Gastronomia | Macau na Rede das Cidades Criativas da UNESCO 

A inclusão de Macau na rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da gastronomia pode ser uma oportunidade para dar a conhecer ao mundo a culinária macaense, defendem responsáveis por associações de promoção da cultura macaense.

 

 

Texto Catarina Domingues | Fotos Turismo de Macau

 

“É o caminho certo”, reage Hugo Bandeira à entrada de Macau para a rede das Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). O título, atribuído à RAEM no início de Novembro, diz respeito à área da gastronomia e, segundo o coordenador do departamento de Alimentação e Bebidas do Instituto de Formação Turística (IFT), pode servir de estímulo à internacionalização da culinária local. “É a altura ideal para tentarmos dar um passo em frente, aumentar a qualidade de oferta e a diversidade, porque este é um marco importante”, refere o também membro fundador da Confraria da Gastronomia Macaense. 

Hugo Bandeira, que vê a designação como uma oportunidade de “internacionalizar a gastronomia macaense”, realça que a atribuição do título é sinal de que Macau tem uma variedade gastronómica “interessante”. 

Este ano, 64 cidades em todo o mundo foram designadas de Cidades Criativas, um título que cobre sete diferentes áreas: artesanato e arte popular, design, cinema, gastronomia, literatura, música, artes e média. Macau, que submeteu a candidatura a 14 de Junho de 2016, tornou-se na terceira cidade da China a entrar para o grupo de Cidades Criativas na área da gastronomia, depois de Chengdu, em 2010, e Shunde, em 2014. 

Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses e da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, considera que “ninguém fica indiferente a um título destes”, que é, “no fundo, um reconhecimento da diversidade de Macau”.  

“A gastronomia macaense não pode ser vista como uma coisa que vem de fora, o facto de fazer parte da gastronomia de Macau é muito bom, a comunidade pode orgulhar-se”, realça ainda o responsável à revista MACAU. 

A Rede de Cidades Criativas da UNESCO foi criada em 2004 com o objectivo de reforçar parcerias entre cidades que consideram a criatividade um factor estratégico de desenvolvimento urbano sustentável com impacto social, cultural e económico. 

 

Diversificação da economia 

“A Gastronomia foi seleccionada pelo Governo da RAEM como a área criativa com maior potencial para Macau maximizar um desenvolvimento urbano sustentável”, pode ler-se num comunicado do Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura sobre a candidatura de Macau, que considera ainda que a culinária “está intimamente ligada com a cultura e as tradições locais, bem como com a indústria do turismo”. 

A candidatura da RAEM começou a ser preparada no final de 2015 e levou mais de um ano até estar concluída. A comissão responsável pela proposta deslocou-se às duas Cidades Criativas gastronómicas da China – Shunde e Chengdu – e fez também visitas de estudo a outros destinos da rede UCCN (UNESCO Creative Cities Network), como é o caso de Pequim, Östersund (Suécia), Jeonju (Coreia), Phuket (Tailândia), Enghien-les-Bains (França) e Dénia (Espanha). 

O Chefe do Executivo da RAEM, Chui Sai On, felicitou a cidade pelo título, referindo o “forte apoio” do Governo Central e o trabalho de equipa de sectores locais como o Turismo e a Restauração. No processo da construção de Macau como “Centro Mundial de Turismo e Lazer”, disse o líder, a gastronomia e a criatividade são dois aspectos que merecem a atenção do Governo.  

Para o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, a designação de Macau como cidade membro “abre novas oportunidades para a diversificação da economia da cidade, com a gastronomia a assumir um papel de força condutora”. O responsável pela pasta da cultura acredita que este é um contributo “que vai para além da gastronomia e do turismo, uma vez que trará novos modelos de desenvolvimento que reconhecem a criatividade como um factor estratégico de desenvolvimento sustentável”. 

Em termos de herança, vinca ainda Tam, espera-se que a designação “reforce o reconhecimento mundial do legado de mais de 400 anos da culinária de Macau” e desperte o interesse entre as gerações mais novas da cultura gastronómica, “especialmente da comida macaense”. 

 

Confraria “deve ser chamada à acção” 

Para celebrar o título atribuído à RAEM, o Governo vai agora lançar uma série de actividades de divulgação ao nível local e internacional, incluindo o reforço da formação profissional e a organização de um fórum anual de gastronomia internacional. Macau deverá também participar em eventos internacionais de intercâmbio, organizados pelas diferentes Cidades Criativas. 

Na sequência da designação, Macau planeia ainda a criação de um centro de gastronomia local, segundo anunciou o professor do Instituto de Formação Turística (IFT) de Macau, David Wong. “Estamos a tentar ver locais onde possamos desenvolver este centro de gastronomia. No IFT já temos uma estrutura forte para construir a próxima geração de cozinheiros e chefes, mas com esta designação vamos tentar melhorar e fazer mais cozinha local, mais cozinha macaense e ter um centro de gastronomia apenas para Macau”, notou Wong. 

Em entrevista à MACAU, Hugo Bandeira, membro fundador da Confraria da Gastronomia Macaense, considera que esta é também uma oportunidade de desfazer mitos no que diz respeito às culinárias locais. “Ainda se confunde muito o que é gastronomia portuguesa e macaense”, lembra o coordenador do departamento de Alimentação e Bebidas do IFT, revelando, além disso, que persiste um desconhecimento por parte dos locais sobre a culinária macaense. “Ainda há muito pouco tempo numa das minhas aulas perguntei o que é que era a gastronomia macaense e entre as 120 pessoas, muito poucas, diria que duas ou três, conseguiram responder mais ou menos. A população sabe que existe uma gastronomia macaense, diz que gosta de gastronomia macaense, mas não terá bem a certeza do que é.” 

Para este trabalho de divulgação da gastronomia de Macau, acrescenta Hugo Bandeira, “é do interesse de todos” que várias entidades se juntem, “incluindo a Confraria da Gastronomia Macaense”. 

Também o presidente da Associação dos Macaenses, Miguel de Senna Fernandes, diz que a confraria “deve ser chamada à acção”. Fundada em 2007, com o objectivo de divulgar a culinária macaense, a Confraria está a passar por um momento “grave”, adianta Senna Fernandes. “Precisa de subsídios para angariar mais sócios, para ter meios para garantir, meios para difundir ainda melhor a gastronomia macaense com a dignidade que lhe merece, porque os confrades e confreiras que fazem parte são exímios cozinheiros, exímios chefes da cozinha macaense”, conclui o responsável. 

 

 

*****

Novas cidades criativas na área da Gastronomia 

Alba (Itália) 

Buenaventura (Colômbia) 

Cidade do Panamá (Panamá) 

Cochabamba (Bolívia) 

Hatay (Turquia) 

Macau (China) 

Paraty (Brasil) 

San Antonio (Estados Unidos da América) 

 

*****

Sete destinos lusófonos na rede de Cidades Criativas da UNESCO em 2017 

Portugal 

Três cidades portuguesas receberam o título de Cidades Criativas da UNESCO. “Somos uma cidade onde a investigação, a criatividade, a cultura, a juventude e a artes navegam em sentidos convergentes”, reagiu Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, cidade distinguida na categoria de Artes Mediáticas. 

Barcelos recebeu o título na categoria de Artesanato e Arte Popular. Num comunicado, o município lembrou que “é a primeira cidade em Portugal e na Península Ibérica a integrar a rede mundial de Cidades Criativas” nesta categoria. O reconhecimento “vem legitimar um concelho que se ergueu e se tem reinventado através da criatividade e o investimento” na área.  

Já Amarante foi agraciada com o título na área da Música. A Câmara Municipal sublinhou que se tem vindo a “manter uma dinâmica associativa forte na área da música, que se espelha numa diversidade de grupos e bandas filarmónicas com presença significativa de jovens”. 

 

Brasil 

Brasília, Paraty e João Pessoa vieram juntar-se a outras cinco cidades brasileiras na rede de Cidades Criativas. A capital brasileira recebeu o título pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido na área do design. “Brasília é fruto da criatividade e da genialidade e da capacidade de liderança de Juscelino Kubitschek, que soube reunir o que havia de melhor no talento brasileiro, no urbanismo, na arquitectura e nas artes”, disse o governador Rodrigo Rollemberg numa mensagem de vídeo. 

Já Paraty foi reconhecida no sector gastronómico. A Secretaria de Cultura de Paraty salientou que a designação “estimula o sector gastronómico, do produtor até a mesa, possibilitando o incremento de geração de emprego e renda”. 

No caso de João Pessoa, a escolha diz respeito à categoria Artesanato e Arte Popular, título que, segundo os responsáveis pela cidade, vai trazer mais visibilidade, credibilidade e mercado para diversas associações de artesãos locais. 

 

Cabo Verde 

A Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, foi designada Cidade Criativa na área da Música. “A música e a criatividade têm marcado a história de Cabo Verde e, em particular, da Cidade da Praia, através de diversos géneros musicais próprios, dos quais se destacam a morna, o funaná, a coladeira, o batuque e o finason”, pode ler-se num comunicado da Câmara Municipal da Praia. Com o título, Cabo Verde “pode contribuir significativamente para a promoção dos objectivos da Rede de Cidades Criativas em África e, assim, levar a que mais cidades se candidatem a ela, através das plataformas internacionais de que faz parte, nomeadamente a CPLP (Comunidade dos Países da Língua Portuguesa) e a UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa)”.