Alibaba: Sucesso em linha

Sites de vendas chineses são um verdadeiro sucesso no mercado brasileiro, com o AliExpress, do grupo Alibaba, a liderar a tabela. As relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa chegaram também ao comércio electrónico

 

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Texto Alexandra Lages

 

É um novo fenómeno nas relações comerciais entre os países de língua portuguesa e a China. Os sites de vendas online chineses conquistaram os consumidores brasileiros, tanto que o gigante Alibaba lançou uma versão em português da página AliExpress – uma espécie de irmão gémeo do famoso Taobao, que até ao momento serve apenas o mercado chinês.

Ronaldo da Silva Gonçalves, analista dos Correios do Brasil, avança à MACAU que o volume das importações chinesas aumentou de forma exponencial nos últimos tempos. “Nos últimos quatro anos, o volume de importações aumentou 400 por cento, sendo que o envio de encomendas do corredor asiático representou a maior parte desse aumento”, explica.

Os principais sites chineses que vendem produtos para os brasileiros são o AliExpress, o DealExtreme e o MiniIntheBox, como constata Pedro Guasti, co-fundador da E-bit, empresa que reúne informações do sector do comércio electrónico. “Essas lojas estão entre as dez empresas estrangeiras que vendem produtos aos brasileiros.” De acordo com Guasti, os sites chineses que vendem para o mercado brasileiro têm ganho relevância como alternativa para a compra tradicional de produtos, principalmente por oferecer preços inferiores aos disponíveis no Brasil. A E-bit estimou que em 2014 foram comprados em sites estrangeiros algo como 6000 milhões de reais (cerca de 1500 milhões de dólares norte-americanos).

O ano de 2015 não tem sido fácil para o Brasil, que está a viver uma forte desaceleração económica, que se reflecte sobretudo na queda da moeda brasileira (o real), encarecendo os produtos importados. “Os números de vendas de sites chineses para o Brasil poderão crescer ainda mais a partir da retomada do crescimento e eventual valorização do real, quando poderemos ter novamente factores que colaborem para isso”, salienta o mesmo responsável.

 

Vendas de milhões

Segundo um estudo do Ibope E-Commerce, a AliExpress foi a líder em unidades vendidas no Brasil, com 11 milhões de pedidos entre Julho e Setembro de 2014. O Ibope estimou que o AliExpress facturou mais de 330 milhões de reais (cerca de 80 milhões de dólares) no terceiro trimestre de 2014. Se o site continuasse no mesmo ritmo em 2015, poderia atingir receitas superiores a mil milhões de reais (250 milhões de dólares) em território brasileiro.

Pamela Muñoz é a directora de comunicação da empresa Alibaba. A executiva confirmou à MACAU que o Brasil figura entre os três principais mercados do AliExpress, juntamente com a Rússia e os Estados Unidos. “O Brasil é um dos principais mercados para a AliExpress. Estamos a tentar servir a esta importante área demográfica através da oferta de uma página e uma aplicação móvel na língua local, que estão disponíveis para todos os países de língua portuguesa. A AliExpress também oferece promoções localizadas e opções de pagamento para o mercado, juntamente com o serviço ao cliente e suporte de social media em português. Os consumidores compram através da página pt.AliExpress.com, e também podem desfrutar das mesmas ofertas disponíveis em português”, explica a responsável.

Cerca de 18 mil novos clientes brasileiros acedem a esta plataforma de vendas diariamente. Desde o início do funcionamento do site, em Abril de 2010, foram realizados mais de seis milhões de pedidos por compradores brasileiros. Só em 2014, o grupo Alibaba arrecadou cerca de 1800 milhões de renminbis no sector de vendas online no mercado internacional. Isto representa um aumento de 88 por cento em relação ao ano fiscal anterior. “Este aumento deu-se em grande parte devido a um crescimento das vendas feitas através do AliExpress”, aponta Pamela Muñoz.

Com mais de 40 milhões de usuários em 190 países, o serviço oferece milhares de categorias de produtos em 40 sectores e é um dos três sites mais visitados no mundo em negócios.

 

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Marketing boca a boca

Segundo Pedro Guasti, o site conseguiu posicionar-se desde o início das vendas transfronteiriças como uma das alternativas para os brasileiros. A partir de 2011, com a valorização do real a facilitar a importação de produtos, o site sempre esteve à frente dos sites chineses oferecendo bons preços, oferta diversificada e novidades. “O marketing boca-a-boca sobre essa novidade e a aparição em meios de comunicação contribuiu para o fortalecimento da marca no Brasil.”

Em Março deste ano, Pamela Muñoz deslocou-se ao Brasil para procurar parceiros locais para aumentar as vendas e a rapidez das entregas. O grupo está a planear ainda iniciativas para facilitar as compras no AliExpress, como um cartão pré-pago.

Além do longo prazo de entrega, Guasti aponta que ainda predomina alguma falta de confiança por parte dos compradores. “Uma pesquisa da E-bit apontou que o prazo médio prometido para entrega dos produtos comprados em sites chineses era de 46 dias, em Dezembro de 2014. Outra questão ligada à confiança refere-se à falta de clareza quanto à eventual necessidade de troca e devolução de produtos, o que pode gerar desconfiança para compras de produtos de maior valor agregado.”

O Grupo Alibaba está ainda a criar uma plataforma para as empresas brasileiras entrarem no mercado chinês. O grupo e os Correios do Brasil assinaram um acordo no ano passado para ajudar as pequenas empresas brasileiras a venderem os seus produtos na China via AliExpress. O gigante chinês espera agora assinar um acordo com o governo brasileiro no mesmo sentido.

 

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O fenómeno Alibaba

Criado em 1999 pelo visionário empreendedor chinês Jack Ma, o Grupo Alibaba tinha 18 funcionários e o seu escritório ficava na casa do executivo, em Hangzhou, actual sede da companhia. Hoje soma mais de 35 mil funcionários no mundo e conta com 90 unidades na China e outras 19 fora. É considerado um dos maiores negócios da actualidade na área do comércio electrónico. Em 2013, o grupo lançou o AliExpress em língua portuguesa e o site caiu nas graças dos brasileiros. E os motivos são diversos. Lançado em 2010, e presente em 190 países, o site conecta compradores e vendedores e, por essa razão, não mantém estoque. Tem uma variedade de produtos a preços atraentes e somente no último ano fiscal, encerrado em 30 de Junho de 2014, teve facturamento total movimentado de 4500 milhões de dólares.

A prova de que o gigante chinês está atento ao mercado brasileiro foi a contratação do executivo Lucas Peng para liderar os negócios directamente da sede na China. Segundo Peng, o consumidor brasileiro é mais exigente e tem gosto refinado, levando o site a criar diversos meios online para ajudar o consumidor na sua escolha. “Temos uma equipa que trabalha na criação de canais com tendências, produtos inusitados e moda”, disse. Essa equipa, complementou, também tem trabalhado para aprimorar a busca em português. Uma das funcionalidades que já faz parte da versão móvel é a possibilidade de adicionar o produto no carrinho por meio do telemóvel e depois finalizar o processo no computador. Através da plataforma chinesa, os brasileiros compram sobretudo acessórios para telemóveis (capas e protecções), relógios, vestidos e t-shirts.