Este processo, pelo qual organismos biológicos vivos contribuem para a redução da carga de poluentes de um determinado sistema é designado por biorremediação, explicou à Lusa a investigadora do Centro Inter-disciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto, Patrícia Cardoso.
As plantas de mangal são capazes de “limpar” a água que é escoada da terra para o mar, filtrando (até certa capacidade) compostos marinhos (metais) e orgânicos (pesticidas), através, essencialmente, das suas raízes, que se acumulam em organismos marinhos, os quais servem de alimento para o ser humano, informou em comunicado o CIIMAR.
Embora actuem como “filtros biológicos”, indicou Patrícia Cardoso, “pouca atenção lhes tem sido dada na bioacumulação e nos efeitos citotóxicos (avaliação da toxicidade ao nível celular) de metais e compostos orgânicos na cadeia alimentar e, consequentemente, na saúde humana”.
Estas plantas, típicas de ambientes tropicais e subtropicais, constituem ‘habitats’ costeiros “únicos”, oferecendo uma grande variedade de bens e serviços aos ecossistemas e à sociedade, acrescenta o CIIMAR.
Em Macau, as áreas de mangal ocupam cerca de 40 hectares e a sua integridade é constantemente agravada pela descarga de esgotos industriais, no estuário do Rio das Pérolas, proveniente das cidades costeiras, lê-se na nota informativa.
Entre os diferentes tipos de poluentes destacam-se os pesticidas e os metais, tais como o cádmio, o chumbo e o zinco, que, em excesso, podem causar “graves consequências ambientais, ecológicas e à saúde”, a nível neurológico e endócrino.
Na China, continua o CIIMAR em comunicado, as zonas de mangal cobrem, actualmente, cerca de 23 mil hectares, depois de terem sofrido uma diminuição drástica de cerca de 50% nas últimas décadas, sendo as províncias de Guangdong, Guangxi e Hainan as que têm maior distribuição.
Na primeira parte deste projecto, os investigadores estão a caracterizar espacial e sazonalmente os níveis de metais e pesticidas mais relevantes, em áreas cobertas por mangal, em contraste com outras que não têm a planta.
De seguida, vão ser analisados os mesmos contaminantes ao logo da cadeia alimentar (produtores e consumidores primários e predadores), presente nas mesmas áreas, de forma a inferir acerca do papel destas plantas na bioacumulação ao longo da cadeia trófica.
Este trabalho de campo vai ser complementado com experiências laboratoriais, nas quais se pretende avaliar a capacidade de acumulação e os efeitos citotóxicos de exposição a estes compostos em espécies chave, como é o caso de alguns bivalves (amêijoa vietnamita, por exemplo), com elevado interesse comercial. “Através da implementação deste projecto”, é possível “compreender melhor o papel dos mangais na protecção da fauna, do ambiente envolvente e, consequentemente, na saúde humana contra esses poluentes”, estabelecendo estratégias de “gestão e conservação”, referiu Patrícia Cardoso.
Em Portugal, segundo a investigadora, embora não haja plantas de mangal, dado tratar-se de um clima temperado, existem as plantas de sapal (que fazem a transição entre os sistemas terrestre e aquático), que desempenham um papel semelhante, contribuindo para a remediação destes ‘habitats’.
Para além do CIIMAR, participam nesta investigação elementos do Instituto de Ciência e Ambiente da Universidade de São José, em Macau.
O projecto, designado “The role of mangroves on the bioaccumulation and citogenotoxic effects of metals and pesticides on the food web of a sub-tropical coastal system”, finaliza em 2018 e é financiado pelo Fundo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FDCT), de Macau.