A obra, que constitui o volume VIII da colecção “Missionários para o Século XXI”, do Instituto Internacional de Macau, foi escrita por João Guedes, jornalista e investigador da história de Macau, autor de diversos livros, que fez a sua “estreia” no género da biografia.
Nascido na Candelária do Pico (Açores) em Janeiro de 1917, o padre Áureo Nunes e Castro morreu em Janeiro de 1993 em Macau, onde passou a maior parte da sua vida dedicada à Igreja e à música, sendo a Academia S. Pio X, que fundou e dirigiu desde o início até praticamente à sua morte, uma espécie de marca viva da importância que teve na cultura em geral e na música erudita.
“Creio que esta biografia traz a público uma coisa ignorada: a própria vida dele. Em Macau várias figuras distinguiram-se em diversos campos, mas a música no âmbito cultural é uma coisa pouco falada, não aparecem na história da música vultos como aparecem na literatura ou na pintura. O padre Áureo e Castro é uma excepção importantíssima na área da música e particularmente na da música sacra”, realçou João Guedes à agência Lusa.
Áureo e Castro veio para Macau aos 14 anos para integrar o Seminário de São José, numa altura em que “havia uma corrente de estudantes que eram recrutados pela Igreja Católica e que vinham de dois pontos de Portugal – Freixo de Espada à Cinta e Açores” -, numa altura em que a evangelização da China seria o destino, como contextualiza João Guedes.
Contudo, “quando o padre Áureo já está formado, a revolução já tinha acontecido e surge a República Popular da China [1949] e, portanto, esses padres todos ficaram impedidos de seguir para a China e ficaram em Macau”. “Normalmente eram professores, mas dedicavam-se a outras coisas. Por exemplo, o padre [Manuel] Teixeira dedicava-se à História, (…) o padre Lancelote Rodrigues aos refugiados, o padre Benjamim Vieira Pires era poeta (…). Eles constituíam, na altura, a inteligência de Macau”, indicou João Guedes, antes de avançar para a figura que traça ao longo de uma centena de páginas.
“O padre Áureo e Castro gostava de música, era um músico acima da média e acaba por ser escolhido para ir para o Conservatório de Música de Portugal para tirar o curso de maestro/compositor. Vai para lá, sai formado com altas notas e regressa a Macau para fundar uma filial do Conservatório de Música de Lisboa, o que depois não acontece por vicissitudes várias, de maneira que acaba por se fundar a Academia S. Pio X”.
Como nota João Guedes, “ele não emparceirou com os grandes compositores mundiais apenas porque escreveu pouco” – esta é, aliás, a opinião, que vem citada no livro, do maestro Simão Barreto, que foi aluno do padre Áureo e Castro.
Entrando pela musicalidade, o autor da biografia destaca um “Te Deum”, composto em finais da década de 1950, “que se manteve inédito durante muitos anos depois da sua morte e que foi tocado há poucos anos”, e peças soltas, definindo-o com um “precursor”, dado que tem uma série de trechos em que “foi capaz de introduzir um elemento novo de fusão entre o Ocidente e o Oriente na música clássica”.
Esses trechos “são tocados por vários pianistas de renome internacional”, segundo João Guedes.
“A cultura em geral e a música erudita em particular muito lhe devem e o estado reconheceu o seu papel atribuindo-lhe a Medalha de Mérito Cultural, condecoração que imporia também à sua Academia S. Pio X de que foi alma inspiradora e trave mestra”, lê-se na obra, em que se salienta que Áureo e Castro “encerrou definitivamente um ciclo da cultura em que foi iniludível protagonista, marcando definitivamente uma época”.