ficando apenas os barcos e a indústria naval ligada à navegação pelos rios e, sobretudo, pelo Grande Canal.

 

Foi nesta dinastia que ficou resolvido o problema da grande turbulência criada nas águas do Grande Canal quando as águas agitadas do rio Amarelo, a um nível mais alto, nele caíam. Um problema difícil de resolver cuja solução foi dada por um cidadão, Bai Ying, durante o reinado do imperador Chengzu (Yongle), que propôs que fosse escolhido um lugar onde o leito do canal fosse mais alto. Assim foi escolhido o local onde desaguava o rio Wen e assim o Grande Canal passou a alimentar com as suas águas o rio Amarelo, eliminando o problema dos sedimentos que este rio transporta. Um sistema de comportas e reservatórios permitiu criar um fluxo de água equilibrado, separado para o sul e para o norte do Grande Canal.
Mas na dinastia Qing, no reinado do imperador Qianlong (1736-1795), os diques e comportas deixaram de merecer atenção, já que pouco era o volume transportado, e começaram a degradar-se. Os sedimentos passaram para as águas do Canal e este foi entupindo, principalmente na Província de Shandong, em meados do século XIX, muito devido às grandes secas. Esse fenómeno acentuou-se quando, em 1855, se operou uma mudança do curso do rio Amarelo.
Se o Grande Canal a norte do rio Amarelo se tornou impraticável para a navegação,  a entrada em cena do caminho-de-ferro, no início do século XX, foi a machadada final. Tudo isto concorreu para o abandono quase total desta via que, durante séculos, ligou a capital ao centro do país e que continuava para Sul da China por outros canais.
Zhou Enlai patrocinou um projecto para desviar a água do rio Yangtzé para norte, a partir de Jiangdu, próximo de Yangzhou. Esse projecto pretendia fazer a transferência dessas águas para o rio Amarelo e o Haihe e permitir que barcos de grande porte pudessem usar de novo o antigo Canal. Como muito do antigo traçado do Grande Canal estava intransitável, o Grande Canal foi dragado, em 1958, desde Xuzhou até Yangzhou. Desde 1977, a estação de elevação de Jiangdu, próximo de Yangzhou, para além de fornecer energia eléctrica, serve a irrigação e tem cinco comportas para a navegação.
Desde os anos 80 do século passado que o Grande Canal está navegável até Jining, tendo sido recuperado para aproveitar uma das grandes obras realizadas pelo Homem.