Genealogia das “Famílias Macaenses” está a ser refeita

O genealogista Jorge Forjaz, que em Outubro de 1996 lançou a primeira edição de "Famílias Macaenses", está a "refazer" a obra, um trabalho que espera contribuir para a preservação da memória de uma comunidade em risco de desaparecer.

 

“A gente macaense forjou-se ao longo da história com a mistura de gentes que vinham um pouco de todo o mundo e que vinham parar a Macau (…) e aqui se cruzavam e por aqui ficavam preservando uma determinada memória, uma determinada cultura, uma cultura portuguesa com as suas próprias especificidades macaenses, mas uma cultura portuguesa”, explicou.

Na actualidade, acrescentou, “já não é assim” e a facilidade de comunicações e de movimentação de pessoas permite um contacto maior com as origens que pode levar ao desaparecimento da forma como se conhece ainda hoje a comunidade macaense, disse, salientando que há gente da comunidade radicada em Portugal cujos netos, pouca ou nenhuma ligação têm a Macau.

Por isso, sublinhou, a importância da obra “é a preservação da identidade macaense que, a prazo, daqui a 100 anos, pode não haver ninguém que diz ‘eu sou macaense'”, pelo menos da forma como o afirma hoje.

Em Macau até 9 de Abril em investigação no Arquivo Histórico de Macau, Jorge Forjaz recordou que a revisão da obra lançada em 1996 permitirá, por exemplo, acrescentar uma nova geração de macaenses que não existiam à época do primeiro lançamento, mas também servirá para “corrigir” informações que estejam erradas, várias delas relacionadas com datas, que já foram identificadas pelos visados. “Os homens muitas vezes não se lembram da data do casamento, ou de nascimento dos filhos”, contou, em tom de brincadeira, recordando alguns dos reparos que recebeu após o lançamento da primeira edição em 1996.

Com um trabalho facilitado pelas novas tecnologias, Jorge Forjaz olha para trás e recordou como foi possível compilar a primeira edição de “Famílias Macaenses”, com três volumes e cerca de 3.300 páginas descritivas das cerca de 450 famílias de Macau identificadas. “Para a primeira edição mandava cartas, um sistema medieval, e agora mando emails”, explicou, salientando também que a nova informação a inserir no retrato das famílias macaenses advém de “nova documentação que apareceu nos arquivos de Portugal e Macau”.

Jorge Forjaz quer ter o novo trabalho pronto no último dia do ano, para depois começar a edição para o lançamento para o qual não tem ainda financiamento, mas que acredita que será possível com a participação do Albergue da Santa Casa da Misericórdia, do Conselho das Comunidades Macaenses e do Instituto Português do Oriente que, aliás, proporcionaram “esta fase da investigação”.

O repto para reformular “Famílias Macaenses” lançou-o em Dezembro de 2013 num Encontro das Comunidades Macaenses e, agora, o objectivo é lançar a obra no próximo encontro no final de 2016.

Jorge Forjaz participou no seminário Famílias Macaenses, em que abordou, juntamente com o tailandês de origem portuguesa/macaense Pathorn Sequeira, o tema das famílias que se radicaram na Tailândia.

Pathorn Sequeira é director da banda de jazz do rei da Tailândia, que compôs uma ópera inspirada na chegada dos portugueses ao reino do Sião, um trabalho que pretende, um dia, levar aos palcos de Portugal, Macau e Banguecoque.