Aulas de dialecto de origem portuguesa de Singapura tentam despertar crioulo com 100 falantes

Kevin Wong quis despertar o ‘kristang’ de Singapura, dialecto de origem portuguesa falado por uma centena de pessoas, e para isso lançou, em 2015, as primeiras aulas do crioulo na cidade-Estado, por onde já passaram cerca de 100 alunos.

Wong, que se diz “metade euro-asiático português”, foi um dos oradores da conferência ‘Línguas em Contacto na Ásia e no Pacífico’ na Universidade de Macau, dedicada ao multilinguismo e com especial enfoque nos crioulos de base portuguesa da Ásia.

No encontro, o jovem estudante de Linguística apresentou o seu projecto “Kodrah Kristang” (‘Despertar o Kristang’), lançado em Março do ano passado, para recuperar um dialecto muito ligado à identidade da “comunidade portuguesa euro-asiática”, que se perdeu durante o domínio inglês em Singapura. Wong explicou ainda que, ao contrário do que acontece com os falantes de ‘kristang’ em Malaca, a comunidade de Singapura dispersou-se.

O ‘kristang’, um crioulo que tem o português no seu vocabulário e malaio na gramática, é falado por menos de mil pessoas, entre Malaca e Singapura, sendo que na cidade-Estado estimam-se menos de 100 falantes. O dialecto não é ensinado nas escolas (a crianças ou adultos), expresso nos ‘media’, falado nas ruas ou usado em festividades.

As aulas já reuniram, em várias turmas, cerca de 100 alunos, entre antigos falantes de ‘kristang’ que não usavam a língua há várias décadas e membros da comunidade euro-asiática portuguesa que nunca souberam falar mas têm esse interesse. Há ainda, contou Wong, vários estrangeiros.

O ‘kristang’ de Singapura é tão desconhecido que o próprio Wong não sabia da sua existência, tendo tomado conhecimento através de uma investigação académica. O processo de ‘despertar’ identitário foi tão forte que decidiu aprender e é hoje o único professor do dialecto, contando com apoio de outras três pessoas.

“Esta é uma parte da minha cultura que nem eu conhecia. É a minha herança, é parte de mim, por isso pensei ‘Porque não?’. É assim que posso ajudar a comunidade. Ao aprender a língua sinto-me uma pessoa mais completa, sinto que encontrei algo que não sabia que me pertencia”, explicou à Lusa.