…o sol, logo em nascendo, vê primeiro

Carlos André
Livros do Oriente, 2018


O fotógrafo A obra poética …o sol, logo em nascendo, vê primeiro encerra a estadia de cinco anos de Carlos André em Macau, onde foi coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico

Texto Catarina Domingues

Shiheze. O longe é um abraço a arder de sede / em Shihezi onde a sede era o deserto. Carlos André escreve estas linhas desde a Região Autónoma Uigur de Xinjiang, no Noroeste da China. O deserto é Gobi e este é o lugar “mais estranho” por onde passou ao serviço da língua portuguesa.

Antigo director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Carlos André chegou à RAEM há cerca de cinco anos para assumir o cargo de coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau. …o sol, logo em nascendo, vê primeiro, obra poética que lançou no final de Janeiro, encerra aquela que considera ser uma “das mais enriquecedoras experiências” de vida.

Editado pela Livros do Oriente, esta é a terceira obra de poesia do autor, cujo título foi inspirado na oitava estrofe do canto primeiro d’Os Lusíadas. Carlos André olha a China, enquanto procura compreendê-la. “É um olhar de poeta ou de alguém que pretendeu ser poeta quando olhou e quando escreveu. Acho que é um olhar de encanto, de fascínio e também de algum estranhamento, porque a verdade é que a todos os sítios onde eu fui, era um estranho. Também é um olhar de descoberta”, revela o autor à MACAU.

Xi’an. A planície, passo a passo, ali ao lado/ um vigia em sobressalto na muralha, / como a sombra de uma adaga que não falha / e assim fende o futuro e o passado. O poeta tinha chegado há cerca de um mês a Macau, quando visitou a antiga capital do império, acompanhado por Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau, e James Li, professor no mesmo estabelecimento de ensino. “Foi o primeiro poema que nasceu deste meu vaguear”, referiu durante o lançamento do livro.

“Devo dizer que o que me surpreendeu foi quando, regressando dos guerreiros de Terracota, e antes de dar um passeio pelo lusco fusco na muralha, o professor James Li me levou a ver as termas da concubina e foi exactamente aquele olhar com que ele me contou e depois o passeio da muralha que me levou à noite a escrever um poema, que deu origem a esta ideia de escrever um livro de poemas sobre a China”, revelou na ocasião.

E foi assim que, à semelhança de outras viagens, “foram nascendo versos à medida que iam acontecendo cidades”, sintetiza Carlos André. Aconteceu ainda Shijiazhuang, cidade sem verdura; Dalian, onde o norte se despenha; o Buda Gigante de Leshan, sentado ante os três rios. E aconteceu também Macau, a origem de sete poemas.

Carlos André não se limitou, porém, à China. A passagem por outras geografias, como o Líbano, Japão, Vietname ou Camboja ficou também registada neste volume, que reúne 41 poemas e 51 fotografias do autor.

Ainda durante o lançamento em Macau, Vera Borges, professora na Universidade de São José, referiu que este mais recente trabalho poético de Carlos André coloca o leitor “ante alguns dos princípios fundamentais que presidem à poesia maior de todos os tempos”: “É um livro que nos convida a meditar sobre o que há de intemporal na oficina da poesia. Sobre o valor axial, por um lado, da aventura das descobertas no imaginário de alguma poesia que em português se escreve, por outro, sobre o valor fundador do testemunho poético que de uma peregrinação exemplar nos deixou Camões”.

…o sol, logo em nascendo, vê primeiro

Carlos André

Livros do Oriente, 2018