Nove artistas portugueses em destaque no Festival de Vídeo Experimental de Macau

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A edição deste ano do Festival de Vídeo Experimental de Macau é dedicada a Portugal, com destaque para trabalhos de nove artistas portugueses que testam e questionam “os limites” do próprio meio.

Os trabalhos de Rui Calçada Bastos, Nuno Cera, Carla Cabanas, António Júlio Duarte, José Carlos Teixeira, José Maçãs de Carvalho, Tatiana Macedo, Mariana Viegas e Bruno Ramos podem ser vistos em Macau entre sexta-feira e domingo, juntamente com os de quase duas dezenas de artistas de Macau.

José Drummond, responsável pela selecção do programa dos artistas portugueses, explica à Lusa que, tal como noutras formas de arte experimental, também no vídeo o objectivo é “testar os limites do media em si”. O vídeo experimental “distancia-se de uma forma mais narrativa de um filme, com começo, meio e fim” e “questiona o próprio media”, reflectindo “que tipo de experiências se pode fazer” com ele.

Nesse sentido, o programador considera o trabalho de José Maçãs de Carvalho “muito paradigmático”: “Não se limita a apontar uma câmara para qualquer coisa e tentar construir uma narrativa a partir daí. Não, há uma ligação com o media. O filme experimental renasce muito pela manipulação do filme em si e não por aquilo que é feito pela câmara”.

Drummond destaca também o trabalho de José Carlos Teixeira, que fica “entre o documental e a performance”, em que se pede às pessoas para “simular uma queda”. O resultado é algo que “não é cinema, não é documentário e acaba por não ser performance”.

O programador elogia ainda o trabalho de Tatiana Macedo, que considera brilhante: “O que ela fez foi ir à Tate Gallery e são 45 minutos Tate Gallery, mas no trabalho o sujeito não são as obras de arte e não é o público. Ela tenta transmitir um pouco do que é o olhar sobre o museu a partir da condição dos assistentes, das pessoas que estão a tomar conta das salas, os guardas.

“Nessa perspectiva, é quase como se tivesse a retirar uma função qualquer da câmara enquanto objecto de registo, passando a ter uma função emocional que é o que é que aquelas pessoas veem, o que é a vida delas, o que é que elas sentem”, prosseguiu.

Apesar das dificuldades inerentes à selecção de trabalhos para um festival, Drummond considera que “Portugal tem excelentes” artistas em toda a linha e o vídeo experimental não é excepção, pelo que a abundância de oferta fez com que fosse mais fácil “encontrar soluções e criar diálogos que fizessem sentido na programação” do evento.

O programador, que é ele próprio também artista plástico, considera que há algo que distingue os trabalhos dos portugueses dos restantes artistas.

“Nos trabalhos de Macau, apenas o do Yves [Etienne Sonolet] é feito por um ocidental, todos os outros são de Macau. Têm uma percepção que tem que ver com uma forma mais asiática. Nesse sentido [os portugueses] são realmente trabalhos diferentes. Há momentos de memória e percepção que são comuns a todos os trabalhos, mas são diferentes porque a origem das pessoas é diferente, as vidas das pessoas é diferente, aquilo que veem, que sentem, sentem-no de forma diferente”, explicou.

Drummond lembra que quase todos os artistas portugueses que participam no festival são marcados pelo facto de “em determinado ponto da sua carreira terem sido emigrantes ou terem tido alguma ligação com a viagem” – José Carlos Teixeira vive nos Estados Unidos, Bruno Ramos em Londres, Tatiana Macedo em Berlim, Mariana Viegas na Dinamarca, Nuno Cera no Canadá, Rui Calçada Bastos viveu 12 anos em Berlim e António Júlio Duarte fez muito do seu trabalho fora de Portugal.

“A ligação [dos artistas] de Macau é com Macau, enquanto o programa português é mais universalista”, resume.