Mais força financeira

Macau mostrou mais uma vez que quer ter um papel relevante na facilitação das relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. Espera-se que a RAEM reforce o seu papel de plataforma comercial com o novo acordo entre os bancos locais e os bancos de língua portuguesa

Texto Paulo Barbosa

Foi firmado um acordo para reforçar a cooperação entre os bancos locais e os bancos de língua portuguesa. Subscrito pela Associação de Bancos de Macau e pelas entidades congéneres de Portugal, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, o acordo visa prestar apoio a empresas ou investidores que revelem interesse na exploração de negócios no mercado do Interior do País, usando Macau como base financeira. Empresas de Macau e do País também poderão beneficiar na expansão das suas actividades nos mercados dos países de língua portuguesa.

Denominado “Iniciativa do Avanço da Cooperação entre Bancos Comerciais dos Países de Língua Portuguesa e de Macau”, o acordo foi assinado durante um encontro que reuniu mais de 100 profissionais das áreas económica e financeira da China e dos países de língua portuguesa. O encontro foi uma das iniciativas integradas no 10.º Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas (IIICF), que decorreu em Macau no fim de Maio.

O secretário para a Economia e Finanças da RAEM, Lionel Leong, discursou no evento onde foi assinado o acordo, sublinhando que Macau foi mandatado por Pequim para desenvolver um papel de “Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

Leong afirmou que tem tido encontros com investidores lusófonos interessados em envolver-se no desenvolvimento do Interior do País através da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e também em participar no projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Nesse sentido, o governante local disse que é essencial estabelecer “formas de cooperação entre os bancos comerciais de Macau e os seus congéneres dos países de língua portuguesa”.

Li Guang, presidente da Associação de Bancos de Macau, disse no seu discurso que “através da assinatura da referida iniciativa, se pretende utilizar ao máximo os recursos de todas as partes, em informação, talentos, produtos, canais e capitais”. O objectivo é estabelecer “um mecanismo de cooperação multifacetada e multilateral” e serão promovidas “cooperações mais íntimas entre os bancos comerciais de Macau e dos países de língua portuguesa,” sublinhou Li Guang.

Wang Xiquan, presidente do Conselho de Supervisão do Banco da China, afirmou que “esta proposta de cooperação consiste em fortalecer a força financeira e promover a construção da plataforma China-países de língua portuguesa”. Wang Xiquan disse também que o Banco da China assinou um acordo de cooperação com o Governo de Macau para a integração na Grande Baía.

Recordando que a cooperação sino-portuguesa é uma realidade com centenas de anos, Norberto Costa, da Associação Portuguesa de Bancos, disse que tem havido um aprofundamento das relações bilaterais. A comprovar o bom momento das relações diplomáticas, Portugal foi o primeiro país da zona euro a emitir obrigações em moeda chinesa, que também são conhecidas por “Panda Bonds”.

Já António Araújo Monteiro, da Associação de Bancos da Guiné-Bissau, afirmou que a iniciativa é o “estímulo necessário” para que sejam exploradas “oportunidades em conjunto”.

“O acordo vai contribuir para um maior dinamismo comercial e financeiro, visando a satisfação das necessidades dos clientes, melhorando a facilidade de acesso a serviços bancários e promovendo fluxos de investimento e comércio privado, assim como a partilha de informação entre as partes envolvidas”, frisou, por outro lado, João Cunha Martins, da Associação Moçambicana de Bancos.

Na opinião de Dalton Costa Gonçalves, o representante de São Tomé e Príncipe presente na assinatura do acordo, esta é uma “oportunidade única” no quadro da estratégia da banca do pequeno país africano, ao permitir nomeadamente “uma maior absorção de fluxos financeiros que São Tomé bem precisa”. 

Infra-estruturas de excelência

No decorrer do IIICF, o vice-presidente e CEO do New Development Bank, Zhu Xian, disse que o próximo desafio que o sector da construção enfrenta é como definir “infra-estruturas de excelência” e implementar os projectos com alta eficiência. Para que seja garantida a qualidade das infra-estruturas, as empresas e países envolvidos devem “chegar a um consenso” no estabelecimento de normas comuns. Lawrence J. Lau, por sua vez, considerou que o investimento de qualidade em infra-estruturas é um dos princípios em que a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” se baseia. O professor de Economia da Universidade Chinesa de Hong Kong sugeriu que a supervisão da qualidade dos projectos seja efectuada por uma terceira parte. A vistoria deve ser realizada por “especialistas com reputação internacional”, advogou Lau.