A capacidade de superar

Durante mais de 100 anos o pai português da pataca, o Banco Nacional Ultramarino, tem mantido o passo em direcção ao crescimento económico para enfrentar a concorrência cada vez mais acesa em Macau. Modernizar e manter os clientes felizes são as principais metas traçadas pelo presidente da comissão executiva do banco, Pedro Cardoso

 

 

Texto Filipa Queiroz / Macao Magazine

 

“A pataca tem cumprido bem o seu papel e para esse papel muito tem contribuído o Banco Nacional Ultramarino [BNU]”, diz Pedro Cardoso. Um ano volvido desde a nomeação para o cargo, encontrámo-nos com o presidente da comissão executiva do BNU numa das várias salas de reuniões da sede do banco, no interior do histórico edifício branco e cor-de-rosa na Avenida de Almeida Ribeiro, considerado actualmente um marco histórico da cidade. Falando sobre o passado, o presente e o futuro, Cardoso não hesita em dizer que a moeda de Macau está bem estabelecida, bem como o banco emissor.

O BNU foi criado em Lisboa em 1864. O objectivo inicial era o de servir de banco emissor nos territórios ultramarinos portugueses, e contribuir para o seu desenvolvimento económico. A sucursal de Macau foi inaugurada em 1902, tal como a da Guiné-Bissau, logo depois de Angola, Cabo Verde, São Tomé, Goa e Moçambique. As primeiras notas de uma e cinco patacas aparecem em 1905. Mas 110 anos mais tarde, depois de ser nacionalizado e de se tornar uma subsidiária integral da Caixa Geral de Depósitos em 2001, o banco mantém-se apenas na agora chamada Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).

“Ao longo da vida de Macau desde essa altura, sempre com momentos bons e menos bons, nomeadamente toda aquela fase da Guerra Sino-Japonesa e da II Guerra Mundial, foi muito importante o apoio dado pelo BNU ao Governo de Macau”, lembra Cardoso. Foi o primeiro banco a emitir cartões de crédito denominados em patacas, o cartão BNU MOP Visa. “Eu diria que para além do importantíssimo papel que teve no domínio da promoção da pataca, destacaria todo o apoio dado, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, no domínio do desenvolvimento da indústria da manufactura, fosse ela dos têxteis, brinquedos ou outras áreas.” O presidente também enfatiza o papel do banco no financiamento dos empresários locais, o financiamento da construção dos principais projectos de infra-estruturas da cidade e, por último mas não menos importante, o desenvolvimento da indústria do jogo, especialmente depois do processo de liberalização.

“O BNU esteve no financiamento dos principais projectos e tem hoje em dia com essas entidades um relacionamento bastante estreito, que se traduz nos mais diferentes tipos de prestação de serviços”, explica. “Desde as caixas automáticos (ATM), terminais de pagamento automático, gestão financeira, e outras áreas.”

 

Desafio especial

“Eu já tive a oportunidade de trabalhar em várias instituições bancárias e variadíssimas áreas em quatro países e devo dizer que esta tem sido a experiência mais gratificante, pelo menos nestes primeiros 12 meses”, confessa o presidente da comissão executiva. Cardoso começou a carreira no Banco Pinto & Sotto Mayor, onde trabalhou no departamento internacional, juntando-se depois a um projecto do Banco Comercial Português (BCP), onde também trabalhou na área de mercado de capitais internacionais, planeamento e marketing. Em 1996 foi convidado para o primeiro desafio profissional fora de Portugal, tornando-se vice-gerente da Agência do Banco Comercial Português em Nova Iorque.

Regressado a Portugal, três anos depois, Pedro Cardoso continuou o trabalho no BCP, assumindo vários cargos. Em 2004 aceitou gerir o Banco Best online, uma estrutura de propriedade múltipla que compreendia um dos maiores grupos económicos portugueses, o Grupo Banco Espírito Santo. Finalmente um ano depois integrou a administração de outra instituição bancária, a Caixa Geral de Depósitos (CGD). Primeiro em Espanha, onde permaneceu durante vários anos com diferentes responsabilidades; depois em Portugal, a convite do ministro das Finanças na época, para integrar o quadro da administração.

No ano passado, Pedro Cardoso foi nomeado o novo presidente da comissão executiva do BNU em Macau, sucedendo a Artur Santos. Um desafio que considera particularmente gratificante porque lhe deu a oportunidade de “vir para um território que não só está numa fase de crescimento económico muito acentuado, mas igualmente por ser uma área particularmente multicultural”. Apesar de estar “muito bem implementado” no território, e “particularmente bem aceite pela generalidade da população e autoridades”, Cardoso acredita que o banco precisava de uma mudança. Precisava de se modernizar e preparar para  caminhar a um ritmo compatível com o crescimento da economia, e do próprio sector bancário de Macau.

 

A estratégia

“É simples”, atira Pedro Cardoso. “É diferenciar o BNU da concorrência através da qualidade de prestação de serviços.” O presidente da comissão executiva diz que o único foco de atenção do banco é o cliente e, portanto, apresentar um nível de serviço e abordagem impecáveis. Na sucursal da Avenida de Almeida Ribeiro já é possível ver a diferença. Há um novo sistema de fila de espera automático, com uma área designada para os clientes aguardarem sentados, e novos escritórios individuais à disposição para tratar de questões de gestão de conta.

O número de clientes do BNU também tem aumentado. Em Dezembro de 2012, tinha cerca de 180 mil, mais oito por cento do que no ano passado. Como Pedro Cardoso explica, o BNU tem cerca de 30 por cento da população de Macau como cliente individual. A esmagadora maioria é chinesa, seguida da comunidade portuguesa e do cada vez maior número de residentes  naturais de países como os Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, além dos residentes de outros países asiáticos como o Vietname e as Filipinas.

O banco tem 14 agências em Macau e 430 funcionários. De acordo com o presidente da comissão executiva, a aposta passa por treiná-los de forma a passarem da melhor forma aos clientes as valências dos produtos e serviços. O sentido de responsabilidade social, garante, vai ser mantido. Dando continuidade ao apoio a instituições como a Tung Sin Tong e estudantes da Universidade de Macau, bem como a outros sectores como o desporto e a cultura.

O BNU aborda o mercado de forma segmentada, através de quatro áreas de negócio: uma dirigida às grandes empresas, que compreende as principais operadoras de jogo e empresas de serviços públicos de Macau; um novo segmento que está a ser desenvolvido a um ritmo bastante acelerado que é o das pequenas e médias empresas; a banca de particulares – este ano, o banco lançou o novo serviço BNU Advantage  destinado a apoiar e prestar serviços aos clientes que precisam de ter um gerente de conta dedicado; e, por último, uma área de banca privada para os clientes institucionais de elevado património.

Além de Macau, a subsidiária da CGD tem um escritório de representação em Xangai, outro na Índia e uma sucursal em Zhuhai. Pedro Cardoso diz que o banco tem perspectivas de estabilidade a longo prazo sem depender apenas da tradição e do passado, mas em termos de perspectivas futuras. Segundo ele, a crise económica global não é uma ameaça. “O Grupo CGD está presente em 23 países, a grande maioria dos quais passa neste momento por uma acentuada fase de crescimento económico. Não se trata apenas do caso do BNU, mas também das diversas entidades que operam em diversos países.” E acrescenta: “Obviamente que o BNU tem um papel muito importante nesta fase, assim como as diferentes entidades do grupo CGD, tanto em termos de resultados como em termos de volume de negócio”.

 

Perspectivas futuras

Contratado por três anos é dentro desse prazo que Pedro Cardoso pensa “que o processo de transformação do BNU será realizado”, mas recusa-se a fazer prognósticos a longo prazo. “A minha carreira, a minha actividade profissional e vida pessoal têm-se sempre norteado em função de desafios e portanto não significa que estando no mesmo sítio não se possa ter outros desafios no futuro.”

Em 2011, o banco registou um lucro de 325,3 milhões de patacas, uma queda ano a ano de 13 por cento. Os resultados do banco foram influenciados negativamente pela subida das provisões de crédito e uma queda nas margens de lucro, devido ao aumento da concorrência no mercado. Mesmo assim, registou um crescimento no volume de negócios que rondou os 13 por cento anuais. “Um crescimento muito equilibrado”, nota. “É raro ver um crescimento equilibrado entre créditos a clientes e depósitos a clientes, portanto o crescimento foi exactamente igual de um lado e de outro do balanço do banco. Contrariamente ao que tem sido nos últimos anos o crescimento da banca em Macau, em que o aumento dos créditos é quase três vezes superior ao dos depósitos, e sobretudo este crescimento também contrasta com os dois anos anteriores, que foram anos de crescimento muito reduzido.”

Se é verdade que a concorrência teve um efeito nefasto sobre os resultados a curto prazo, nomeadamente do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) e do Banco da China, o presidente da comissão executiva do BNU diz que a competição também consegue ser positiva. Significa ter de oferecer melhor serviço aos clientes, melhores preços e, ao mesmo tempo, obrigar ao desenvolvimento de competências. “É sempre uma fonte permanente de estímulo à nossa capacidade de superação.”