Confúcio já sabe sambar

A China foi o principal parceiro comercial do Brasil em 2012, mas as relações entre os dois países florescem para lá dos negócios. Luís Paulino, professor no IC da Universidade Estadual Paulista (UNESP), a maior universidade brasileira, explica como os dois países estão cada vez mais próximos

 

7- Luís Paulino

 

Texto Nuno G. Pereira

 

A criação dos IC no Brasil tem trazido mais ganhos com a China na aproximação cultural ou na económica?

Os IC têm sido uma importante plataforma para a aproximação cultural entre o Brasil e a China. Só no IC na Universidade Estadual Paulista (UNESP) temos 1421 alunos a estudar língua chinesa. Em três anos de funcionamento, já enviámos para a China mais de 150 alunos para realizar cursos na Universidade de Hubei. Também temos 20 professores chineses de lá que trabalham connosco no Brasil e cerca de 30 alunos chineses a estudar português na nossa universidade. Também colaboramos para a aproximação económica, na medida em que, ao formar profissionais brasileiros com conhecimento da língua e da cultura chinesas, ajudamos a realização de negócios entre os dois países.

 

Quais as vantagens do IC para professores e alunos dos dois países?

O IC oferece a alunos e professores brasileiros a oportunidade de aprender com professores chineses altamente qualificados, utilizando os melhores materiais e técnicas de ensino. Estes docentes podem por sua vez aprender a língua portuguesa e conhecer a cultura brasileira, o que também é importante para a formação profissional, dada a crescente demanda na China por profissionais que conheçam a língua portuguesa.

 

E as vantagens para empresários?

A vantagem para os empresários brasileiros é terem à disposição das suas empresas um número cada vez maior de profissionais com o conhecimento da língua e da cultura chinesa.

 

Do ponto de vista do Brasil, como se lida com os IC na perspectiva da lusofonia?

Na América Latina há IC em 13 países, mas o Brasil é o único de língua portuguesa, nos demais fala-se o espanhol. Em África, infelizmente, não há IC nos países que falam a língua portuguesa [Moçambique é a actual excepção, mas com uma Sala de Aula Confúcio]. Em Portugal há na Universidade de Lisboa e na Universidade do Minho, mas estas instituições participam do grupo europeu dos IC. Não temos, assim, um fórum estritamente lusófono para discutir o ensino da língua chinesa na perspectiva da lusofonia, o que para nós é uma deficiência que deverá ser superada no futuro. Macau como ponte natural entre a China e os países de língua de portuguesa tem uma papel importante nessa tarefa.

 

Como define o IC no Brasil, tendo em conta passado, presente e futuro?

Trata-se de um projecto com grande potencial de crescimento. O Brasil e a China são dois grandes países, com papel importante nas suas respectivas regiões e no Mundo, com uma longa história de amizade e grande potencial de cooperação mútua.

 

 

Ligação profunda à China

Luís Paulino é professor de Economia Internacional no curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (UNESP), coordenando também um grupo de pesquisa sobre os países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Foi vice-ministro da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República, entre 2003 e 2005. Nessa função, participou em negociações com a China, onde foi diversas vezes, por ocasião da primeira visita do Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, ao país, em 2004, e da também primeira visita do presidente Hu Jintao ao Brasil, em 2005. Actualmente, é Chefe da Assessoria do Gabinete do Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, tendo chefiado uma delegação brasileira em visita ao Departamento de Administração do Desporto da República Popular da China, em Maio de 2012. A deslocação serviu para discutir programas de cooperação na área do desporto, tendo em vista a realização do campeonato Mundial de Futebol da FIFA, em 2014, e os Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro, em 2016, no âmbito do Cosban (Comité de Alto Nível de Cooperação Brasil-China).