Feira de Cantão: o centro de todas as oportunidades

Quase seis décadas depois da inauguração, a maior feira industrial e comercial do mundo mantém-se no topo dos números, mas também das promessas de negócio. É que com a China a assumir um papel fulcral à escala planetária, o poder de atracção deste certame é cada vez maior. Jackson Chang, presidente do IPIM, garante que os empresários de Macau têm sabido aproveitar o seu potencial

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Texto Nuno G. Pereira

 

Há poucas feiras de produtos e serviços que se possam gabar de incluir um leque tão abrangente de marcas participantes que nada parece faltar. De tal forma que quem lá vai até pode ficar algo desorientado com tanta oferta, num carrossel infinito de stands. Nenhuma, contudo, se aproxima da envergadura gigantesca da Feira de Cantão. Um colosso na criação de negócios dentro da China, mas, desde sempre e cada vez mais, um objectivo para as companhias internacionais de olho neste lado do globo. A 116.ª edição da feira realiza-se entre 15 de Outubro e 4 de Novembro, trazendo outra dinâmica ao ares outonais. As empresas de Macau conhecem bem o seu potencial, aproveitando ainda uma vantagem acrescida: a geografia, já que a cidade de Cantão fica perto da RAEM.

Jackson Chang, presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), é claro na avaliação que faz sobre o que tem sido a presença dos homens de negócios locais. “Os empresários de Macau têm atingido bons resultados na Feira de Cantão, uma plataforma eficaz para mostrarem e promoverem os seus produtos, assim como criarem mais oportunidades de negócio.”

A evolução das participações tem contado com o apoio directo do IPIM, que desde 2007, quando o Pavilhão Internacional foi estabelecido, organiza delegações com empresas de Macau para estarem na feira. “Através dessa participação, esperamos que as empresas de Macau aproveitem a dimensão do certame para promover os seus produtos e serviços no Interior da China, mas também nos mercados estrangeiros.” Os principais produtos/serviços que as empresas de Macau negoceiam na feira são alimentos e bebidas (e também a chamada health food, comida saudável), energia solar e iluminação com eficiência energética, café em grão e louças sanitárias. Igualmente importantes são as áreas de medicina tradicional chinesa, produtos farmacêuticos, impressão e consumíveis.

O IPIM assume-se como um dos principais braços do Governo para apoiar os empreendedores locais. “Além de organizarmos as delegações de empresas de Macau, também temos um stand na Feira de Cantão, para promover Macau enquanto espaço de grande oportunidade para negócios. Por outro lado, durante a Feira Internacional de Macau disponibilizamos uma opção de viagem para que os participantes possam visitar a Feira de Cantão, chamada One Trip, Multi-Stop. E os empresários que fizeram visitas neste contexto, ligados a vários sectores, têm-nos dado um feedback em geral positivo.”

A cooperação entre Macau e a Província de Guangdong, aliás, tem crescido bastante nos últimos anos, graças a vários acordos e parcerias, que beneficiam depois os negócios das empresas das duas regiões. Jackson Chang lembra ainda que o IPIM “organiza com regularidade visitas de outras delegações empresariais a feiras e exposições na província vizinha, como por exemplo à Feira de Alta Tecnologia da China, em Shenzhen”.

Jackson Chang

Ligação lusófona

O reforço das relações económicas entre Guangdong e a RAEM traz também potenciais benefícios para os países de língua portuguesa, graças ao papel de Macau como plataforma privilegiada para ligá-los à China. No que diz respeito à Feira de Cantão, porém, a participação da esfera lusófona já acontece há algum tempo. Tem crescido com a presença consistente de Portugal e, mais timidamente, de Angola. Neste capítulo a força maior é o Brasil, cujo agarrar das oportunidades de negócio proporcionadas pelo certame tem sido intenso. “A feira contou com a presença de cerca de 6000 empresários brasileiros nos últimos anos, segundo números da própria organização”, salienta José Vicente Lessa, cônsul-geral do Brasil em Cantão. “O evento permite também estabelecer contactos com compradores e exportadores de terceiros países, mediante seminários match making.”

As empresas brasileiras têm sabido aproveitar a Feira de Cantão, mas exactamente quanto? “É difícil fazer uma avaliação acurada do grau de aproveitamento da feira. Contudo, a julgar pela evolução recente da balança comercial bilateral, acredita-se que tem tido uma papel significativo. O comércio bilateral evoluiu de 6,68 mil milhões de dólares em 2003 para mais de 80 mil milhões em 2013.”

Apesar da participação significativa dos empresários brasileiros na feira, o cônsul acredita ser possível fazer melhor. “A Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Captação de Investimentos tem realizado um óptimo trabalho no apoio à participação brasileira. Os aspectos a serem melhorados dizem respeito a um maior empenho do empresariado brasileiro, por meio das suas diversas associações, no sentido de dotar a presença brasileira na feira de maior impacto e visibilidade.”

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Vantagens para todos

Quanto às nações de língua portuguesa com menor poderio económico, como Timor-Leste e alguns países africanos, a Feira de Cantão tem sido pouco aproveitada. Malam Camará, delegado da Guiné-Bissau no Fórum Macau, espera que isso seja rapidamente alterado. “A Feira de Cantão oferece um mundo de oportunidades. Dou alguns exemplos, entre vários possíveis: para um empresário guineense comprar uma unidade de fabrico de gelo, de duas a quatro toneladas, na Europa, custa-lhe pelo menos 10 mil a 15 mil euros, enquanto aqui encontra-as a um terço desse valor; uma unidade de produção de blocos para construção (semi-automático com capacidade de 10 mil blocos por dia) custa na Europa um mínimo de 20 mil euros, aqui é menos de metade, dependendo dos moldes desejados. Nos serviços, um contentor para transportar cargas, tipo computadores, de Portugal para a Guiné-Bissau, sai entre 2000 a 3000 euros por contentor de 20 pés. Se vier da China, uma distância bem maior, fica ligeiramente mais barato. Resumindo, a participação dos empresários da Guiné-Bissau na Feira de Cantão traz-lhes muitas vantagens, permitindo que os seus investimentos possam render mais.”

Malam Camará não se limita a falar de um desejo, pois trabalha para que se concretize. “São poucas as informações sobre a feira que chegam aos empresários guineenses. Uma das minhas tarefas é levar-lhes esse conhecimento, sobre esta e outras feiras, direccionando-os para virem participar. Estamos a trabalhar num plano sobre as oportunidades de negócio da China, onde a Feira de Cantão está incluída. Queremos que seja uma actividade anual de ‘participação obrigatória’ dos empresários da Guiné-Bissau, tal como outras feiras.”

 

 

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Calendário de actividades

A 116.ª Feira de Cantão divide-se em três fases, cada uma dedicada a um grupo específico de produtos e serviços. As actividades decorrem sempre entre as 9h30 e as 18h00.

 

Fase 1 – 15 a 19 de Outubro

– Electrónica e electrodomésticos

– Iluminação

– Veículos e peças

– Maquinaria

– Ferramentas e equipamentos pesados

– Recursos energéticos

– Produtos químicos

– Materiais de construção

 

Pavilhão internacional

– Electrónica e electrodomésticos

– Maquinaria

– Materiais de construção

– Ferramentas e equipamentos pesados

 

Fase 2 – 23 a 27 de Outubro

– Bens de consumo

– Decoração de interiores

– Brindes e presentes

 

Fase 3 – 31 de Outubro a 4 de Novembro

– Consumíveis de escritório

– Malas

– Produtos de recreio

– Alimentos e bebidas

– Medicamentos, aparelhos médicos e produtos de saúde

– Têxteis

– Sapatos

 

Pavilhão internacional

– Alimentos e bebidas

– Decoração de interiores

– Têxteis

 

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Números esmagadores

O Complexo Impor Expor da China é o maior centro de exposições da Ásia, situado na Ilha de Pazhou, em Cantão. É este o palco da feira, com dimensões impressionantes.

Área total de construção                 1.100.000 m2

Área interior para exposições          338.000 m2

Área exterior para exposições         43.600 m2

 

As estatísticas relativas à edição anterior da feira, a 115.ª, permitem compreender melhor a importância deste certame. Aqui ficam alguns exemplos:

Stands                                    59.708

Empresas expositoras          24.581

Compradores estrangeiros 188.119

Volume de negócios (sem contar com Pavilhão Internacional)   31.051 mil milhões de dólares

 

 

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História de seis décadas

A Feira de Import Export da China realiza-se duas vezes por ano na cidade de Cantão, uma na Primavera, outra no Outono. Tal acontece desde 1957, ano da sua criação. É considerada a mais importante feira industrial e comercial do globo, sendo organizada em conjunto pelo Ministério do Comércio da República Popular da China e pelo Governo Popular da Província de Guangdong. A feira ocupa o primeiro lugar mundial em termos de escala para uma única exposição.