Aprender com o que está a mudar

Wang Xiaokang, presidente de um grupo chinês de topo de protecção ambiental e membro da comissão de recursos e meio ambiente do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, passou por Macau no mês de Março para partilhar o que de melhor o País tem feito em prol de atitudes amigas do ambiente. A principal lição a tirar é que nenhum Governo sozinho consegue mudar décadas de maus tratos ambientais. É preciso uma acção conjunta de todas as forças sociais para quebrar este círculo vicioso

 

MIECF_entrevista

 

Texto Cecília Lin  | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Magnata, presidente do China Energy Conservation and Environmental Protection Consulting Co. (CECEP-Consulting) e membro da comissão de recursos e meio ambiente do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Wang Xiaokang foi uma das presenças mais notáveis na última edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau 2013 (MIECF, na sigla inglesa), que decorreu entre os dias 22 e 24 de Março.

Wang veio com a missão de partilhar os avanços que a República Popular da China tem feito em prol da melhoria do meio ambiente, mas para começar questionou as autoridades locais sobre o caminho que a RAEM tem seguido. “Passamos um dia a analisar as actuais políticas ambientais implementadas pelo Governo de Macau e, juntamente com a minha equipa técnica, visitamos as obras da estação ecológica, verificamos como têm sido feitos os tratamentos dos esgotos e do lixo e que medidas concretas já estão em acção”, referiu o especialista, considerado um dos pioneiros na área de protecção ambiental na China.

Wang acredita que pode ajudar Macau a tornar-se uma cidade mais verde e amiga do ambiente, mas reconhece que a tarefa não é fácil à partida. “A minha empresa está completamente à disposição do Governo da RAEM para ajudar no que for preciso. Tive um encontro com o chefe do Executivo, Chui Sai On, e referi que estou disposto a limpar Macau.” O especialista sublinha que não é fácil conseguir equilibrar o crescimento económico de uma cidade ou país com medidas ecológicas e que a China enfrenta o mesmo dilema: desenvolvimento versus meio ambiente.

 

Propostas para Macau

Com menos de 30 quilómetros quadrados de área e uma população de mais de 580 mil pessoas – o que faz de Macau a cidade do mundo com a maior densidade populacional -, a cidade enfrenta desafios muito concretos para elevar a qualidade de vida dos residentes em termos de medidas de conservação energética e ambiental. “Macau tem de aprender a trilhar um caminho rumo ao desenvolvimento sustentável sem afectar o seu património histórico e a sua indústria turística. É um grande desafio.”

O Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético e a CECEP-Consulting de Wang assinaram um Acordo de Intenções de Cooperação, com vista ao lançamento de estudos de cooperação no âmbito de projectos relacionados com as novas energias e as tecnologias de conservação energética. Na perspectiva do desenvolvimento socioeconómico sustentável de Macau, a par da garantia do fornecimento de energias tradicionais, a exploração e aproveitamento de novas energias e de tecnologias de conservação energética revelam-se essenciais a curto prazo. Para isso, o Governo de Macau e a CECEP-Consulting avançaram para um protocolo de intercâmbio, com o objectivo de promover a cooperação entre a China e a RAEM.

As principais intenções de cooperação incluem, por exemplo, o desenvolvimento de planos, investigação, seminários e a realização de outras actividades no âmbito do desenvolvimento das novas energias e da conservação energética. O passo seguinte é a conclusão de um estudo por parte da CECEP-Consulting sobre aquilo que pode ser feito em Macau com base nas suas características económicas e naturais.

A CECEP-Consulting é uma subsidiária do China Energy Conservation and Environmental Protection Group, a principal empresa do sector de conservação energética e protecção ambiental da China especializada em serviços de consultadoria. Ao longo dos anos, a empresa tem oferecido serviços de consultadoria no âmbito de estudos de políticas, formulação de normas e elaboração de planos de desenvolvimento, na área da conservação energética e protecção ambiental e de aplicação de novas energias. O grupo tem mais de 330 subsidiárias, cinco delas listadas em bolsa, e trabalha em todas as províncias da China, além de já ter firmado acordo com cerca de 40 países.

 

Compromisso a dois

Wang acredita que o Governo da RAEM está a pôr todos os seus esforços em reverter a situação ambiental da cidade e prova disso, segundo constatou nas reuniões que teve com altas autoridades locais, são os avultados investimentos que têm sido feito para o Fundo de Protecção Ambiental. Mas só dinheiro não basta, de acordo com o especialista. “Macau tem um desafio muito grande pela frente. É claro que não é fácil alterar o panorama ambiental de um momento para o outro. Os primeiros passos já foram dados e estamos confiantes de que esta nova parceria com a CECEP-Consulting vai beneficiar em muito a população. Os resultados, porém, só irão ser sentidos a longo prazo.”

O especialista disse que os recursos financeiros da RAEM são a chave para se alterar drasticamente as políticas ambientais, porque acredita que serão necessários ainda mais investimentos para tornar a cidade mais verde. “Macau tem praticamente o PIB per capita mais elevado da Ásia. O que falta agora é ter a vontade e pôr em acção um plano de acção detalhado para testar a operacionalidade das políticas que estão no papel.”

O presidente da CECEP-Consulting enfatizou que, para fazer valer a ambição dos governos Central e da RAEM de transformar Macau num centro internacional de turismo e lazer, um plano ecológico de ponta tem de ser o caminho a percorrer. Para Wang, crescimento também é sinónimo de sustentabilidade. “A RAEM tem todos os recursos financeiros para pôr em marcha o plano mais exigente possível. Com tantas novas construções a florescerem no território, é essencial investir imediatamente em novas alternativas energéticas. É agora ou nunca, já que depois dos novos edifícios estarem concluídos, torna-se mais difícil fazer um novo investimento para transformá-los amigos do ambiente.”

A poluição do ar é um dos pontos que mais chamaram a atenção de Wang durante a sua estada na cidade. O especialista apontou que o plano de conservação energética e ambiental deve levar em conta o trabalho conjunto de vários departamentos públicos, para que os esforços não caiam em saco roto. “Não conseguiremos ver os resultados plenos em cinco ou seis anos. Macau precisa de pelo menos uma década para reverter a sua situação ambiental. Provavelmente, só daqui a 20 anos poderemos considerar a cidade um lugar completamente amigo do ambiente.”

Mais concretamente, a CECEP-Consulting espera desenvolver acções concretas no controlo da poluição atmosférica, tratamento de resíduos hospitalares e industriais, eficiência energética e tratamento do lixo. Reciclar é um dos pontos chaves, para além de investimentos avultados numa rede eficiente de transportes públicos.

 

Porta para a lusofonia

O novo acordo que agora se firma com Macau representa para a CECEP-Consulting uma oportunidade também de explorar novos mercados e incluir novos desafios no seu portfólio. A empresa do Continente espera explorar as potencialidades de Macau no que toca à sua conexão aos países de língua portuguesa. Wang reconhece que há um mercado muito grande a explorar e está para já a concentrar-se em Moçambique.

A CECEP-Consulting está a operar já em Maputo através de uma parceria com uma empresa africana, mas quer mais. Angola está sob a mira, enquanto que o Brasil está no topo das suas prioridades. “São países em desenvolvimento que estão no momento ideal para investir em políticas sustentáveis. Este acordo com Macau abre-nos muitas portas para entrarmos nesse grande mercado da lusofonia.”

 

 

Receita para uma Macau verde

 

1- Investimento do erário público em políticas ambientais concretas

2- Criação de legislação a levar em conta as características únicas da cidade

 3- Compromisso do sector privado na área de investigação de temas ambientais

 4- Mudança drástica das atitudes da população no que toca ao uso do transporte privado e tratamento do lixo

 5- Conscientização dos parte das empresas sobre práticas amigas do ambiente

 6- Esforço conjunto, com o sector público, privado e a sociedade motivados para o mesmo objectivo