Telegramas visuais

Alberto Chan, Eloa Defly e Nuno Assis: três instagramers que olham para Macau através da lente de um telemóvel. São utilizadores activos desta rede social de partilha de fotografias e vídeos criada em 2010.

 

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Texto Catarina Domingues

 

 

@albertochan

 

alberto chan_foto mural

 

Era Inverno em Nova Iorque. Alberto Chan, a estudar Design de Interiores nos Estados Unidos, andava pela baixa de Manhattan quando descarregou a aplicação da semana: Instagram. A primeira fotografia seria tirada mais tarde, no MOMA (Museu de Arte Moderna) – era uma maqueta numa exposição de arquitectura. Alberto Chan escolheu um filtro a preto e branco e publicou a primeira entrada no mural do Instagram. “Pequena escala, grande mudança”, pode ler-se na legenda.

Hoje, cinco anos mais tarde, e já de regresso a casa, Macau, percorre com o polegar o monitor do telemóvel. É uma questão de minutos até chegar ao fundo do mural, à fotografia onde tudo começou. Está lá, tirada há 278 semanas. “O Instagram ajuda-me a lembrar onde estive”, diz.

 

alberto chan_foto

 

Ao olhar as mais de 2000 fotografias publicadas no mural de Alberto Chan, é quase possível traçar um perfil do designer. E é como se estivéssemos a espreitá-lo atrás da porta e a ver o que anda a fazer: Alberto Chan andou frequentemente de metro em Nova Iorque, frequentou lavandarias self-service, assistiu às manifestações do Occupy Wall Street, foi ao concerto de Kylie Minogue e viajou até Koh Samui, Copenhaga e Londres. Quando regressou a Macau, abriu a loja Quarter Square, na Taipa. Para quem segue diariamente Chan no Instagram, é fácil perceber também as mudanças no conteúdo e composição fotográfica. “No início fotografava aleatoriamente pessoas na rua, mas quando terminei os estudos comecei a retratar aspectos mais ligados à profissão.”

Para fotografar Macau “há que explorar muito para fugir ao circuito turístico”, diz. “Talvez se tenha que voltar aos edifícios altos da cidade e fotografar cá para baixo, como se fazia há uns anos. Criou muita polémica.”

 

Alberto Chan

 

@eloadefly

eloa defly_foto mural

 

“A minha vida mudou consideravelmente no dia em que comecei a usar óculos para corrigir a miopia. Nem podia acreditar como era bonito o mundo em que vivemos. Não consigo imaginar o que seria se me voltassem a retirar a visão.” É assim que Eloa Defly, em Macau há cerca de cinco anos, se começa por apresentar na página do Instagram.

A entrada nesta rede social, que aconteceu pouco depois de chegar à cidade, era óbvia: formado em Redes e Telecomunicações no Togo, país africano no Oeste africano, onde nasceu, encontrou numa só aplicação de telemóvel várias áreas de interesse: a fotografia, novas tecnologias e redes sociais.

 

eloa defly_foto

 

“Deu consistência ao meu trabalho fotográfico”, nota Eloa Defly, que vê o Instagram como uma “reconfiguração” de todo o processo fotográfico. “Quando tens uma câmara nas mãos, tens de lidar com o ISO, a abertura [do diafragma] e todos esses detalhes técnicos. No telemóvel, dependes de uma lente e não controlas uma série de coisas”.

A frequentar o último ano de Arquitectura na Universidade de São José, este estudante regista sobretudo imagens da cidade. Fotografia urbana, pessoas e arquitectura: são estes os temas que se distinguem nos pequenos quadradinhos do mural de Eloa no Instagram.

 

eloa defly_foto perfil

 

Mas para este utilizador, a rede social vai além do conceito de “fotografia como arte”: permite entender as pessoas, os locais que frequentam, os interesses que têm.

Muitos dos amigos que Eloa fez longe de casa são instagramers activos. Participante frequente nos Instameet (ver instadicionário) de Hong Kong, o togolês lamenta que falte entusiasmo à comunidade de Macau para se reunirem. Foi numa dessas ocasiões que conheceu Nuno Assis.

 

@nunoassis

nuno assis_mural

 

Os números dizem tudo: 241 mil seguidores e mais de 1500 fotografias publicadas desde 2013. Nuno Assis é arquitecto e está em Macau há sete anos. É um fenómeno mundial do Instagram. A conta deste português já foi considerada uma das 21 mais criativas no mundo pelo website Buzzfeed.

Foi muito por culpa da namorada, que já tinha conta nesta rede social (@catarinalamy com 38,5 mil seguidores), que Nuno Assis deu uma hipótese ao Instagram. “Foi um despertar do gosto pela fotografia”, começa por dizer. “Na altura, utilizava uma máquina convencional, transferia as fotografias para o iPod e publicava-as.”

A compra de um smartphone coincide com o destaque dado pela página do Instagram à conta de Nuno Assis. Ganhou visibilidade, os mil seguidores passaram a ser 10 mil. E o Instagram tornou-se parte do dia-a-dia.

 

nuno assis_foto

 

A arquitectura está sempre lá, e as pessoas também. Foi Nuno Assis que criou o hashtag (ver instadicionário) #architectureandpeople, já com mais de 41 mil entradas. “A minha fotografia tem muito a ver com a procura da geometria num ambiente urbano, com a repetição, a densidade populacional de Macau e os edifícios em altura. Mas a certa altura, achei que a fotografia de arquitectura necessitava de escala, da relação com a pessoa, com o homem”.

Foi através desta plataforma de partilha de fotografias que o utilizador português acabou por ser solicitado para fotografar produtos de marcas internacionais. Em Taipé, capital de Taiwan, fotografou em conjunto com outros cinco instagramers da China produtos para a nova colecção da ACG, da Nike. “Tiramos fotografias aos produtos, publicamos, pomos um hashtag, é uma forma de publicidade”, explica. O trabalho final esteve em exposição em Xangai.

nuno assis_foto perfil

 

 

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Como tudo começou

O Instagram é uma rede social online de partilha de fotografias e vídeos, que permite aos utilizadores a aplicação de filtros digitais e a sua publicação em várias outras redes sociais. Uma das características iniciais que distinguiu este serviço foi a limitação das fotos a um formato quadrado, semelhante ao das câmaras Polaroid. Lançado em Outubro de 2010 pelo norte-americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger, o Instagram atingiu 100 milhões de utilizadores activos em 2012 e ultrapassou os 400 milhões no ano passado. O serviço, que tem vindo a alargar o leque de opções de edição, foi adquirido pelo Facebook em 2012 por cerca de mil milhões de dólares americanos (cerca de oito mil milhões de patacas).

Instadicionário

Ghost follower – utilizadores que começam a seguir uma conta, mas que nunca estão presentes nas publicações. Servem para aumentar o número de seguidores.

Geotag – ferramenta que permite adicionar as coordenadas geográficas onde foram tiradas as fotografias.

Hashtag – é uma palavra-chave precedida pelo símbolo #, que as pessoas incluem nas mensagens. Permite que o conteúdo de uma publicação seja acessível a todas as pessoas com interesses semelhantes.

Instagram – rede social de partilha de fotografias e vídeos. O nome junta as palavras “instantâneo” e “telegrama”.

Instameet – encontro de utilizadores do Instagram para tirar fotografias ou fazer vídeos.

No filter – serve para dizer que a fotografia foi publicada sem filtros.

Lookup – fotografia tirada a um grupo de edifícios em plano contrapicado.

Mini Oumun – encontros de instagramers em Macau, que envolvem poucos utilizadores.

TBT (throwback Thursday) – hashtag que se utiliza para, a cada quinta-feira, publicar uma fotografia antiga.

FBF (flashback Friday) – sexta-feira é uma nova oportunidade de publicar uma foto antiga, caso se tenha