Um modelo para o futuro

O Governo estabeleceu o ano de 2020 como o de conclusão do seu primeiro plano de políticas amigas do ambiente. São seis estratégias que prometem tornar Macau uma cidade de baixo carbono

 

 

O plano está traçado: Macau vai ser um exemplo de cidade verde. O compromisso foi anunciado e confirmado durante a quarta edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa), em Março. O certame ambiental trouxe uma lufada de ar fresco na área de alternativas mais amigas do ambiente nos seus 16.500 metros quadrados da área de exposição. Cerca de 300 empresas de 24 países e regiões mostraram os seus 540 projectos de investimento dentro do tema “Desenvolvimento Urbano de Baixo Carbono”. O grande objectivo do evento anual é “promover a cooperação regional e internacional na área da protecção ambiental, criar oportunidades de negócio para empresas neste sector e servir de plataforma de intercâmbio entre governos e académicos”, explica Jackson Chang, presidente do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM).

O Executivo da RAEM quer passar as ideias verdes do papel à prática e assumiu o compromisso público de tornar-se num exemplo. “O Governo tentará promover o desenvolvimento urbano de baixo carbono por todos os meios para corresponder às políticas nacionais de protecção ambiental e ao protocolo de Quioto”, afirmou Fernando Chui Sai On, Chefe do Executivo, no seu discurso de abertura do MIECF.

Realçando que Pequim definiu o posicionamento futuro de Macau como centro internacional de turismo e lazer, o líder do Governo salientou que a região vai aproveitar a oportunidade para concretizar as estratégias de protecção ambiental e desenvolvimento sustentável. Uma das primeiras medidas concretas é a introdução gradual de estruturas para redução de emissões de gases poluentes. A seguir, entram em campo o desenvolvimento das energias renováveis, a promoção do consumo amigo do ambiente, o aperfeiçoamento das infra-estruturas de protecção ambiental, a revisão da legislação ambiental e um maior controlo da poluição.

O prazo também já está definido: 2020. Até lá, Macau prevê concluir o seu primeiro plano de protecção ambiental, no sentido de se transformar numa região modelo, em cooperação com a Província de Guangdong e com Hong Kong. No “Quadro Geral do Planeamento Conceptual da Protecção Ambiental de Macau (2010-2020)”, o Executivo pretende ver implementadas e concretizadas as “seis grandes estratégias” verdes – o melhoramento do ambiente habitacional, o incentivo para a conservação de recursos, a participação no Passeio Ecológico, a conservação do património mundial e preservação ecológica, a implementação de medidas de redução das emissões das empresas, e a integração regional. Estas estratégias, segundo o Governo, têm por objectivo contribuir para proteger o ambiente e transformar Macau num centro habitacional de baixo carbono.

O Governo promete concluir o processo legislativo do Fundo para a Protecção Ambiental e Conservação Energética ainda durante o segundo semestre deste ano.

O director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Cheong Sio Kei, revelou que o diploma que regulamentará a entrega de um valor de 100 milhões de patacas ao Fundo está prestes a ser concretizado. De acordo com as intenções avançadas inicialmente pelo Governo, as verbas destinam-se a financiar a instalação de equipamentos extractores de fumos nos estabelecimentos de restauração.

 

Circular sem poluir

Um dos projectos que vai avançar depois do empurrão do MIECF é uma versão do Mobi.E, uma rede portuguesa de carregamento inteligente para a mobilidade eléctrica. A EDP Ásia assinou um acordo de cooperação com a Associação Ecológica de Macau (AEM), que prevê repor os níveis de energia gastos nos carros e motociclos eléctricos  de forma simples e cómoda, uma vez que a tecnologia desenvolvida permite ao utilizador localizar e seleccionar locais de carregamento, planear trajectos, saber o estado de carregamento do seu veículo, entre outras, a qualquer momento, através do seu computador pessoal ou do telemóvel.

“O foco é a mobilidade eléctrica, nomeadamente veículos eléctricos”, disse João Marques da Cruz, administrador executivo da EDP Energy Solutions Ásia, criada em parceria com Stanley Ho e focada no mercado chinês. “Gostaríamos muito de colaborar com entidades de Macau, privadas, governamentais, para implementar um projecto semelhante ao Mobi.E, adaptado à realidade do território.”

No stand da EDP Ásia do MIECF esteve em projecção um filme sobre o projecto de Évora – a primeira ‘InovCity’ portuguesa -, em que a EDP participa, e que considera que “Macau tem condições muito boas para se fazer algo no âmbito dessa combinação de smartgrids e mobilidade eléctrica”, referiu João Marques da Cruz.

O responsável apontou como vantagens de Macau o facto de ser um “espaço pequeno, fechado, onde a questão da autonomia dos veículos eléctricos não se coloca de todo”, mas referiu ser necessário que as “entidades de Macau se juntem a outras com know-how, como a EDP, para se implementar um projecto daqueles” na região.

O responsável da EDP afirmou no entanto que, não basta existirem as condições, é também necessário que o território acredite na possibilidade de se tornar uma “Inov-City”. “Temos o know-how, mas objectivamente isto tem de ser algo em que Macau acredite e tem de partir de Macau”, sublinhou o administrador executivo da EDP Ásia.

Para a implementação de um projecto como o Mobi. E em Macau é, antes de mais, necessário desenvolver um “processo integrado, criar todo um quadro legal, e Portugal tem experiência com esse projecto e que é uma referência mundial”, realçou. João Marques da Cruz especificou que esse processo terá de passar pelo “licenciamento de veículos eléctricos, criação de standards técnicos, uma rede de postos de abastecimento, uma interligação entre esta rede e produtores de electricidade e com os consumidores para que tenham reais benefícios de utilização”.

No âmbito do projecto português de mobilidade eléctrica Mobi.E, até ao final deste ano, 25 municípios portugueses terão mais de 1300 postos de abastecimento e em 2015 mais de 4000.

 

 

Números da feira do ambiente

 

– 8800 pessoas passaram pelo certame, o que significa um aumento de 10% em relação ao ano passado

– 31 protocolos foram assinados ao longo dos três dias

– 625 projectos relacionados com investimento verde e agenciamento de produtos ecológicos foram registados

– 574 sessões de contactos, parcerias e negócios, ou seja, mais 38% do que em 2010, 167 das quais relacionadas com o sector da hotelaria

– 70% das partes envolvidas nos 63 protocolos firmados é de Macau e as restantes são do Interior do País, Hong Kong, Taiwan, Holanda, Portugal e Canadá

– 6 acordos referem-se a veículos amigos do ambiente

– 324 expositores

– 24 países e regiões, incluindo a representação de algumas das mais famosas companhias e instituições em todo o mundo

– 22,5% foi quanto cresceu a área de exposição

– 7 sessões de debates

– 70 oradores de 11 países e regiões

– 200 alunos e professores de escolas do território fizeram uma visita guiada à exposição