Texto Mark O’Neill
Macau e Hong Kong ganharam mais uma plataforma de cooperação no Delta do Rio das Pérolas. Nansha, uma nova área que faz parte da cidade de Cantão, abriu portas com a missão de ser um motor de desenvolvimento na região. No dia 19 de Junho, as obras do maior empreendimento de construção da primeira fase de Nansha – a Nova Cidade da Baía, ou a Baía das Pérolas como também é conhecida esta área – foram iniciadas. A cerimónia de lançamento da primeira pedra foi marcada pelo grande número de pessoas que se juntou na ilha Lingxian. Além dos membros do Governo da Província de Guangdong, também esteve presente Francis Tam, secretário da Economia e das Finanças, que presidiu à cerimónia.
“Faremos tudo para atrair investimento externo”, afirmou na ocasião Ding Hongdu, secretário do Partido Comunista do distrito de Nansha. “Iremos melhorar as políticas vigentes, promover mudanças e dar espaço à inovação. Faremos aqui uma nova base estratégica nacional para Guangdong, Hong Kong e Macau cooperarem em todos os aspectos, criando uma cidade que olha para o futuro.”
O mesmo responsável anunciou o arranque de 33 projectos, implicando um investimento total de 58,6 mil milhões de yuans, incluindo edifícios comerciais e infraestruturas. Nansha vê as pessoas e as empresas de Macau a desempenharem um papel importante no seu futuro. Um dos seus objectivos é atrair altos quadros de Macau e Hong Kong, em particular nas áreas legais, financeiras e de exposições e convenções.
A aprovação
Foi a 9 de Setembro do ano passado que o Conselho de Estado aprovou a Nova Área de Nansha. Nansha é o distrito mais a sul da cidade de Cantão, ao longo do Rio das Pérolas. Tem uma área total de 803 quilómetros quadrados, 570 dos quais são terra e 233 água. De acordo com o os Censos de 2010, a sua população é de 260 mil habitantes, a mais baixa dos dez distritos da cidade, com uma densidade de 493 pessoas por quilómetro quadrado. Esta baixa densidade populacional reflecte uma região onde a natureza ocupa ainda uma fatia considerável, com uma zona pantanosa de 670 hectares, uma área montanhosa, um parque florestal com 1200 hectares e um campo de golfe criado na base da montanha.
Só em 2006 é que Nansha foi uma área assumida como novo distrito, ao ser separada da região vizinha de Panyu. O seu desenvolvimento como centro industrial começou com a abertura da Zona de Processamento de Exportações de Nansha-Cantão, com uma área total planeada de 1,36 quilómetro quadrado.
Segundo números de 2011, Nansha teve um PIB de 57,1 mil milhões de yuans, mais 13,05 por cento do que em 2010. As suas indústrias mais importantes são construção naval (tem um dos três maiores estaleiros da China, com uma capacidade anual de construção superior a três milhões de toneladas); maquinaria pesada; carros, partes e componentes; tecnologias da informação e chips, e exploração marítima.
A zona possui um porto de grande dimensão, com 20 ancoradouros de águas profundas para descarga de contentores, automóveis, petroquímicos e cereais. Este gigantesco ponto de exportação, com mais de 40 rotas para Europa, América do Norte e África, é utilizado nas operações das 20 maiores companhias mundiais de marinha mercante.
A localização e os acessos são outros pontos fortes de Nansha. Está no meio do Delta do Rio das Pérolas, a 41 milhas náuticas de Macau e a 38 de Hong Kong. Além disso, num raio de 70 quilómetros, estão cinco aeroportos: Macau, Hong Kong, Cantão, Shenzhen e Zhuhai.
Ligações com Macau
Durante a cerimónia de inauguração, Dong Ke, membro do Comité Permanente do Distrito de Nansha, abordou as ligações da região a Macau. “Temos 460 empresas de Macau e Hong Kong em Nansha, incluindo 100 joint ventures com Macau. Damos muita atenção às pequenas e médias empresas (PME) da RAEM e queremos cooperar com elas em três áreas: logística, indústrias criativas e como plataforma com os países de língua portuguesa. Esperamos que Nansha se possa tornar um centro nacional de vendas para toda a China de produtos com origem nas regiões administrativas especiais.”
A experiência turística de Macau também mereceu admiração. “Queremos trazer para Nansha parte dos mais de 30 milhões de turistas que visitam Macau. As nossas infraestruturas, porém, ainda são inadequadas para concretizar tal objectivo. Temos esperança que Macau nos dê formação profissional em turismo, e já estabelecemos uma task force para isso. Queremos ainda criar com Macau um Centro de Arbitragem Internacional.”
Outra ligação referida foi uma propriedade agrícola do Estado com 63 anos – a Companhia de Alimentação Guangzhou Ruiguang – que começou este ano a fornecer a Macau um camião diário de alimentos orgânicos.
Promoção da nova área
Depois da decisão do Conselho de Estado em Setembro, o Governo da cidade preparou legislação detalhada para o futuro da nova área. Entre 13 e 15 de Maio últimos, o presidente da câmara de Cantão, Chen Jianhua, esteve em Hong Kong e Macau para promover Nansha. “O distrito deve usufruir das mesmas políticas preferenciais que as regiões similares em Xangai e Tianjin.”
Em Macau, as autoridades de Cantão assinaram sete contratos, no valor total de 17,05 mil milhões de yuans, com negócios de serviços, logística e indústrias criativas. Em Hong Kong, foram assinados 17 acordos com empresas estatais, privadas e estrangeiras, assim como com universidades e institutos de investigação. Os negócios, avaliados em 234,8 mil milhões de yuans, envolveram serviços especializados, finanças, energia, cultura, cinema e televisão.
O Plano de Desenvolvimento de Nansha atribui grande importância ao aprofundar da cooperação com Macau e Hong Kong em todos os sectores, assim como ao acelerar da inovação institucional, para criar um ambiente propício ao negócio com as duas regiões, obedecendo a práticas internacionais.
O plano diz que Nansha irá fortalecer sectores económicos fundamentais, como serviços, investigação científica e tecnológica, educação, logística e manufactura de ponta; liberalizar negócios de serviços com Macau e Hong Kong, e criar medidas para facilitar o investimento das PME das duas regiões.
Em Outubro último, a Comissão de Desenvolvimento e Reforma Nacional lançou uma circular sobre o futuro de Nansha, dizendo que as instituições financeiras de Macau e Hong Kong deviam deslocar-se à nova área, ajudando os negócios locais. O documento aponta também para a possibilidade de existirem vistos de um ano para quem vem de Nansha circular mais facilmente em Macau e Hong Kong. Outro ponto importante afirma que Nansha deve encontrar meios para estabelecer parcerias no âmbito educacional com outros estabelecimentos de ensino chineses, de Hong Kong, de Macau e internacionais “com reputação mundial”.
Clube de iates
O Delta do Rio das Pérolas tem inúmeros construtores de iates, chineses e estrangeiros. No dia 18 de Junho, antes da inauguração oficial da nova área, os convidados para o evento visitaram uma das grandes atracções turísticas da zona: o Iate Clube de Nansha. Trata-se do maior do género no Sul da China, tendo já 120 iates a ocupar parte dos 352 ancoradouros, num investimento de 250 milhões de yuans.
O clube promete promover a cultura do velejar e dos desportos aquáticos, um passatempo recente para os chineses. Todos anos o clube organiza cursos para jovens interessados em velejar, procurando assim popularizar o desporto.
Para Outubro está já agendado o Nansha Bay International Boat Show, onde durante quarto dias haverá exposições de iates, powerboats e veleiros. Um evento similar realizou-se em 2012, atraindo mais de 15 mil visitantes que compraram 17 embarcações, num total de 100 milhões de yuans.
Está também previsto que na zona do Iate Clube possam aportar cruzeiros internacionais, estando actualmente a ser feito o estudo de impacto ambiental do projecto. O Iate Clube é um dos muitos investimentos em Nansha do Fok Ying Tung Group, assim chamado por causa do mais famoso “filho da terra”, cujo nome em inglês era Henry Fok. Viveu entre Maio de 1923 e Outubro de 2006 e foi vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Henry Fok visitou Nansha centenas de vezes, mas foi o filho, Ian Fok (actual presidente do grupo), a estar presente na cerimónia de inauguração.