Viver em subgrupo

No fim dos anos 90, começaram a ser contratados os primeiros pilotos brasileiros, mas foi entre 2005 e 2007 que se registou o boom, dada a falência de companhias aéreas daquele país da América do Sul, como a Varig e a VASP. Alguns foram partindo e não tem havido contratações. Desses 60, agora sobram duas dezenas

 

A comunidade está longe de ser unida, com os brasileiros a juntarem-se em função das áreas profissionais. Há o grupo dos pilotos, dos dançarinos, dos religiosos, entre outros. Mas qual é o maior núcleo? Uns falam nos pilotos, mas há quem diga que estes já foram ultrapassados pela indústria do entretenimento.

No fim dos anos 90, começaram a ser contratados os primeiros pilotos brasileiros, mas foi entre 2005 e 2007 que se registou o boom, dada a falência de companhias aéreas daquele país da América do Sul, como a Varig e a VASP. Alguns foram partindo e não tem havido contratações. Desses 60, agora sobram duas dezenas.

Leonardo Araújo foi um desses pilotos. Natural do Rio de Janeiro, chegou a Macau, em Janeiro de 2007. Para ele, a adaptação foi fácil, mas, para a mulher, nem tanto. A profissão obriga a que Leonardo esteja fora mais de duas semanas num mês, e a mulher foi quem mais sentiu na pele o peso de morar noutro local.

 

Dança Brasil!

Apesar de não haver estatísticas oficiais e de se tratar de um grupo particularmente instável – vêm com contratos por um determinado período, partem para outro sítio e muitos regressam (ou não) a Macau -, dizem as pessoas da área que, neste momento, contam-se mais de duas dezenas de profissionais ligados à indústria do entretenimento.

Andreia Siqueira tem 27 anos, é natural de São Pedro, no interior de São Paulo e trabalha como dançarina em Macau. Chegou ao território em 2007 e, desde então, já passou pelo StarWorld e pelo hotel-casino New Century.

Por seu turno, Giovanna Leoni, natural de Curitiba, participou numa audição em Macau, para executar um show de dança de salão, no hotel-casino StarWorld, em 2007 e aqui ficou. Seguiu-se uma temporada no casino Sands, acabando por ir parar ao City of Dreams.

Este tipo de dança – o chamado estilo livre, comum nas discotecas locais – foi uma novidade para ambas. No Brasil, Giovanna trabalhava numa companhia de dança de salão, enquanto Andreia fazia dança do ventre e samba.

 

Pregar em diferentes línguas

A Macau acabaram por vir parar meia dúzia de pastores evangélicos e um padre católico, que integra a Igreja de São Francisco Xavier, oriundos do Brasil.

O Ministério Internacional Emanuel, de que João Félix é o pastor sénior, é a única igreja evangélica brasileira em Macau. Mas há mais pastores brasileiros, integrados noutras igrejas evangélicas.

João Félix chegou há 13 anos, pronto para concluir aquele que julgou ser, na altura, o último trabalho de evangelização da comunidade portuguesa – estava-se então, em plena época de transferência de administração de Macau para a China.

Era suposto permanecer em Macau não mais do que dois anos, mas, entretanto, casou-se e teve filhos, não pensando, para já, num regresso a Brasília, a terra de origem.

Assim, hoje em dia, apesar de a sua igreja destinar-se fundamentalmente a comunidades lusófonas, já acolhe filipinos e chineses.

Por seu turno, Pedro Reghelin, natural do Rio Grande do Sul, integra a missão da Igreja de S. Francisco Xavier, em Macau, há 14 anos. Antes de se fixar em Macau, aprendeu chinês na Universidade de Hong Kong.

Habituado a viajar atrás da sua missão, quando chegou a Macau apenas estranhou a língua. Hoje, passa dias sem falar português. Não sabe o número de fiéis, mas afirma que está a crescer. “Ao domingo, temos três missas em chinês e 500 ou 600 pessoas a assistir.”

 

Macau e a comida brasileira

Há três restaurantes brasileiros em Macau: o Yes Brasil, o Churrascão e o Fogo Samba. Recorrendo a estilos bem diferentes, procuram trazer um pouco da cultura e comida brasileira a Macau.

Com as portas do Yes Brasil abertas há já 13 anos, Maria de Jesus, natural de Goiás, consegue atrair muitos clientes. Ao seu restaurante, vêm muitos brasileiros. “Querem comida caseira, arroz, feijão e batata frita”, declara. E não só. Os portugueses também por ali passam, bem como os chineses.

Maria chegou a Macau há 20 anos, acompanhando o então marido. Entrou no negócio da restauração, depois de uma passagem por um jardim de infânciajardim-de-infância. Começou com um pequeno espaço, no Park’N Shop, um supermercado local, mas, em 2000,  mudou-se para a zona do Largo do Senado. E dali já não quer sair.

 

Churrasco à moda dos gaúchos

Em 2007, Iuri Volcato – o gerente, natural de Rio Grande do Sul – estava a trabalhar em Hong Kong, quando foi abordado por um investidor norte-americano com uma proposta. Deslocou-se então ao Brasil, com o objectivo de investigar outras churrascarias e contratar funcionários. Pouco depois, o Fogo Samba abria.

Com o tempo, o núcleo inicial de dez brasileiros ficou reduzido a três: Iuri, o chef de cozinha e o barman. Cada um tem uma função estratégica, garantindo, assim, a autenticidade do local.

Quem ali vai pode esperar uma típica churrascaria. São servidos “15 diferentes espetos [de carne]”. Os materiais utilizados para o churrasco bem como as roupas de gaúcho utilizadas pelos funcionários vêm directamente do Rio Grande do Sul.

Natural de Rio Grande do Sul, Iuri cresceu no que se costuma chamar um rancho, habituada a esta coisa dos grelhados. Já há 20 anos fora do Brasil, tendo circulado por diferentes locais, acabou por vir parar primeiro a Hong Kong e depois a Macau. Aqui adaptou-se bem, dada a dimensão e segurança. Só lhe falta uma “praia bonita”.

 

Um rodízio luso-brasileiro

Já tinha um restaurante francês, mas, há três anos, Eric Peres resolveu abrir o Churrascão. A sua mulher é brasileira, do Rio de Janeiro, e a opção por um espaço do género acabou por ser natural.

Quem por ali passa tem garantido um buffet com diferentes tipos de carnes, saladas, quatro pratos quentes e feijoada. E este português, de origem francesa, tenta garantir que o seu restaurante seja autêntico.

O chef de cozinha é brasileiro e os produtos, tanto quanto possível, são naturais de lá. “O mais importante é usar produtos brasileiros”, diz Eric Peres, referindo-se a algumas carnes, cachaça e doces. E onde encontra Eric esses produtos? Uns são por ele directamente importados; outros consegue através de distribuidoras locais.