O meu mundo não é deste reino

A Igreja católica, em Macau, dez anos depois da transição
O meu mundo não é deste reino –  A Igreja católica, em Macau, dez anos depois da transição

A Igreja é uma barca navegando pelo nevoeiro da história e os católicos o povo de Deus na ressaca de um tempo que se afundou. Agora, a geografia é irreconhecível, os crentes novos, os pastores poucos, o pecado mais capital. Provavelmente, acima de qualquer outra instituição, a Igreja Católica é ainda a que mais se ressente da transição de poderes. Encurralada numa crise espiritual, de vocações, numa indefinição pastoral e de missões, a instituição procura legitimar-se no ascendente histórico, e sobretudo, simbólico, que ainda conserva sobre alguma elite da nova região administrativa especial, e daí afirmar-se como igreja de ponte e de diálogo. Não é tarefa fácil. Falha o impulso e a ousadia, escasseiam o sentido estratégico e a massa crítica.
Mas há luzes: diplomacia e finanças garantem o sedimento cristão à imagem de tolerância que Macau ostenta, instrumental da estratégia das autoridades civis e políticas.
A influência dos católicos – menos de cinco por cento baptizados do total de uma população predominantemente afecta à religião tradicional chinesa – alarga-se a extractos sociais elevados. Classe política, em que se destaca a Secretária para a Administração e Justiça dos primeiros governos da região administrativa especial, juristas, empresários e profissões liberais, partilhando muitos deles uma mesma formação inspirada na doutrina social católica. É um sinal do esplendor que Macau ainda mantém na cartografia espiritual do Oriente. Apesar dos tempos que correm, o nome da cidade conserva intacto o imaginário religioso, herdeiro do passado. As celebrações do Senhor dos Passos, na Quaresma, ou do 13 de Maio recuperam esse império derramado pela fé.
A 13 de Maio passado, enquanto Bento XVI celebrava em Portugal o aparecimento da Senhora aos pastores, em Macau a procissão no largo de São Domingos sublinhava o fervor dos católicos ao culto mariano. Fiéis de luz ao peito, anjinhos de rendas alvas e tez escura, o bispo e seu clero, religiosas em cânticos.
Esta teatralidade da fé não deixa de causar espanto. Especialmente, para quem chegou a Macau há pouco tempo, como Luís Rabaça, português, jurista, que, naquele fim de tarde, aguardava em São Domingos, a saída do andor. “Acho interessante esta sensação de estar no outro lado do mundo e estarmos a participar numa celebração trazida por portugueses. E de ver tanto macaenses como chineses”. Poderá verificar-se aquilo que Winnie Wong, chinesa de Hong Kong, admite, que esta adesão se deve a uma curiosidade ritualista junto de uma população mais habituada às práticas domésticas do budismo. No seu caso, Fátima “sempre foi uma devoção, reforça a nossa capacidade de amar”.
Madalena Dias, macaense, dos seus quarenta anos, fala do hábito enraizado que esta cerimónia tem na sua família. “A Nossa Sra. de Fátima é sempre um momento muito importante para mim. Tenho-lhe grande devoção. Acho que é, mesmo, mais importante do que o Natal ou do que a Páscoa. Peço sempre saúde, para mim e para a família”. Lá mais à frente, José Chan, etnia chinesa, nascido em Moçambique, acompanha a récita ora em cantonês, ora em português, ora em inglês. “O 13 de Maio marca um ponto alto da nossa religião, da nossa cultura. É um dia sagrado.” – revela o músico. Em Macau desde 1988, Chan lembra que estas celebrações arrastam hoje uma multidão maior do que antes da transição. “Em 1999, a minha família foi para Portugal e todos os anos, sempre que possível, íamos ao santuário. Não fazíamos aquelas caminhadas de peregrinação mas pedia-se sempre saúde para a família”.
 

 

Uma nova mentalidade

 

Dez anos depois da transição de poderes, a impecável observância de direitos e liberdades religiosas forneceu à Igreja católica um balão de oxigénio. A Lei Básica estabelecia que a evangelização, a educação, a saúde e a assistência social ou a comunicação social católica haveriam de permanecer sob o critério da diocese. Depois dos já longínquos episódios da Revolução Cultural, a respeitabilidade também tinha sido recuperada e a pujança financeira garantia optimismo ao futuro próximo da Igreja. Como D. Domingos Lam não se cansava de dizer, dinheiro não era um problema: além das numerosas propriedades na região, a diocese contava com acções e títulos, contas a prazo, um fundo de reserva e investimentos nas bolsas de Nova Iorque, Hong Kong e Londres.

Esta proclamada autonomia financeira da diocese mereceu uma resposta do desassombrado padre Manuel Teixeira, no extinto Comércio de Macau: “Valha-nos S. Bárbara, se o dinheiro é critério de grandeza. Cristo nada possuía e os Apóstolos também não. […] Vade retro, pataca, patacarum e millones millionorum”.
Se, por um lado, a confiança do bispo Lam tinha fundamento, por outro, o comentário de monsenhor Teixeira escondia um alcance profético. É verdade que a dita solidez financeira permitiu garantir toda a rede de infra-estruturas e a integridade do património da Igreja, mas por si só era condição insuficiente para desviar o curso da história. Por dois factores.
Primeiro, a mentalidade a que se referia D. Arquimínio Rodrigues da Costa, em 1987, continuava por mudar. A cristalização institucional e a perda de terreno junto das novas populações imigrantes – assediadas por outras confissões e seitas religiosas.
Chegados aqui “estamos muito fragilizados”, diagnostica o antigo superior dos jesuítas de Macau, Luís Sequeira, radicado aqui desde os anos 70. “A nós, falta rasgo, coragem e inteligência para desafiar esta situação. Por um lado”, continua, “temos a City of Dreams, por outro a Cidade do Nome de Deus. Diria que a Igreja não pretende entrar na luta porque ela é dinossáurica, mas pode fazer acções onde a dimensão de Deus é proclamada e vivida”.
A denúncia evangélica dos problemas sociais de Macau não é uma voz isolada. Com Sequeira estão o clero e a hierarquia, e todo o discurso ambiente.

 

Substituto

 

“D. Domingos tinha uma característica que não tinha nada que ver com a de D. José Lai. Enquanto D. José Lai estará mais próximo do actual Papa, mais preocupado com as questões da evangelização, o anterior era um operário que procurou preparar muito bem a Igreja para os tempos da transição e acautelar o vasto património da Igreja”, assinala Gilberto Lopes, jornalista, católico, aqui residente há cerca de duas décadas e, actualmente, director do canal em português da Rádio Macau. “Mais complicado e preocupante, é que a Igreja vive um drama com a falta de sacerdotes e de celebrações em português”. Daqui o certo sentimento de orfandade dos veteranos portugueses e macaenses sobre a eventualidade de uma redução drástica de missas celebradas em português.

Fosse o seminário maior, capaz de reter em Macau os actuais alunos do curso de Estudos Teológicos da Universidade de São José, que ali funciona, e as esperanças seriam outras. Acontece que as orientações do actual prelado privilegiam a vivência comunal e dois dos quatro seminaristas que recentemente tomaram votos foram enviados para o seminário de Hong Kong. “Aqui é difícil”, assegura o prelado.
O drama das vocações é o drama de uma Igreja que, ao longo desta década, também derrapou na sua tradição devocionista, e em que a iniciativa dos leigos permaneceu fraca e a dos sacerdotes, no contacto com os fiéis, tímida. Continua a faltar um plano pastoral que oriente as várias comunidades e esta carência complica a evangelização e as vocações.

 

Comunhão e separação

 

Outro problema prende-se com a unidade da Igreja local. Os momentos de congregação entre as comunidades católicas escasseiam. Na prática, as comunidades ignoram-se e os encontros de comunhão são raros.
A medida do distanciamento é patente no número de missas bilingues. Das 30 eucaristias dominicais actuais (em 1997 eram 43), incluindo as antecipadas, só em São Francisco Xavier, Coloane, existe uma celebração bilingue (a mesma situação de há 13 anos). Prejudicado fica o valor da unidade, como acena João Eleutério, docente, sacerdote, em Macau há cerca de um ano, coordenador do Centro de Estudos Teológicos da Universidade de São José, instalado no seminário homónimo. “Há uma opção que deve ser feita. Podemos querer salvaguardar as diferenças culturais e acho que é importante, mas há que entender – e a fronteira é ténue – até onde é que a salvaguarda da diferença não será factor de divisão em vez de factor de comunhão”. “Ora”, prossegue, “o papel da Igreja é gerar comunhão”.
Outro dos escolhos do aggiornamento da Igreja católica refere-se a um aspecto orgânico. Ao longo dos anos a autonomia de movimentos e congregações, tão próximos de expressões pré-conciliares quanto adversários do aprofundamento do diálogo ecuménico ou de experiências eclesiais de abertura ao laicado e aos não-crentes, cresceu.
Neste quadro, a escola – pouco menos de metade das instituições de ensino está sob tutela católica – é uma esperança de renovação. Adam Conroy, sacerdote irlandês, aqui estabelecido desde 1975, docente no Instituto Salesiano concorda com a urgência em dar testemunho de valores de Cristo. “Na escola, temos oportunidades de passar a mensagem, seja nas aulas, ou em actividades no recreio”. “Trata-se de pequenas coisas como encorajar os rapazes a ajudar os pobres ou a falar de Cristo”. Só que as barreiras são inúmeras. “O problema é que os miúdos não lêem” e, por isso, “reagem com monotonia e aborrecimento! A vida hoje é demasiado confortável. Acho que essa é a principal razão”.

 

Festa é filipina

 

No outro lado do espelho estão os filipinos. O padre Conroy foi também um dos pioneiros no contacto com as comunidades imigrantes. Conhece os problemas e as dinâmicas da que é actualmente uma das maiores comunidades católica, e cuja actividade religiosa descreve com nítido comprazimento. “Cada celebração é uma festa. É uma comunidade muito dinâmica, de grande entreajuda, muito distinta de qualquer outra”. Os filipinos associam-se, “estão muito virados para a família, para o trabalho”. A Igreja também tem vindo a implicar-se mais na vida dos leigos, em especial, na dos filipinos, em questões como o recrutamento ilegal. “Avisamos sempre para que não venham para Macau se não tiverem a documentação em regra”, ressalva o sacerdote.
Um dos últimos ordenados pelo bispo Lam, Domingos Un, é descrito como um exemplo de dedicação paroquial e pastoral. Oriundo de uma família desprovida, formado sob o amparo da Igreja católica, o pároco de São Lourenço é um operário de Deus, com evidentes filiações ao espírito do Vaticano II. Nada do que é social lhe é estranho, e os efeitos microscópicos do sistema também não. “A influência dos casinos é um dos maiores problemas que os nossos fiéis enfrentam. As pessoas têm de trabalhar mais, alguns dos paroquianos têm mesmo dois empregos e tudo junto leva a que, por exemplo, as crianças passem o dia inteiro sozinhas” e “acabam muitas vezes por não ir à escola”.
A composição étnica da paróquia, frequentada sobretudo por chineses e filipinos, é um espelho socio-económico do desenvolvimento desta década. Se o nível de vida subiu, o custo acompanhou sem que os benefícios se democratizassem. “Materialmente as pessoas estão melhor! Espiritualmente, mais pobres. Tudo cresceu depressa demais. Sem alma”, proclama, em síntese. “Há problemas de dívidas ao jogo, famílias que ficam sem dinheiro para comprar comida para as crianças ou para pagar a casa. Mas esses vão à Caritas”.

 

Operários de Deus

 

O padre Conroy foi também um dos pioneiros no contacto com as comunidades imigrantes

O secretário-geral da Caritas Diocesana de Macau é uma figura cuja reputação remonta aos finais da década de noventa, erguida na consciência política que coloca na sua intervenção pública. Paul Pun é um barómetro social. “A Igreja e a sociedade devem andar pari passu”, reflecte. “A sociedade não pode perder a espiritualidade. Hoje as pessoas estão satisfeitas com mais dinheiro e isso é benéfico para Macau. Só que, ao mesmo tempo, é um conflito. Não queremos que venha tanta gente de fora. Somos mais proteccionistas, creio. Claro que trazem uma sabedoria própria mas o que eu digo é que essas pessoas devem integrar-se. E também devem prestar serviço à sociedade”.
O senhor Leong, residente de Zhuhai, nunca foi católico e da mensagem cristã conhece pouco. Optou pelo voluntariado na Caritas porque “é importante ajudar os outros e servi-los com o meu coração.” Não se confessa budista e não frequenta os templos. Mas gosta de sentir-se útil.
De precariedade social é feito o testemunho dos três missionários combonianos que dirigem a paróquia de São José Operário, no norte da cidade, junto à fronteira com o Interior chinês. A simples presença dos combonianos indica que se trata de um território problemático. Dormitório dos novos imigrantes laborais chineses, com uma densidade populacional que se acentuou, nos últimos cinco anos, a área geográfica sob a alçada de São José Operário constitui uma das zonas mais impermeáveis à acção evangelizadora. É a única paróquia que celebra missa em mandarim, aos domingos às 20h30. “Ali não há muitos católicos. Os que aparecem vêm da Taipa”, começa por clarificar Manuel Machado, o sacerdote encarregado da paróquia. “As pessoas vêm porque precisam de alguma coisa, ou, então, porque são trazidas por amigos que se interessam pelo que é a Igreja. Pessoas que quando estudaram nas escolas católicas, conheceram a Bíblia, mas nunca passaram disso”.

 

Paul Pun secretário-geral da Caritas Diocesana de MacauNão fosse a selva urbana – “no início, tentámos visitar as famílias nas casas delas, tudo prédios altos, só que não estavam muito dispostas a abrir as portas” – seria, sobretudo, a desconfiança cultural que ainda hoje os religiosos enfrentam. O próprio método de conversão implica um esforço incompatível com as condições laborais dos iniciados: um catecumenato de dois anos preparatório do baptismo porque “importa perceber os valores que o Evangelho propõe e ver se estão dispostos a assumi-los na vida”. Daí que alguns, passado tempo, se afastem “porque tiveram certas expectativas, ou as ideias que tinham saíram frustradas, ou então porque, de facto, devido à carga de trabalho, não têm tempo e o catecumenato exige dedicação”, repara Manuel Machado. Ou, adianta ainda, “porque alguns, num certo momento, acreditam que não é chegado o momento de adesão”.

 

A pressão familiar está na origem desta deserção: “dizem: ‘a minha mãe não me deixa porque me pergunta quando ela morrer quem é que vai cumprir os ritos funerários’. São barreiras culturais.” E os valores propostos pelo catolicismo ultrapassam, com dificuldade, esse obstáculo. “Vamos um bocadinho contra o ar dos tempos, contra algumas práticas mais tradicionais. Numa sociedade muito materialista, dizemos que há coisas mais importantes que o dinheiro, que a moda, que o prazer”. “Há que fazer escolhas e opções”.

 

 

O império que Deus fez

A história multissecular da presença católica, na Ásia, transparece na actual demografia católica na região. Há dez anos, as comunidades portuguesa e chinesa eram hegemónicas, em termos culturais. Hoje, esse domínio mantém-se mas novos protagonistas estabeleceram-se e organizaram-se – a comunidade de falantes de inglês, filipinos, australianos, americanos, já para não mencionar as minorias vietnamita, indonésia ou birmanesa, e os novos lusófonos.

Este mundo plural, atomizado, invisível, emerge nas ruas de Macau todos os anos, por altura das procissões de Nossa Sra. de Fátima e do Senhor dos Passos.
Quem se desloca a Macau fá-lo na expectativa de encontrar aqui uma vivência autêntica da fé católica, apostólica, romana, ou no caso da procissão de Fátima, atraído pela representação ritualista e singular do culto mariano.
É suficiente frequentar as ruas da cidade durante estas celebrações para constatar a afluência de peregrinos às festas e aos santuários de Macau. A 13 de Maio, no Largo Senado, na cauda da procissão, lá está, pela primeira vez, uma família malaia, oriunda de Kuala Lumpur no encalço da caminhada para a colina Penha, onde se situa a Ermida de Nossa Senhora da Penha. Maibel Samuel é atropelada pelas vozes convulsas e excitadas dos seus familiares que pretendem justificar a viagem. Lembram que precisamente àquela hora, o Papa estava, em Fátima, a celebrar missa. Por isso, estão em Macau, a 13 de Maio. E “porque é um dos santuários mais importantes na Ásia”!
Meã de altura, Mabel, trinta anos, dentes brancos de piano, explica o fervor por Fátima. “É muito importante para mim porque deixou uma mensagem de conversão dos pecadores. Vim com a minha família porque ouvimos dizer que aqui se celebrava o 13 de Maio e, na Ásia, Macau está muito próximo de nós.
Bem mais avançada na procissão do que a família malaia está a religiosa indiana Maria Rajinn, de Bangalore. “Em Bangalore, fazemos as procissões em redor das igrejas mas isto de ir caminhando pelas ruas da cidade, e durante tanto tempo, é completamente novo para mim. Acho que há aqui uma maior devoção à Virgem Maria”. A crente enuncia as “grandes experiencias pessoais” por que passou e insiste que foi a fé que a livrou de doenças graves. Num país de acentuada hierarquia social, tratar todos por igual arrisca a subversão. “Tratamos todos como nossos irmãos embora prevaleça o sistema de castas. Mas nós seguimos os ensinamentos da Igreja católica e tratamos todos por igual.”
Se, no Serviço Diocesano de Peregrinações, não há informações sistematizadas sobre esta afluência turística a Macau, quem está no terreno conhece o interesse dos turistas pelo património religioso.
Anna Leong, a secretária desse serviço, chinesa de Macau, é uma das guias turísticas que desde a inscrição do centro histórico de Macau no património da Unesco, em 2005, sob a orientação do vigário-geral, dedica grande parte dos seus itinerários às igrejas da cidade. São, sobretudo, os turistas de Hong Kong, da Malásia, e agora também da Coreia do Sul e do Japão os mais interessados nestes itinerários religiosos.
Anna Leong torna hoje as pequenas igrejas de Macau no livro sagrado dos novos pagãos. Não que espere conversões, “mas há pessoas que choram muito quando lhes conto estas histórias dos santos, e da fé. Choram muito!” – conta a guia. Ela própria recém-convertida e de uma forma assim prosaica, uma fulguração, uma epifania. Foi quando escutou o evangelho o capítulo sete de Mateus, aquele cujos versículos proclamam que não haverás de julgar se não quiseres ser julgado. Passou a frequentar a missa, lentamente, a participar nos encontros organizados pela paróquia até que finalizou no baptismo, em 1995. “Tornei-me melhor pessoa. Espiritualmente, como mãe, de todas as maneiras”. Reza várias vezes ao dia – “por mim, pelas pessoas da família, pelos doentes, pelo meu trabalho”. “Fico muito relaxada, preparada para me abrir ao mundo, enfrentar os problemas”, diz, envergonhada com o rubor na face. “Isto é muito pessoal, sabe!”. A entrada de Cristo na vida da senhora Leong acabou por atrair marido e filhos. Culturalmente a família Leong permance chinesa – todos festejam o ano novo lunar, os quatro comem as iguarias, vão ao ta pi lu, lançam panchões em busca de fortuna, e nos, dias dos mortos, não deixam de honrar os seus de acordo com os ritos tradicionais. Um sincretismo que, todavia, não entra no templo budista.
Ascéticos na crença como nas festividades cristãs, os Leong celebram o Natal, assistem à missa do Galo, na sé catedral, mas dispensam o pinheiro ou a iconografia ocidental, embora lá em casa sejam frequentes as imagens e os crucifixos; jejuam na sexta-feira de Paixão. Porém, descartam a azáfama das procissões -”muita gente, muito barulho, muita confusão”.