Texto Alexandra Lages
Em Moçambique, Portugal e Macau, há jovens que arregaçaram as mangas e decidiram trilhar o seu próprio caminho. Actualmente, existem três associações de jovens lusófonos que, embora contem com poucos anos de existência, se destacam pelo dinamismo e resultados obtidos num curto espaço de tempo.
A mais recente é a Câmara do Comércio Juvenil de Moçambique (CCJM), que foi fundada em Maio de 2014 por um grupo de empresários de origem moçambicana. Macau tem já lugar nas páginas da história desta associação, porque serviu de rampa de lançamento da nova associação quando esta participou na Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa), no ano passado.
Wilma Gonçalves é a secretária-geral da câmara de comércio de jovens. A dirigente explica que o grande objectivo da CCJM é promover os negócios dos jovens empresários de Moçambique, tirando partido das diversas valências de cada membro. “A associação foi fundada por um grupo de jovens empresários que chegou à conclusão de que as muitas oportunidades de negócios existentes no país poderiam ser melhor aproveitadas pelos jovens se fossem criadas as condições necessárias, tais como o acesso a informação, formação, apoio institucional e apoios financeiros”, explica.
A CCJM tem cerca de 20 membros. Muitos deles representam mais que uma empresa. As principais áreas de negócios são saúde, construção, marketing, imobiliário, comércio online, formação, turismo, logística e tecnologias de informação. A associação espera ultrapassar os 100 associados até ao final deste ano. A participação na MIF ajudou a promover a imagem da câmara, que tem tido uma resposta positiva dos jovens empresários moçambicanos, conta Wilma Gonçalves.
A CCJM espera também facilitar a integração dos jovens na área empresarial, criar o acesso a uma rede de contactos, bem como reunir informação de oportunidades de negócios e carteira de investidores. Um dos grandes objectivos é criar condições mais favoráveis para os membros em diversos serviços essenciais para as suas empresas, através de acordos e protocolos com diversas entidades e empresas públicas e privadas, promovendo o empreendedorismo, a educação, a formação e os negócios na camada jovem. “Neste momento, os nossos esforços estão direccionados para o crescimento da associação através de criação de memorandos e protocolos com outras associações e instituições, criando mais vantagens para os membros actuais e futuros. E a aceitação e apoio tido tem superado as expectativas,” explica.
Macau como plataforma
A nível local, a CCJM está a preparar memorandos de entendimento com instituições governamentais e alguns protocolos com empresas privadas que pretendem apoiar os membros nos seus negócios, como serviços de contabilidade, gestão de software, logística e agricultura. A nível internacional, foi assinado protocolo com a Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC) que permitiu a participação da CCJM numa missão empresarial que incluiu a MIF em 2014 e diversos acordos com plataformas logísticas e entidades governamentais chinesas que irão facilitar a exposição e exportação de produtos moçambicanos para a China. Os jovens empresários lusófonos obtiveram também o apoio da embaixada e do consulado moçambicano na China em todos os negócios que os membros pretendam realizar no país.
“Macau serviu como rampa de lançamento para a CCJM, porque permitiu mostrar a nossa capacidade organizativa, obter contactos e uma carteira de investidores e fornecedores que serão uma mais valia em Moçambique. Pessoalmente, fui a Macau duas vezes em 2014 para estabelecer contactos. A CCJM fez a sua primeira viagem em 2014 para a China, com visitas a Macau, Zhuhai, Nanshan, Shenzhen, Jiangmen, Hangzhou e Pequim,” sublinha a dirigente.
A associação pretende erradicar a ideia da China como apenas fornecedor e mostrar o lado consumidor, com necessidades que o mercado moçambicano consegue suprir dado as suas potencialidades nos diversos sectores. “Estando Moçambique numa fase de franco crescimento, existe cada vez mais necessidade dos produtos chineses processados. Dada a dimensão da China, existe uma necessidade imensa de produtos consumíveis e de matéria-prima, que Moçambique pode suprir,” aponta Wilma Gonçalves.
Este ano, a CCJM tem em mente diversos projectos tanto a nível nacional como internacional. O grupo planeia enviar produtos moçambicanos para a China e uma exposição das empresas dos seus membros em plataformas logísticas chinesas, como resultado da visita efectuada em 2014. Está ainda prevista a organização de algumas visitas empresariais e a realização de eventos em Moçambique para empresários, produtos e serviços moçambicanos, portugueses e chineses. “Pretendemos continuar a criar parcerias com associações de jovens locais e estrangeiras, de modo a alargar a rede de contactos pelo mundo, focando no próximo ano nos PALOP, países vizinhos e na China.”
Não cair no esquecimento
A AJEPC tem quase três anos de existência, mas destaca-se pelo dinamismo. O presidente, Alberto Carvalho Neto, conta que a associação é formada por um grupo de jovens empresários portugueses, macaenses e chineses que “concluíram que tinham os mesmos objectivos e ambições e que era necessário incrementar as relações entre os países de língua portuguesa e a China, sendo que Macau seria a porta de entrada para a China e Portugal o ‘passaporte’ para os investimentos chineses nos países de expressão portuguesa e União Europeia”.
O grupo sentia que teria que se fazer mais pela relação entre as partes envolvidas e para poder crescer nas bases de contactos institucionais. O resultado foi a criação da associação sem fins lucrativos em 2012. Alberto afirma que o principal foco da AJEPC é a promoção e cooperação estratégica, estimulando as trocas comerciais, condições de investimentos e eventos culturais.
A associação foi crescendo quer em número de membros directos, quer por acordos de colaboração com outras associações homólogas na China e associações comerciais e empresariais em Portugal. Até ao final de 2014, a AJEPC tinha mais de 140 membros e 11 chefes de delegações na China, que são na sua maioria presidentes de associações de jovens ou associações empresariais radicados no país. “Os acordos de cooperação tornaram-se a nossa base de contactos na China e constituem hoje elementos de facilitação e estimulação das relações triangulares Portugal-Macau-China”, diz, apresentando as expectativas a médio prazo: “Pretendemos ter um chefe de delegação por zona geográfica que em função da importância da mesma, o que pode respeitar ao nível provincial ou de cidade”
Cerca de 25 por cento dos membros da associação estão ligados ao sector alimentar; os restantes vêm de áreas tão diversas e importantes investimentos, energias renováveis, consultoria, imobiliário ou moda. Alberto Carvalho Neto faz um balanço positivo dos primeiros anos de vida da associação. “Tem feito muito mais pela promoção e pelo incremento das relações comerciais [entre a China e os países de língua portuguesa] do que inicialmente se pensou ser possível.”
Segundo o presidente da AJEPC, a organização tem realizado “inúmeros” acordos de colaboração com diversas associações congéneres, prestado apoio no estabelecimento de zonas de livre comércio na China, bolsas de contacto, apoio aos associados chineses com escritório gratuito em Portugal, apoio aos portugueses em Macau, Hong Kong e China, seminários mensais em Portugal e China que pretendem ser um espaço de networking e partilha de experiências, com o objectivo de criar músculo empresarial e estratégico no sentido de evitar erros e dar passos mais sustentados no caminho da internacionalização para a China.
“A China é um mercado enorme, com grande potencial mas extremamente complexo e baseado nas relações pessoais. Quem não aparece é esquecido, e por isso estamos presentes todos os meses com acções bilaterais, aproximando culturas, reforçando contactos, desenvolvendo relações e conhecimento mútuo e assim gerando plataformas para os empresários desenvolverem os seus negócios”, explica.
É por isso que o empresário visita Macau com uma regularidade mensal. Durante estas visitas, Alberto passa sempre mais tempo no Interior do País. Para ele, “Macau tem um papel importantíssimo nas triangulações, representando uma porta de entrada indiscutível para Portugal e uma importante plataforma para a China chegar aos países de língua portuguesa”. A AJEPC organiza várias acções em Macau, mas, salienta o responsável, “o forte acaba por ser no Interior da China, sobretudo em regiões ‘mais esquecidas’ e que aumentam o potencial de sucesso das nossas incursões”.
Durante este ano, a associação pretende continuar a promover as relações triangulares, principalmente em cidades secundárias e terciárias chinesas, bem como aproximar-se ainda mais dos grandes pólos como Xangai e Pequim que começam agora a atrair a AJEPC devido às relações cimentadas com empresários locais.
Juventude macaense
A Associação dos Jovens Macaenses (AJM) também foi formada em 2012 e está sobretudo concentrada na promoção da língua portuguesa e da cultura macaense nas diversas regiões da China. O presidente da AJM é Duarte Alves, filho de um dos principais representantes da comunidade macaense em Macau, Leonel Alves. “Neste momento, não temos objectivos empresariais. Queremos construir plataformas de comunicação entre os jovens macaenses residentes em Macau, proporcionar oportunidades para nos encontrarmos e falarmos de tudo o que nos importa, seja ao nível social, profissional, cultural ou de entretenimento,” afirma.
A associação pretende também dar a conhecer melhor aos jovens macaenses a língua, cultura e história da República Popular da China. Há mais de uma centena de associados e a adesão às actividades “tem demonstrado que este é um projecto pertinente, que demonstra uma vontade de todos e cujo sucesso é medido precisamente pelo grande envolvimento que suscitam as nossas actividades”.
A AJM tem sido convidada pelo Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, desde a sua fundação, a conhecer as comunidades jovens de várias regiões da China como Pequim, Tianjin e da Província de Hunan. Por outro lado, a AJM também teve a oportunidade, em Junho de 2014, de levar representantes das várias comunidades de jovens de Macau a conhecerem Portugal pela primeira vez. “Foi uma oportunidade para, nós jovens macaenses, darmos a conhecer de perto a história e cultura de Portugal como também de realçar a razão da ligação que Macau tem com Portugal e na importância que temos como plataforma para a ligação entre a China e os países de língua portuguesa.” Este ano, a AJM organizou pela terceira vez o Encontro dos Jovens Macaenses, com 50 representantes das 12 casas de Macau espalhadas pelo mundo.
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Jovens dinâmicos
Wilma Gonçalves
Secretária-geral da CCJM, 30 anos, é luso-moçambicana e engenheira civil de profissão. Viveu 12 anos em Portugal e regressou a Moçambique em 2014. “Descobri em Moçambique um mercado dinâmico, onde cada dificuldade poderia ser transformada numa oportunidade. O crescimento do país tem estado a trazer inovação, diversidade cultural e a criação de novas necessidades. Daí ter decidido que apenas um emprego poderia ser redutor, com tanto por explorar.” Além de trabalhar como directora comercial numa empresa do grupo Meridian, tem a sua uma empresa própria de representação de marcas de produtos moçambicanos e uma sociedade familiar numa empresa de construção.
Alberto Carvalho Neto
Presidente da AJEPC, 30 anos, esteve sempre ligado a projectos sociais, de associativismo, cooperação e iniciativas empresariais. Vem de uma família tradicional portuguesa, sendo o terceiro de cinco filhos. “Sempre gostei de desportos colectivos e espírito de grupo, pertencendo ao Grupo de Forcados Amadores das Caldas Rainha e tendo jogado na equipa de Rugby de Vila Real.”
Duarte Alves
Presidente da AJM, 31 anos, pertence à quarta geração da família Alves em Macau. Estudou e teve as primeiras experiências profissionais fora de Macau, onde permaneceu durante dez anos. “Regressei a Macau em 2009, com uma passagem por Pequim para aprender mandarim e perceber de perto a cultura da capital.” Desde então está envolvido em várias áreas profissionais como engenharia automóvel, restauração e consultadoria empresarial. Tem também dado o seu contributo à RAEM ao estar envolvido em associações sociais e desportivas.