Fila para visto dourado

Têm entre 30 e 50 anos, muito dinheiro no banco e vivem em grandes cidades como Pequim, Xangai e Cantão. Começaram a querer investir no estrangeiro. Portugal é o destino que está agora na moda

 

Visto dourado

 

Texto Vera Penêda, em Pequim

 

Assim que a lei portuguesa flexibilizou as regras de concessão de uma autorização de residência a estrangeiros para efeitos de investimento em território nacional, investidores chineses começaram a fazer fila para obter este documento também informalmente conhecido como “visto dourado”.

O novo quadro legal é uma piscadela de olho do governo português a investidores estrangeiros não europeus, para dinamizar a economia e reanimar o mercado  imobiliário e de construção. Um conjunto de empresas portuguesas já está a explorar a oportunidade, mediando os processos de candidatura e providenciando assistência legal para os investidores estrangeiros.

 

 

Mais perto de Portugal

“Muitos [investidores chineses] estão a considerar investir mais no exterior”, disse Li, um investidor de Jinan, capital da província de Shandong, no Leste do país, que tem interesse em investir em Portugal. “A economia chinesa enfrenta problemas de sobreaquecimento”, acrescentou o empresário do sector imobiliário. Li contactou a Soulfato Property, uma empresa portuguesa com  escritórios em Pequim e Hong Kong, que lançou um projecto direccionado a captar investimento chinês para Portugal. “Portugal pertence ao espaço Schengen e eu estou optimista quanto ao futuro da Europa”, disse Li, que pretende investir no sector imobiliário para fins comerciais ou hoteleiros. “É um país pitoresco, com uma beleza natural e um clima muito bom. Creio que Portugal é subestimado economicamente”, aponta o empresário, que ficou a conhecer o programa de “vistos dourados” através de amigos. Li tem 30 e poucos anos.

Ainda não foi atribuído nenhum “visto dourado” a investidores chineses, mas as empresas portuguesas envolvidas neste tipo de mediação garantem que está prestes a acontecer. “Logo após a entrada em vigor da lei, começámos a receber contactos diários da China, nomeadamente de clientes e agentes interessados no programa”, afirma Francisco Barata Salgueiro, de 36 anos, advogado e sócio da Neville de Rougemont, sociedade de advogados anglo-portuguesa com presença nos países lusófonos e anglo-saxónicos. Salgueiro esteve na China em Janeiro deste ano para participar em conferências e seminários sobre o programa, assim como para reuniões com clientes individuais, investidores, agentes e empresas de imigração.

 

 

Schengen e sol

Garantir o acesso ao espaço europeu de Schengen [que permite a livre circulação de pessoas dentro dos países signatários] e passagem para um destino alternativo à China que seja politicamente estável, afável e rentável, são as grandes vantagens dos “vistos dourados”. “Alguns investidores querem diversificar o seu investimento e por isso vêem esta oportunidade como uma proposta financeira interessante. Outros querem emigrar ou permitir aos seus filhos estudar e viver no estrangeiro”, explica Nuno Batista, de 25 anos, que fundou a Soulfato Property em Março, em resposta à alteração da lei para investimento em Portugal.

Para melhor gerir o negócio com o mercado chinês dos dois lados do mundo, a Soulfato Property associou-se à XLBusiness, uma empresa de imobiliária e de investimento sediada no Estoril, que opera no âmbito da aquisição, arrendamento e gestão de propriedades e bens de luxo. “Esta nova geração de chineses vê na Europa um prolongamento dos seus negócios e novos investimentos”, apontou Bruno Magalhães, de 39 anos, presidente da XLBusiness, que “está focada no mercado chinês”.

As duas empresas parceiras estão actualmente a gerir “umas dezenas” de potenciais investidores que pretendem aplicar entre 750 mil euros e 10 milhões de euros através do programa. O objectivo dos investidores “pode passar por adquirir uma casa de férias ou para que os seus filhos possam ir estudar para a Europa, investir numa fonte de rendimento no exterior, ou estar presente numa localização que lhes permita poder gerir negócios na Europa e África”, explicou Magalhães, referindo que a hospitalidade, gastronomia, clima e estabilidade política estão entre as principais vantagens de Portugal como destino de investimento.

“A indicação que temos tido dos nossos clientes é que de não pretendem viver em Portugal, mas sim obter uma autorização de residência que lhes possibilite viajar livremente pela Europa. Também é claro que a grande maioria está interessada em obter residência permanente ao fim de cinco anos e nacionalidade após seis anos”, notou Salgueiro.

 

 

Luxo e lazer

São os apartamentos na capital, as vivendas e os resorts que estão na mira dos chineses que consideram investir em Portugal. “Os investidores procuram moradias ou apartamentos modernos, com boa localização e potencial de rendimento”, explicou Salgueiro acerca da lista de clientes da Neville de Rougemont, reiterando que Lisboa, sobretudo a zona da Expo, Cascais e o Algarve são os destinos preferidos. “Os clientes que pretendem investir em residência própria procuram a típica vila luxuosa com piscina e garagem privada. Aqueles que pretendem um retorno através do arrendamento preferem apartamentos em zonas centrais ou inseridos em resorts geridos por hotéis de cinco estrelas”, refere Batista.

Lisboa é uma zona prioritária de interesse, porque é a capital, pela proximidade com o principal aeroporto, e a existência de um mercado imobiliário com oferta de qualidade e de grande valor. A zona da linha de Cascais-Estoril é a alternativa para o mercado de vivendas e o Algarve, sobretudo Vilamoura no que respeita a apartamentos em resorts de luxo, confirmaram Batista e Magalhães.

A par da China, o maior interesse nos “vistos dourados” tem surgido de empresários de Angola, Brasil, China, Índia, África do Sul e dos Estados Unidos. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas entregou o primeiro visto especial de residência do Estado português a um investidor indiano em Março passado. O empresário pretende criar 600 postos de trabalho em Portugal.

 

 

 

Perfil do investidor chinês de olho em Portugal

“São chineses entre os 32 e 45 anos, que foram educados com padrões de exigência elevados”, explica Nuno Batista, acerca do portefólio de clientes da empresa Soulfato Property. “Sabem apreciar um bom vinho, usam roupas de marca e estão habituados a viajar para fora da China”, acrescentou. Os interessados pertencem à segunda geração rica da China e não são apenas oriundos das grandes cidades como Pequim, Xangai e Cantão, mas também de outras províncias como Shandong e Zhejiang, que estão entre as mais ricas do País.