Geólogos juntos para perceber origens de Macau

Geólogos de Macau, Portugal e da China estão juntos num projecto de investigação para estudar a petrologia e geoquímica das rochas magmáticas que tem como objectivo final chegar ao ‘fundo’ das origens de Macau.

 

 

“A ideia é tentar perceber como é que Macau surgiu no planeta”, sintetizou a coordenadora do projecto, Ágata Alveirinho Dias, do Instituto de Ciência e Ambiente da Universidade de São José, à agência Lusa.

O projecto, intitulado MagIC, proposto pela geóloga de Macau, com a colaboração de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto de Geoquímica de Guangzhou da Academia de Ciências Chinesa, vai ser totalmente financiado pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e Tecnologia de Macau, no valor de cerca de 2,7 milhões de patacas.

Segundo Ágata Alveirinho Dias, com a duração prevista de três anos, o projecto vai desenrolar-se em “três grandes frentes”. A primeira “passa por actualizar a Carta Geológica de Macau” que, ao contrário da maioria dos territórios de todo o mundo, não se encontra pormenorizada e acessível a todos.

“O trabalho de cartografia mais relevante foi realizado pelos Serviços Geológicos de Portugal em 1992” e está disponível apenas em Portugal, em língua portuguesa e em versão papel.

Assim, explicou, “um dos objectivos é, além de actualizar a carta, publicar a informação em três línguas: nas duas oficiais de Macau – português e chinês –, em inglês e em versão digital”.

Essa carta é da autoria de Luísa Duarte Ribeiro que integra o projecto como consultora.

Ágata Alveirinho Dias destaca a importância da Carta Geológica como “base” para estudos e projectos de investigação de áreas mais aplicadas, além da geologia, destacando nomeadamente o campo do ordenamento do território e ambiente, mas também, e até, da engenharia civil, pois afigura-se útil um conhecimento mais detalhado do subsolo.

O projecto compreende “a recolha, junto do repositório do LNEG, de amostras retiradas de locais de Macau que hoje são inacessíveis por causa da intensa construção”, e trabalho ‘in loco’ de “caracterização petrológica e estrutural, com recurso a técnicas petrológicas e de geoquímica elementar e isotópica para uma percepção da origem e evolução dos magmas que deram origem às rochas do território”, detalhou a geóloga.

Essas amostras serão datadas, a fim de se conhecer a cronologia dos vários eventos magmáticos que compõem esta zona geográfica, fornecendo uma base para comparações regionais que, em última análise, permitirão ter uma compreensão mais precisa da evolução tectónico-magmática do sul da China.

Na missão de recolha de amostras em campo, em zonas onde tal ainda é possível, a equipa de investigadores – formada por sete pessoas, incluindo estudantes – vai contar com a ajuda de empresas de construção civil, adiantou Ágata Alveirinho Dias.

Estudos apontam que a maioria das rochas magmáticas do sudeste da China surgiu na era mesozoica –, ou seja, no tempo dos dinossauros, que decorreu entre há 250 milhões e 65 milhões de anos.

O projecto de investigação pretende alcançar os primórdios, determinando as diferentes idades, a sua origem e as razões que desencadearam o seu aparecimento, indicou a geóloga, que concebeu o projecto como uma forma de dar o seu “contributo” para o território.

A terceira frente do MagIC, a ser executada ao longo da investigação, consagra acções de divulgação científica junto de instituições de ensino e do público em geral, com o propósito de explicar de forma simplificada, a origem e evolução geológica de Macau.

O sul da China, onde Macau se inclui geológica e geograficamente, é conhecido por grandes volumes de rochas graníticas do mesozoico, que ocupam uma área estimada de cerca de 135.000 km2, pelo que figura como a região ideal para o estudo das mesmas e dos processos petrogénicos e ainda para restringir a evolução dos sectores da crosta terrestre.

Com base nos dados compilados na Carta Geológica de Macau de 1992, e descritos no portal do MagIC, as rochas graníticas terão aflorado durante o Jurássico Médio e o Superior parecendo ser da mesma idade de granitos formados nos territórios vizinhos, como Hong Kong e Guangzhou, onde, ao contrário de Macau, têm sido objecto de um crescente número de publicações.