O futuro no correr de um rio

É um dos mais badalados projectos onde Macau se insere, mas ainda há muito para saber sobre o desenvolvimento da Região do Delta do Rio das Pérolas

 

 

Texto Joana Freitas

Fotos Carmo Correia

 

São nove cidades mais as duas regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong. A cooperação com a Região do Delta do Rio das Pérolas é a aposta do território para reforçar a integração regional e impulsionar a diversificação económica da RAEM.

Os benefícios de cooperação com cidades pertencentes à Região do Delta do Rio das Pérolas são já visíveis. “Ambos os Governos de Macau e da Província de Guangdong estão a unificar a cooperação e isso foi já importante para que esta zona do Rio das Pérolas fosse desenvolvida. Estamos já a explorar Hengqin (Ilha da Montanha), que antes era uma ilha deserta”, explicou Alexis Tam, porta-voz do Executivo de Macau.

Em Hengqin está em construção o maior parque temático do mundo e, no fim deste ano está prevista a abertura do novo campus da Universidade de Macau.

É precisamente neste local que Macau adopta uma das estratégias apenas possíveis com a cooperação entre as regiões: a expansão territorial. “Em Macau, queremos diversificar a economia e isso é difícil porque não temos terreno”, explica Alexis Tam. “Agora, temos mais cinco quilómetros quadrados para desenvolver, para diversificar a nossa economia e a nossa indústria.” O espaço da Montanha dedicado a Macau é apenas um pouco mais pequeno que a ilha da Taipa e é mais uma forma da RAEM conquistar terra ao Rio das Pérolas.

A aposta aqui é que Macau consiga mais além do jogo. “Os cinco quilómetros quadrados da Ilha da Montanha – onde vamos cooperar com Guangdong – vão servir para investir e tornar a nossa indústria mais diversificada: o parque de medicina tradicional chinesa, o desenvolvimento das indústrias criativas e industriais e a educação, com o novo campus da Universidade de Macau”, frisa Alexis Tam.

A Universidade de Macau em Hengqin – com 1,9 quilómetros quadrados -, será 20 vezes maior do que a actual infra-estrutura na Taipa, dimensão que traz mais alunos chineses, estrangeiros e dos países lusófonos.

 

Planos rio afora e com a lusofonia

A Região do Delta do Rio das Pérolas inclui as cidades de Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Jiangmen, Dongguan, Zhongshan, Huizhou e Zhaoqing, além das regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong. Com uma economia especialmente centrada nas exportações – 40 por cento do total das que existem no país -, esta zona é fulcral para o crescimento das receitas do Interior da China. Juntas, estas nove cidades representam mais de dez por cento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês e geram 80 por cento do produto de Guangdong. Se Guangdong, Macau e Hong Kong fossem consideradas como uma única entidade económica, o seu produto interno bruto seria o quarto maior da Ásia, logo a seguir ao Japão, Coreia do Sul e Índia.

Com Guangdong na dianteira das exportações – mas a depender inteiramente delas -, a intenção do planeamento passa por criar indústrias diversificadas e ligadas às novas tecnologias e inovações. Prevê-se já a criação de pelo menos 100 laboratórios na área da engenharia e pesquisa. A manufactura moderna consta também nos planos para esta região.

Guangdong é, sem dúvida, a que maior cooperação mantém com Macau e a assinatura, em 2011, do Acordo-Quadro de Cooperação entre as duas regiões veio reforçar isso. Mas entre as mais de duas dezenas de cidades nesta província, há uma que se destaca. “Zhuhai é muito perto de Macau e essa proximidade faz com que Zhuhai seja a área mais importante. Não precisamos de apanhar transportes, passamos a fronteira a pé. Zhuhai está a desenvolver-se de forma rápida e, por isso, intensificar a cooperação é melhor. Sem dúvida que o Acordo-Quadro de Cooperação Guangdong-Macau tem grande ênfase em Zhuhai”, explica Alexis Tam.

 

Os amigos de Macau

Atingir o objectivo de transformar Macau num centro de turismo e de lazer a nível internacional, contando com as outras regiões do Delta para diversificar este sector, e não oferecer apenas “casinos” aos visitantes, é o maior e mais debatido objectivo do território.

A cooperação entre as regiões do Delta do Rio das Pérolas permite precisamente conjugar esforços que conduzem a um ritmo mais acelerado de desenvolvimento. A intenção – dado que Macau enfrenta dificuldades em não estar tão dependente do sector do jogo – é que quem visite o território possa encontrar o que procura noutras regiões.

O Governo Central oferece, por isso, a possibilidade do Delta construir infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias para uma locomoção mais facilitada dos residentes e visitantes. Segundo o plano de desenvolvimento, o objectivo é que as viagens entre as regiões se façam em uma hora ou pouco mais. Para isso, o sector dos transportes está a desenvolver-se a alta velocidade, com comboios e sistemas de metro a diminuírem as distâncias.

Também as fronteiras passarão no futuro a estar abertas 24 horas, de forma a que quem trabalha e reside em regiões distintas dentro do Delta possa circular livremente. Neste aspecto, por exemplo, estuda-se a implementação da isenção de visto por 144 horas.

Os automóveis não foram esquecidos: um dos projectos mais prementes para ligar os dois lados do delta é a ponte Hong Kong – Macau – Zhuhai, cuja conclusão está apontada para 2016.

As metas estão traçadas e as regiões cheias de planos. Para Macau, o território pode desenvolver-se três vezes mais do que o seu actual tamanho, conjuntamente com a sua economia. “Vamos ter mais facilidade de contratar pessoal e trazer serviços e bens”, prevê Alexis Tam.

Com a cidade de Zhuhai cada vez mais a afirmar-se como centro industrial de alta tecnologia, a RAEM poderá beneficiar dos sectores de electrónica, software, biotecnologia e farmácia bem como as indústrias petroquímicas.

Estima-se que cerca de 60 mil empresas de Hong Kong têm 53 mil das suas fábricas no Delta do Rio das Pérolas, o que pode proporcionar oportunidades de emprego para mais de um milhão de pessoas. Entre elas, podem estar os residentes de Macau.

Apesar das barreiras que se impõem entre as regiões – como os diferentes sistemas jurídicos e legislativos – Alexis Tam mostra-se confiante no sucesso da cooperação. “Esta zona vai tornar-se um pólo internacional no sector dos serviços e do turismo. Vai ser a zona mais dinâmica do mundo. Não tenho dúvidas nenhumas que, com este ritmo, todas as áreas do Delta do Rio das Pérolas vão ter um desenvolvimento impressionante.”

Além do importante papel de complementaridade, o desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas deixa ainda outro marco na colocação da China no palco mundial, já que mostra uma política pioneira de abertura ao exterior.