“Queremos abrir portas para artistas lusófonos na China”

A Associação de Artistas da China, Macau e dos Países de Língua Portuguesa foi lançada este Verão com o objectivo de promover o intercâmbio artístico sino-lusófono

Texto José Carlos Matias | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

Ieong Tai Meng, nome artístico de Ieong Weng Kuong, é um dos nomes maiores da pintura chinesa de Macau. Nasceu há 69 anos em Sanshui, na província de Guangdong, mas tem ligações ancestrais a Macau, onde viveram antepassados seus na primeira metade do século XX.

Entrou no mundo da pintura, começando por frequentar um curso de porcelana antes de aprender com mestres famosos de Lingnan a pintar paisagens, pássaros e flores. Uma flor em especial, a lótus, tem sido para Ieong uma fonte inesgotável de inspiração. Teve também um mestre calígrafo de renome: Qin Esheng.

Ao longo das últimas três décadas notabilizou-se também fora de portas através de exposições na Ásia, América e Europa, tendo o seu talento sido reconhecido em certames internacionais de topo. Em França a sua arte tem sido alvo de grande atenção ao ponto de em 2014 ter ganho o Prémio de Ouro da Exposição Internacional de Arte de Paris. Ieong é, ele próprio, um mestre para os milhares de estudantes que o tiveram como professor em Xi’an, Zhuhai, Shenzhen, Xangai ou em Macau onde é coordenador do programa de doutoramento em
Belas Artes da Universidade de Ciência e Tecnologia.

Agora, Ieong – um dos fundadores da Associação de Artistas da China, Macau e dos Países da Língua Portuguesa – fala de planos para levar artistas lusófonos ao mercado e aos apreciadores de arte da China começando pela Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

“O principal objectivo [da Associação] passa pelo intercâmbio cultural e artístico entre a China, Macau e os países de língua portuguesa. Há imenso potencial aqui para que os chineses conheçam a cultura dos países africanos, Brasil e Portugal. Este é o espírito de intercâmbio cultural”, explica o artista.

Ieong Weng Kuong defende que os recursos financeiros que Macau detém podem ser “uma ajuda para os artistas lusófonos com menos posses, sobretudo africanos, a chegarem ao mercado da China”, uma vez que esta ao longo dos últimos anos formou centenas de milhares de artistas. “Há muitos apreciadores de arte na China que poderão ter a oportunidade de conhecer a arte africana”, acrescenta.

Ao mesmo tempo o artista quer dar mais palco a talentos locais para que estes possam brilhar no exterior e aprender com o contacto com artistas em certames internacionais.

“Para o desenvolvimento dos talentos locais, precisamos de promover a presença desses talentos locais no plano internacional.

Muitos artistas afamados chineses fizeram a sua formação também através de exposições na França, Holanda. É por isso muito importante dar oportunidade a artistas para conseguirem participar nestes eventos”, explica.

O também docente na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau considera que há “uma elevação do talento artístico local”. “Em Macau espaço não falta para exposições, o que é preciso é encorajar os jovens a esforçarem-se para ganhar prémios e serem reconhecidos. É necessário que haja mais esforço nesse sentido. Arte e cultura são muito importantes”, acrescenta.

Ieong deixa uma sugestão ao governo: criar prémios anuais para distinguir artistas locais que se destaquem em áreas como a arte e a música no plano internacional, à semelhança do que acontece no desporto.

Na mais recente edição do Salão de Outono, em Paris, Macau está representado por três artistas locais entre os quais Ieong Weng Kuong com uma pintura alusiva à flor de lótus “como forma de promoção de cultura de Macau, sendo também símbolo de boa sorte, prosperidade, acabando também por promover o turismo de Macau e, por outro lado tem a ver também com a confluência de culturas em Macau.”

“O facto de terem sido selecionados três trabalhos de três artistas de Macau para o evento de renome internacional diz bem do talento que existe aqui”, conclui o artista.