Cabo Verde quer mais de Macau

Visita do Primeiro Ministro cabo-verdiano José Maria Neves
O primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, passou em Julho pelo território, depois de participar na quinta conferência ministerial do Fórum de cooperação China-África em Pequim. Além de querer mais investimento de Macau, o dirigente explicou que tem uma parceria firmada com o empresário local David Chow ainda por concretizar

 

Visita do Primeiro Ministro cabo-verdiano José Maria Neves

 

Mais investimento de Macau em Cabo Verde é o que quer José Maria Neves, primeiro-ministro cabo-verdiano, que realizou em Julho uma visita oficial a Macau com o objectivo de reforçar laços económicos e reunir-se com a comunidade cabo-verdiana. A aposta passa por atrair mais investimento e travar novas parcerias para que empresários da RAEM se estabeleçam no país africano.

“Macau é uma importante plataforma da República Popular da China para o relacionamento com os países de língua oficial portuguesa. Mas também há aqui algumas empresas e interesses. Queremos reforçar as relações económico-empresariais e a nossa ideia é continuar a trabalhar para levar mais investimentos de Macau para Cabo Verde e, sobretudo, procurar que haja parcerias entre empresas cabo-verdianas e de Macau”, disse durante um encontro com a comunidade cabo-verdiana residente na RAEM , no dia 22 de Julho.

Chui Sai On, Chefe do Executivo da RAEM, reagiu bem ao repto lançado por José Maria Neves, afirmando, durante um encontro em Santa Sancha, que há mais potencial para desenvolver acções de cooperação com Cabo Verde nos ramos do comércio, turismo, cultura e desporto. Com a comemoração de uma década de existência do Fórum Macau, no próximo ano, o líder do Governo de Macau espera que haja um fortalecimento do papel do território como plataforma de serviços comerciais que contribuem para o fortalecimento das relações de cooperação com Cabo Verde.

O dirigente cabo-verdiano, que visitou a RAEM pela primeira vez há oito anos, frisou as grandes mudanças no modelo de desenvolvimento do território, em especial no sector do turismo, que representa uma dinâmica impulsionadora da economia geral. José Maria Neves acredita que através da ponte de ligação, o Fórum, Cabo Verde e Macau podem procurar formas de colaboração nas mais variadas vertentes, incluindo no desenvolvimento do turismo de lazer, formação de pessoal, assim como no intercâmbio, formação e aprendizagem nas ciências e tecnologias, medicina e administração pública.

 

Parceria para casino

José Maria Neves reafirmou o interesse no projecto do empresário local David Chow, que é cônsul honorário de Cabo Verde na RAEM, de construir um resort com hotel e casino integrados no arquipélago. “Cabo Verde está aberto à construção do casino. Temos já toda a legislação preparada, temos todas as condições institucionais para o desenvolvimento de casinos no país e, portanto, quando estiver concluída a engenharia financeira de David Chow, este pode fazer os investimentos nessas áreas”, referiu o dirigente cabo-verdiano.

O projecto ainda não foi mais longe, segundo o primeiro-ministro, devido à falta de “mobilização de recursos” financeiros. “São investimentos avultadíssimos que exigem a mobilização de muitos recursos.”

 

Ajuda financeira

O primeiro-ministro afirmou ainda que o seu país conta com a China para conseguir mais de 500 milhões de dólares de que necessita para desenvolver infra-estruturas essenciais. Depois de uma visita de sete dias a Pequim, Shenzhen e Macau e de uma participação na quinta conferência ministerial do Fórum de cooperação China-África, José Maria Neves partiu com a garantia de um apoio ao desenvolvimento do seu país de 21 milhões de dólares americanos dada por Pequim e com a ambição de reforçar as relações com a segunda economia mundial. “O pacote de 21 milhões é um donativo de cerca de 8,5 milhões e um empréstimo sem juros de cerca de 12,5 milhões”, explicou o chefe do executivo cabo-verdiano, salientando que a sua visita à China “ultrapassou todas as expectativas”.

Ao indicar que este financiamento será investido em “áreas como o ensino superior, a formação profissional, a construção de algumas infra-estruturas na área cultural e no domínio da administração”, José Maria Neves realçou que o objectivo do seu Governo “é alargar [os apoios para] muito mais do que os 21 milhões”. “Estamos a falar em grandes infra-estruturas que poderão ultrapassar os 500 milhões de dólares no domínio dos portos, aeroportos, estradas, telecomunicações, energias renováveis, portanto há áreas muito grandes e a nossa ambição também é grande de reforçarmos as relações com a China”, sustentou.

Os projectos em carteira no arquipélago, apontou, passam pela construção do porto de águas profundas no Mindelo, de outros portos, “designadamente nas ilhas do Maio e São Nicolau”, do terminal de cruzeiros na ilha de São Vicente, o desenvolvimento do porto da Cabnave do Mindelo e de “uma importante base logística das pescas”. “Estamos a falar entre 500 milhões e 600 milhões de dólares que Cabo Verde precisará para desenvolver essas infra-estruturas. Para um pequeno país, são muitos recursos, mas a nossa ambição é de podermos chegar lá com esta parceria com a China”, disse.

José Maria Neves lembrou a “relação muito forte” que Cabo Verde tem com a China desde a independência do arquipélago, em 1975, salientando que agora se pretende “elevar o patamar deste relacionamento, construir uma parceira estratégica em domínios muito importantes do desenvolvimento” do arquipélago. “Cabo Verde é hoje um país emergente, de rendimento médio, queremos acelerar o ritmo de crescimento da nossa economia e temos necessidades no domínio da infra-estruturação e precisamos de recursos para esse financiamento com o contributo da China”, concluiu.

A visita de José Maria Neves à China sucede à efectuada em Março deste ano pela ministra das Finanças cabo-verdiana, Cristina Duarte, altura em que ficou definida a vontade dos dois países em abrir uma nova agenda nas relações bilaterais, virada para a cooperação económica directa. A China é um dos principais parceiros de Cabo Verde, tendo sido assinados vários protocolos e acordos que ultrapassam os 300 milhões de euros.

Em Julho de 2011, os dois países criaram a Comissão Conjunta de Cooperação Económica, Comercial e Técnica, tendo em conta as expectativas cabo-verdianas de uma maior previsibilidade na cooperação técnica e governamental, que definiu a disponibilização de um montante superior a 170 milhões de euros.

Em Cabo Verde, a China terminou ou tem em curso uma série de projectos, com destaque para as áreas sociais e de luta contra a pobreza – barragem de Poilão, maternidade e centro de consultas e enfermaria do Hospital Agostinho Neto, escolas rurais, estando em construção, de raiz, o Estádio Nacional.

Em Dezembro de 2011, as autoridades chinesas anunciaram a oferta de um importante pacote de material militar às Forças Armadas de Cabo Verde, no valor de 544 mil euros, e comprometeu-se a fornecer dois helicópteros para reforçar a Guarda Costeira cabo-verdiana, no valor de 34 milhões de euros. A aquisição insere-se no quadro da reforma das Forças Armadas, com vista a dotar a Guarda Costeira de unidades capazes de auxiliar na busca e salvamento, evacuação de doentes entre ilhas e no apoio à protecção civil, e inclui a questão da formação e manutenção dos aparelhos.

Na mesma ocasião, os governos da China e Cabo Verde assinaram na capital cabo-verdiana um acordo de empréstimo, sem juros, no valor de cerca de 3,1 milhões de euros.