Portugal e China unidos por um portal

Chama-se Portal Martim Moniz e promete pôr as comunidades chinesas e portuguesas a conhecerem-se melhor uma à outra. Está escrito nas duas línguas e, apesar de ter sido lançado há escassos meses, já conta com visitantes dos dois países. O próximo passo é a abertura de uma escola de mandarim em Lisboa

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Texto Mónica Menezes | Fotos Paulo Cordeiro

 

A primeira plataforma online luso-chinesa de informação, divulgação turística e promoção de oportunidades de negócios, intitulada Portal Martim Moniz, entrou no ar em Setembro do ano passado com o objectivo de atrair a comunidade chinesa a investir em Portugal. Todos os conteúdos são apresentados em chinês e em português e vão da cultura ao comércio, da educação ao turismo e dos investimentos à gastronomia. O crescente aumento do turismo e investimento directo chinês em Portugal foram factores importantes para a criação da plataforma, tendo como intuito facilitar a interculturalidade e impulsionar o aumento do interesse da comunidade chinesa em Portugal.

Para Den Chuang, director executivo do Portal Martim Moniz, este projecto visa “criar uma ponte entre dois povos de modo a preservar e fortalecer laços que vêm de há mais de 500 anos”. Uma equipa de cerca de 20 pessoas, mas que tem estado sempre a aumentar, conta, assim, com membros portugueses e chineses pois só dessa forma se consegue entender melhor as duas comunidades. “São países diferentes, são valores diferentes, educações diferentes, culturas diferentes. Era impensável o Portal Martim Moniz existir no mercado se não houvesse esta preocupação de termos sempre pessoas portuguesas e pessoas chinesas. O sucesso parte daí, é a nossa mais-valia”, aponta João Ferro, director de marketing da plataforma.

Em entrevista à MACAU, Den Chuang e João Ferro falam das estratégias do Portal para servir como essa ponte de ligação.

 

Como é que surgiu esta plataforma?

Den Chuang – Há pouco mais de um ano começamos a concepção da estrutura, e em Setembro lançamos oficialmente a plataforma. O portal veio colmatar uma necessidade que o mercado tem. Temos uma comunidade chinesa crescente em Portugal, mas a interacção entre portugueses e chineses, quer seja no comércio, no turismo, em várias áreas de mercado de cultura, ainda não se desenvolveu. Por isso, queremos ser esta ponte. O portal é uma ferramenta para ‘vender’ Portugal a chineses e, de alguma forma, os chineses em Portugal, ou os chineses que vêm de fora para Portugal conseguem saber como é que os portugueses são, o que é que têm de ter atenção.

 

O que é que se pode encontrar no portal? Só o que interessa aos chineses ou também o que interessa aos portugueses?

Den Chuang – Há duas partes no portal, uma em cada língua. Para os chineses, eles podem encontrar informação sobre o país, como dez sítios para se visitar em Portugal, de forma a ajuda-los a planear a sua viagem. Também temos listas, por exemplo, dos melhores sítios para comer ou o que é que significam os feriados portugueses. O que queremos é dar informação útil aos chineses que vêm para Portugal. Mas os portugueses que também têm curiosidade pelos chineses, que também os há, para eles também temos esse tipo de informação, mas focada na China. As notícias e os conteúdos são introduzidas em português e depois traduzidas para chinês.

João Ferro – Tem não só a ver com informação que se passa cá e queremos transmitir para os chineses que estão na China, mas também informações que achamos que podem ser úteis para a comunidade chinesa que está cá. Também trabalhamos com a rede social chinesa WeChat, que assume uma grande importância dentro da República Popular da China e também em Portugal. E é aí que nos entramos. Se um chinês quer informações de Portugal encontra no portal: qual o melhor hotel, de que forma consegue tirar o cartão de cidadão…

Den Chuang – Somos uma entidade certificada pela Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC). Somos uma agência de comunicação social, só que o nosso foco primário não é ser uma plataforma de média, embora tenhamos essa vertente – temos jornalista com carteira profissional, publicamos notícias. O nosso foco principal passa por tudo o que é Portugal-China em termos de comunicação, ligação cultural. O portal Martim Moniz também serve para os portugueses que vão à China perceberem melhor os chineses.

 

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Aproximar os dois países é a vossa prioridade?

João Ferro – O portal tenta reunir informação da comunidade portuguesa e chinesa. Apesar de termos uma equipa de jornalistas tanto portugueses como chineses, não queremos ser mais um portal com informação do dia-a-dia. Isso já existe na China, já existe em Portugal e temos outros parceiros que já o fazem. Queremos ir além. Aquilo que não é a preocupação dos outros, nós encaramos de outra forma. É um local que se preocupa em dar outro tipo de informações, mas que também tem reportagens, tem informações sobre lugares.

Den Chuang – Também queremos produzir parcerias com outros órgãos de comunicação social chinesa. Se, por exemplo, há um jantar da embaixada, não vale a pena irmos todos. Vai um e partilha a informação com todos. A comunidade chinesa em Portugal é muito pequena e os meios de comunicação no mercado, como o Diário de Todos, o Rua da Palma e agora o nosso portal, todos têm uma oferta que pode ser partilhada. Em termos de procura de mercado, temos percursos diferentes e se trabalharmos juntos podemos servir melhor a comunidade chinesa.

 

Portal Martim Moniz porquê?

Den Chuang – Se Lisboa tivesse uma Chinatown seria no Martim Moniz. Se um português quiser ver um chinês, como um chinês vive, a cada dez passos no Martim Moniz encontrará um de certeza

 

Onde é que foram buscar a vossa equipa?

Den Chuang – A selecção foi feita conforme a necessidade. Inicialmente precisávamos de pessoas para informática, para traduções, pessoal bilingue que atendesse chamadas tanto dos portugueses como dos chineses. À medida que surjam as necessidades, vamos ao mercado seleccionar parceiros de negócio e mais pessoal. Neste momento somos 20.

 

Quantos chineses e quantos portugueses?

João Ferro – Tentamos repartir 50/50, mas neste momento trabalham mais chineses. Mas há uma explicação: a equipa que está sempre a aumentar, e neste momento temos muitos tradutores chineses. Há uma grande necessidade de tradutores que não é fácil de colmatar. Temos a preocupação de dar formação e essa também é uma forma de introduzir os chineses no mercado de trabalho nacional.

 

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Também há planos para um centro de língua chinesa do próprio portal. Quando é que esse projecto arranca?

Den Chuang – Em Janeiro, caso tenhamos a certificação. Já temos o espaço e está tudo à espera da aprovação. Vamos oferecer vários tipos de cursos de mandarim por professores certificados e experientes.

 

Que feedback é que têm recebido tanto de chineses como de portugueses?

João Ferro – É muito bom, é óptimo porque temos praticamente três meses de existência no mercado e temos tido um crescimento degrau a degrau. Arrancámos inicialmente logo no domínio chinês porque não é fácil. Neste momento temos uma média de 40 mil visitas – 30 por cento de chineses e o restante de portugueses. Esses 30 por cento a que me refiro são de usuários na China. Os outros 70 por cento são acessos a partir de Portugal, tanto de chineses como de portugueses.