Calçada Portuguesa – Lux Platearum

Ernesto Matos
Sessenta e Nove Manuscritos, 2017


O fotógrafo Ernesto Matos apresenta duas novas obras sobre a presença da calçada portuguesa no mundo

 

 

Texto Catarina Domingues 

 

Não são apenas pedras no chão. “A calçada portuguesa é um reflexo que sai a partir das pedras e que nós, humanos, podemos interpretar através da poesia, filosofia e de uma série de correntes do ponto de vista humano”, começa por dizer o fotógrafo Ernesto Matos, que esteve em Macau, em Outubro, para a apresentação das obras Calçada Portuguesa no Mundo – Stellis Undis Contactis (2016) e Calçada Portuguesa – Lux Platearum (2017), editadas pela Sessenta e Nove Manuscritos. 

No primeiro livro, o fotógrafo faz uma viagem ao mundo da calçada portuguesa, captando imagens destes “tapetes que embelezam o chão” em paragens como Espanha, Moçambique, Qatar, Malásia, China, Estados Unidos da América, entre outros.  

Já Calçada Portuguesa – Lux Platearum, lançada um ano depois, é uma versão “intimista e mais pequena” da primeira obra e conta com a co-autoria do escritor António Correia, que ilustra a fotografia com poesia. “É uma visão poética de dois autores”, sublinha Ernesto Matos. 

Nesta nova epopeia – em 2009, o autor já tinha lançado Calçada Portuguesa pelo Mundo, per Orbem Terrarum et Marem – Matos destaca a interculturalidade dos trabalhos e dá como exemplo obras de “cariz chinês” que se podem encontrar em Macau e em que, por exemplo, o “feng shui é aplicado no chão”. Já a calçada que se encontra na embaixada portuguesa de Pequim retrata um barco desenhado por João Barroso, “que tem a base de uma caravela e a vela de uma sampana”. 

 

 

Defensor da preservação deste legado português, o designer gráfico de profissão refere que foi em meados do século XX que Portugal encontrou o seu estilo próprio de revestir o piso, “a que se chamou popularmente de calçada portuguesa”. O que diferencia a técnica da calçada portuguesa do resto do mundo, continua o especialista, é o facto da pedra ser aparelhada na palma da mão. “Não acontece noutros países, onde a pedra é serrada. Na técnica portuguesa, a pedra é partida na palma da mão e é colocada”, revela Ernesto Matos, lembrando ainda que, ao contrário de outras culturas que limitavam a calçada à intimidade do lar, “os portugueses acabaram por democratizar o chão e dar à população o usufruto dos tapetes rendilhados”. 

Em entrevista à MACAU, o autor refere que “a calçada [portuguesa] está praticamente morta” e lamenta o reduzido número de calceteiros a trabalhar com exigência e rigor. “O desenho laborioso é muito difícil de fazer, é realmente muito demorado e, infelizmente, nos tempos que vivemos, não há tempo para fazermos coisas com qualidade”.  

No século passado, recorda ainda o fotógrafo, os fiscais que monitorizavam a actividade dos calceteiros mandavam levantar a calçada caso o trabalho não estivesse bem executado. “Os calceteiros diziam uns aos outros: Entre cada pedra que eu parto não cabe uma mortalha de tabaco”.  

 

 

Calçada Portuguesa no Mundo – Stellis Undis Contactis (2016)  

Ernesto Matos 

Sessenta e Nove Manuscritos 

 

 

Calçada Portuguesa – Lux Platearum (2017) 

Ernesto Matos e António Correia 

Sessenta e Nove Manuscritos