“A China tem sido fundamental na reconstrução de Timor-Leste”

Sendo o país mais jovem entre os membros do Fórum Macau, Timor-Leste possui grande margem de desenvolvimento. Danilo Afonso-Henriques, delegado do país na instituição, realça que as boas relações com a China criaram uma parceria eficaz. Macau está presente nessa ligação, havendo já empresários locais a investir nas oportunidades timorenses

 

 

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Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

“O Fórum Macau permite uma oportunidade ímpar e sem precedentes para a comunidade empresarial, em muitas partes da China, explorar oportunidades de investimento disponíveis nos países de língua portuguesa.” Danilo Afonso-Henriques é o delegado que representa Timor-Leste na instituição há pouco mais de um ano e as suas palavras não podiam ser mais esclarecedoras quanto à importância atribuída ao Fórum. “Realiza efectivamente o seu papel desde que foi criado há mais de uma década. A República Popular da China tem utilizado a RAEM como uma plataforma com sucesso para a interacção e a cooperação de natureza económica. Macau, agraciada pelo contexto histórico e cultural, tem sido capaz de agir activamente no papel de plataforma, reduzindo as lacunas. Ao mesmo tempo, os países-membros do Fórum têm trabalhado ao longo dos anos na identificação e implementação de métodos mais eficazes de envolvimento uns com os outros.”

Quanto aos aspectos em que o Fórum Macau melhor funciona como plataforma, Afonso-Henriques destaca fomentar vontades políticas, estimular a cooperação económica e as trocas comerciais, desenvolver recursos humanos, activar oportunidades de negócio com autoridades e empresários no interior da China e, por fim, promover actividades culturais.

Sobre as vantagens concretas que Timor-Leste tem usufruído por integrar o Fórum, mostra-se bastante satisfeito. “Sendo o país-membro mais jovem, Timor-Leste tem conseguido beneficiar com a sua participação em programas de formação e desenvolvimento profissional. Cerca de mil profissionais, principalmente funcionários públicos, puderam assim melhorar as suas capacidades profissionais e institucionais.”

Os negócios, claro, são outro ponto essencial. “As visitas ministeriais de Timor-Leste a Macau dinamizam a cooperação através de identificação de novas oportunidades estratégicas para a cooperação. Nas minhas várias visitas ao Interior da China, notei que existe um crescente conhecimento sobre Timor-Leste, graças ao papel positivo realizado pelo meu predecessor, Cornélio Ferreira, nos seus seis anos de serviço na função em que estou actualmente. A terra fértil foi preparada para receber grandes investimentos da China, incluindo as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong.”

 

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Honra e responsabilidade

Representar o seu país no Fórum é motivo de orgulho para Afonso-Henriques. “É uma grande honra, juntamente com sentido de responsabilidade e dever, ser delegado do meu país. O Fórum representa uma oportunidade sem precedentes e sem paralelo para Timor-Leste para, através do seu delegado e com o apoio da República Popular da China, promover a imagem do país e divulgar oportunidades de investimento, nos vários sectores prioritários. Numa altura em que as empresas da segunda maior economia do mundo estão a ser incentivadas para explorar oportunidades de negócio no exterior, Timor-Leste, como os outros países-membros do Fórum, só pode beneficiar deste facto.”

Com as prioridades de desenvolvimento de Timor-Leste definidas, até 2030, pelo Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional, o delegado tem uma visão clara do que deve fazer no Fórum. “Vejo como sendo as minhas principais funções difundir as vantagens comparativas relevantes de fazer negócios em Timor-Leste e promover o ambiente de investimento mutuamente favorável criado ao longo dos últimos anos. Além disso, considero igualmente importante providenciar apoio aos empresários da China, incluindo os de Macau, para melhor inserção no mercado timorense.”

Timor-Leste não está representado em Macau através de um consulado, pelo que Afonso-Henriques também exerce apoio à missão diplomática do seu país em Pequim, na sua interligação com a comunidade timorense residente na RAEM. E quanto ao Fórum, não quer limitar-se a defender os interesses do seu povo. “Apesar de estar há pouco mais de um ano como delegado, espero dar o meu contributo para dinamizar este mecanismo de cooperação.”

 

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Petróleo no horizonte

Os laços da cooperação entre China e Timor-Leste devem ser reforçados no futuro, graças a uma maior ligação comercial. Há várias possibilidades de investimento concreto na mesa e, ainda este ano, Afonso-Henriques irá ajudar a tornar esse objectivo uma realidade. “Estou preparar a visita empresarial de uma comitiva de Macau e China a Timor-Leste. Tem como objectivo a concretização de investimento através de encontros com as nossas autoridades competentes na capital, Díli, na Zona Económica Especial de Oe-cussi e no distrito de Suai, onde esperamos desenvolver uma indústria petrolífera na costa sul, baseada em recursos já identificados no Mar de Timor.”

O delegado explica que o seu país vive um momento único, onde a necessidade de desenvolvimento em praticamente todas as áreas faz com que exista também um óptimo ambiente de investimento. Expressa o desejo que os empresários chineses se apercebam deste cenário vantajoso e sigam o exemplo de marcas como a Heineken, cuja divisão Ásia-Pacífico assinou recentemente um acordo de investimento avaliado em 40 milhões de dólares para criar uma fábrica de cerveja e outras bebidas não alcoólicas, perto de Díli. E não é caso único. “Outro exemplo é de uma empresa australiana que irá construir uma fábrica de cimento no distrito de Baucau, com um investimento de cerca de 25 milhões de dólares. Estes acordos foram realizados, em grande parte, graças à pró-actividade da então Secretária de Estado para o Apoio e a Promoção do Sector Privado, Veneranda Lemos.”

O governo timorense, aliás, tem feito um esforço continuado para atrair investidores internacionais. “A criação da Agência Especializada de Investimento, sob a presidência de Tony Duarte, teve como objectivo melhorar o papel de facilitador ao investimento estrangeiro. Acredito que o nosso processo de registo simplificado, a baixa taxa de impostos (dez por cento, uma das mais baixas do mundo) e o acesso aberto a vários mercados, são factores a nosso favor que vão motivar os investidores chineses a virem para o nosso país.”

 

 

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Projectos realizados pela China em Timor-Leste

 

Construção

Palácio Presidencial, edifício do Ministério da Defesa, edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Centro de Formação Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros

 

Agricultura

Cooperação com a empresa Yuan Longping High-Tech Agricultura Lda. em projectos de desenvolvimento agrícola

 

Turismo

Investimentos feitos por pequenas e médias empresas (PME)

 

Indústria

Fábrica da empresa de Macau TAM Electrónica, no distrito de Manatuto

 

Comércio

PME na área de importação/exportação de produtos

 

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Onde estão os investimentos

Quais os investimentos mais importantes da China em Timor-Leste?

A China tem sido fundamental no processo de reconstrução de Timor-Leste. O governo chinês forneceu alguns edifícios estatais importantes, incluindo o Palácio Presidencial, o Ministério da Defesa e o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Há pouco tempo, foi concluído e inaugurado o Centro de Formação Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Desde 2008, a empresa Yuan Longping High-Tech Agricultura Lda. colabora com o nosso país, através de projectos de cooperação técnica, para melhorar a produção agrícola. O seu investimento mais recente, após a assinatura de um acordo com o Ministério da Agricultura de Timor-Leste, destina-se à Zona de Desenvolvimento da Indústria Agrícola em Natarbora. Nos últimos tempos, tem havido também um fluxo de investimento privado de pequenas e médias empresas, em particular nas áreas de hotelaria/turismo e importação/exportação de produtos. Estes investimentos, não sendo de grande escala, criam postos de trabalho para os timorenses. Um fenómeno que ecoa os padrões de migração dos primeiros colonos chineses, da Província de Guangdong, que chegaram a Timor-Leste há mais de um século.

 

Quais só foram possíveis devido à existência do Fórum?

O Fórum tem promovido e apoiado o investimento do empresário Akeu Leong, residente de Macau, no estabelecimento de uma fábrica da TAM Electrónica, no distrito de Manatuto. Este investimento tem tido um efeito muito positivo em termos de criação de emprego e evoluiu da produção de componentes para placas de circuitos electrónicos para sistemas de iluminação LED. Em Timor-Leste há múltiplas oportunidades de investimento para grandes empresas, mas também para as PME: agro-indústria (café, arroz, milho), arte e artesanato (cerâmica, escultura e uma comunidade artística florescente) e indústria de mobiliário (em particular de bambu, com métodos e meios de produção inovadores).

 

Timor-Leste tem investido na China?

Existem algumas empresas privadas timorenses bem-sucedidas que operam na China. O empresário Kenny Lay estabeleceu fábricas de sacos de mão e vestuário; há um café, hotel e resort turístico em Yangshuo; e uma fábrica de conservas de tomate na província de Xinjiang.

 

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Eurico Correia de Lemos

 

Ligado a Macau

Danilo Afonso-Henriques celebrou um ano como delegado de Timor-Leste no Fórum Macau no dia 1 de Junho. Antes tinha sido coordenador do “Encontro Empresarial entre China e os Países de Língua Portuguesa”, realizado em Díli em 2013. “Conseguimos reunir cerca de 400 empresários e foram assinados oito acordos entre empresas dos países participantes.” Na sua carreira contam-se ainda os postos de Director de Assuntos Económicos, Investimento e Comércio, na Embaixada de Timor-Leste em Pequim, e Oficial Executivo Sénior, no Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros do seu país.

A sua ligação a Macau tem antecedentes familiares antigos, que ele conhece bem. “Houve uma época em que Macau e Timor-Leste eram ambas províncias ultramarinas portuguesas sob a jurisdição do Vice-Rei de Goa. O meu trisavô, José Corrêa de Lemos, foi o comandante militar em Macau na mesma época, em 1883. O filho dele, tenente Eurico, viajou para Timor, onde teve um filho, Óscar, meu avô materno. Por isso, a nossa família tem longos laços com Macau. Há mesmo uma rua em Coloane com o nome da nossa família, a Rua Correia Lemos. O meu bisavô estava muito envolvido com a comunidade chinesa em Díli e foi instrumental no estabelecimento do templo chinês na cidade. Agora sinto que a história completou o seu ciclo, pois voltei ao local de nascimento dos meus antepassados.”

Um regresso que tem sido um prazer, pelos pontos comuns entre China e Timor-Leste. “Existe um valor fundamental que as nossas culturas compartilham: a importância da família. Não apenas numa maneira filosófica, mas numa realidade de contacto do dia-a-dia. É algo que muito me agrada. Além disso, sinto-me abençoado por viver numa das civilizações mais antigas do mundo e explorar língua, arte, figuras históricas e tantos outros aspectos de uma cultura completamente fascinante.”