Macau quer ser ponte financeira China-Países de Língua Portuguesa

Pelo menos 280 empresários e representantes de instituições financeiras e governamentais da China participaram no 13.º Encontro de Empresários em Lisboa. Por outro lado, uma delegação da RAEM, liderada pelo secretário para a Economia e Finanças, reuniu-se com representantes do sector financeiro de Portugal para discutir estratégias para melhor implementar uma ponte que sirva as relações entre a China e os países lusófonos.

 

Texto Irene Leong | Fotos GCS

 

Uma delegação de alto nível organizada pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM) e pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), e incluindo representantes do Interior do País e de Macau, deslocou-se no mês de Junho a Portugal, com o objectivo de impulsionar a construção de uma ponte de cooperação financeira entre a China e os países de língua portuguesa, estimulando o papel de Macau como plataforma de prestação de serviços financeiros.

O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong Vai Tac, liderou a comitiva integrada ainda pelo presidente do Conselho de Administração da AMCM, Benjamin Chan Sau San, e que se juntou em Portugal ao vice-presidente do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Edmund Ho Hau Wah, que se encontrava de visita ao país. Juntos, efectuaram visitas ao Banco de Portugal e à Euronext – o primeiro mercado bolsista pan-atlântico, que inclui um grupo de bolsas de valores da Europa e dos Estados Unidos, com representações na Bélgica, França, Holanda, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos – e realizaram dois colóquios com representantes do sector financeiro de Portugal.

Grandes oportunidades de desenvolvimento, tanto para Macau como para os países de língua oficial portuguesa é o que Lionel Leong espera ver surgir da articulação com as iniciativas da política “Uma Faixa, Uma Rota” e da plataforma da prestação de serviços no âmbito da cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa. E o mesmo poderá dizer-se do Programa para o Desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, que será lançado em breve, assinalou o representante do Governo da RAEM durante o colóquio com o Banco de Portugal. Nesse mesmo colóquio, o secretário do Governo da RAEM não deixou de assinalar que Macau é uma região com potencialidades de desenvolvimento económico, na medida em que adoptou o regime de comércio livre, sem restrições cambiais e políticas de baixa tributação, e de recordar a actuação de um banco português na área da tesouraria do Governo da RAEM e inclusive na emissão de moeda.

Já no colóquio com a Euronext, o mesmo responsável propôs uma cooperação mais forte no que respeita às aplicações no mercado de capitais para promover o comércio entre a China e os países lusófonos. Defendeu ainda o aprofundamento da cooperação com a entidade financeira, nomeadamente no que respeita às aplicações no mercado de capitais para promover o comércio sino-lusófono. Foi inclusivamente abordada a possibilidade de permitir às empresas dos países de língua portuguesa e da China o acesso a financiamento através da plataforma criada pela Euronext, bem como o desenvolvimento do mecanismo de cooperação com a RAEM.

O “Sistema de liquidação imediata em tempo real em Renminbi (RMB RTGS) de Macau” irá contribuir para facilitar a regularização das transacções comerciais transfronteiriças entre os países de língua oficial portuguesa e a China, previu, por sua vez, o presidente do Conselho de Administração da AMCM. Através desse mecanismo, reforçou Chan Sau San, Macau poderá desempenhar melhor o papel de ligação com os países de língua oficial portuguesa para que, desse modo, possam entrar mais facilmente no mercado da China.

 

Cooperação sino-lusófona soma mais 20 acordos

Entretanto cerca de 280 empresários e representantes de instituições financeiras e governamentais da China e de Macau estiveram reunidos em Lisboa no 13.º Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. No total, foram assinados mais de 20 acordos entre a China e os países lusófonos representados no evento, como sublinhou a secretária-geral adjunta do Fórum Macau, Glória Batalha Ung, que também referiu a participação de cerca de 90 empresários portugueses.

Além da presença de empresários chineses o encontro, sob o mote “China e Países de Língua Portuguesa – Uma nova abordagem pragmática”, contou com a participação e as intervenções do secretário para a Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, líder da comitiva da RAEM que rumou em seguida para o Brasil (ver: “Lionel Leong no Brasil a promover negócios com a China”), da vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, e do secretário de Estado para a Internacionalização de Portugal, Eurico Brilhante Dias.

Tratou-se nada menos do que do “maior encontro” com a presença de empresários de vários ramos de actividade e de diferentes zonas da China e de países de língua portuguesa, além de responsáveis de organismos oficiais e de bancos e instituições financeiras.

 

O papel do Fórum na globalização chinesa

Os números não enganam: as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa aumentaram 11 vezes desde a criação, em 2003, do Fórum de Macau. Na altura da criação do Fórum, eram apenas sete as áreas de cooperação sino-lusófona. Actualmente, esse número quase triplicou, atingindo as duas dezenas.

Um processo que acompanhou o desenvolvimento da economia chinesa rumo a uma maior globalização e em que o Fórum de Macau vem desempenhando “um papel muito importante”, na opinião da vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, que esteve presente no encontro de empresários em Lisboa. “A China e os países de língua portuguesa têm mantido sempre uma boa relação no âmbito económico e comercial e estamos no bom caminho para continuar este caminho de cooperação”, adiantou a governante chinesa.

Já para Luís Castro Henriques, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), a relação triangular entre Macau, a China e os países de língua portuguesa, que soma já vários anos, tem sido “positiva e virtuosa” para as nações envolvidas, contribuindo para aumentar exportações e atrair investimento.

Entre os 20 protocolos assinados em Lisboa, contou-se um, justamente com a AICEP, com vista a “promover e estreitar relações com instituições chinesas para […] ter um canal expedito para trabalhar em conjunto neste âmbito”.