Pascal Casanova

Pascal Casanova
É com comida portuguesa que o director da Alliance Française em Macau gosta de se sentar para almoçar. O estilo de vida com toque mediterrânico conquistou-o. Com ele, a instituição ganhou um novo fôlego

 

Pascal Casanova

 

Texto Hélder Beja

Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Pascal Casanova chega ao restaurante Dom Galo para almoçar depois de uma boa caminhada, que o traz desde a colina da Penha, onde fica a Alliance Française de Macau, até aos NAPE. É um dos vários percursos que costuma fazer a pé na cidade, para vir alimentar-se a esta casa de comida portuguesa que muito aprecia. O director do centro de língua e cultura francesa escolheu a mesa, nós fizemos-lhe a vontade.

Aos 35 anos, Casanova é um homem viajado. Deixou as terras gaulesas em 1998 para nunca mais voltar permanentemente. Viveu e trabalhou (sempre em missões diplomáticas francesas ou noutros centros da Alliance) na Colômbia, República Dominicana, Honduras, Rússia e China. Fala francês, inglês, espanhol e um pouco de mandarim.

A conversa segue em inglês e às vezes em espanhol. O nosso francês não chega para as necessidades, tal como o português de Pascal Casanova. De Portugal, o que o director da Alliance já conhece relativamente bem é a comida. Pede uma salada mista encimada por rodelas de ovo cozido e, para acompanhar, um queijo de cabra cortado às fatias e servido com crackers. Nós vamos para o salmão grelhado a acompanhar apenas com vegetais e, para dar a provar a Casanova, pedimos também um prato de rissóis de camarão.

Pascal Casanova é um homem dinâmico e saudável. Isso nota-se na forma como gere a Alliance e no dia-a-dia que nos descreve. Antes das 6h00, quando muitos ainda se deitam numa cidade acostumada a dormir tarde, já este francês de Nice se levanta para começar a jorna com uma corrida ou uma caminhada. Às 8h00 está na Alliance Française para mais um dia de trabalho que normalmente acaba tarde. “O nosso objectivo era tornar a instituição mais visível, mais local, mais dinâmica. Esse é o nosso ADN e está a começar a resultar”, diz-nos.

O ano de 2012 assinala um quarto de século de existência da Alliance Française. “Tivemos a felicidade de coincidir com esta data e organizámos mais do triplo dos eventos que costumávamos fazer”, contabiliza. Os concertos, exposições, workshops e outras actividades concretizadas nos últimos meses conseguiram destacar a instituição no mapa cultural da cidade. A ideia, assegura, é que a qualidade e quantidade da programação cultural se mantenham daqui em diante.

Há mais de 900 Alliance Française no mundo e na China já são 15. Em Macau, a escola de língua soma 761 alunos, contando com aqueles que ensina na Universidade de Macau, na Universidade de São José e noutras instituições. Os estudantes são na maioria chineses, mas há também alguns portugueses, uma estudante colombiana e pessoas de várias nacionalidades que trabalham em casinos ou noutras empresas internacionais.

“A nossa estudante mais nova tem 19 meses. É a aluna mais jovem de todas as Alliance Française do mundo”, ri-se Pascal Casanova. Os pais desta menina chinesa não têm qualquer ligação a França, a não ser o gosto pela cultura e pela língua, e decidiram que a filha haveria de seguir-lhes as passadas o mais cedo possível. As aulas privadas para bebés podem estar a ganhar novos interessados – a Alliance de Macau já tem um segundo pequeno aluno que começará a estudar a língua de Victor Hugo muito em breve.

A diversidade e a “óptima harmonia em que se vive” em Macau são duas das coisas que mais agradam a Pascal Casanova. “Em França o sistema falhou, temos problemas de integração”, aponta. Por cá, o director da Alliance vê diferentes comunidades a conviverem pacificamente. “Não sinto qualquer competição entre países ou línguas. As pessoas já perceberam que se ficarmos sozinhos não conseguimos fazer nada, temos de trabalhar em rede.”

É por isso que Casanova passa os dias em reuniões com instituições chinesas e portuguesas, que já resultaram em parcerias como a que culminou num ciclo de cinema organizado a meias com o Albergue SCM. Mesmo quando as iniciativas culturais não têm o dedo da Alliance Française, Pascal faz questão de estar lá, de conhecer e perceber o que está a ser feito no território.

O tempo para o lazer é curto, até porque às sextas-feiras ainda dá aulas de conversação a alguns alunos de nível avançado. Mas aos domingos há romagem obrigatória a Coloane com os amigos, novamente para aproveitar a boa comida e, com sorte, um dia de sol junto ao mar. “Ficar velho não é bem uma felicidade, mas ganha-se experiência, pode-se poupar tempo, ser-se mais rápido”, diz.

Bem disposto e conversador, o director da Alliance Française elogia a comida que já vai quase no fim, enquanto nos conta como foi sempre possível improvisar e fazer novos projectos nos países da América Latina onde trabalhou e onde a instituição que gere tem um maior papel de intervenção social. “No meio da crise temos oportunidades e temos de nos adaptar rapidamente. Estamos numa fase em que se muda várias vezes de país, de cidade, de casa, de casamento. Há quem preferisse ter vivido noutra época, eu estou feliz por estar vivo neste momento.”