Exposição com 50 obras inéditas do coletivo YiiMa viaja pela memória esquecida de Macau

Uma exposição com meia centena de obras inéditas do coletivo de artistas YiiMa faz uma viagem por sinais esquecidos ou desaparecidos da história e cultura de Macau, a partir de 06 de novembro no Museu Berardo, em Lisboa.

Intitulada “(Des)Construção da Memória”, dos artistas macaenses Ung Vai Meng e Chan Hin Io – agora agrupados no coletivo YiiMa – a exposição reúne fotografias, vídeos, instalação e performances, precisou fonte do museu contactada pela agência Lusa.

As obras, de grande formato, e nunca antes reveladas, são o resultado de uma viagem dos artistas através da memória de Macau, dando-lhe um novo significado, com o objetivo de recuperar a identidade de um território “que vai deixando de existir”, segundo a curadoria.

A exposição é organizada por ocasião dos 20 anos de transferência de soberania de Macau para a República Popular da China, e dos 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e aquele país.

De acordo com um texto do curador João Miguel Barros, esta mostra “não regista a memória de um tempo linear e cronológico, e não é, tão-pouco, o desfilar de uma memória construída a partir de factos sistematizados, que permita revisitar a história de modo estruturado ou científico. É, antes, uma forma de os artistas olharem livremente o passado, confortavelmente instalados no presente”.

Esta exposição “é uma descoberta de sinais que foram sendo deixados, algumas vezes esquecidos, e que só uma viagem retrospetiva permite que sejam lembrados e reinterpretados”, acrescenta o curador.

No seu trabalho, assinala, os artistas Ung Vai Meng e Chan Hin Io assumiram como missão resgatar do esquecimento a memória daquele território, “afastando a poeira que o tempo inexoravelmente vai depositando nos marcos do passado”.

Na sua ação artística multidisciplinar e apoiada na pesquisa da história e da cultura oriental e ocidental, procuram mostrar a identidade de Macau através da riqueza da sua multiculturalidade.

A exposição “(Des)Construção da Memória” está estruturada em cinco partes: “Memória”, “Ritualismo”, “Leveza”, “Cerimónia” e “Paraíso”, que embora tenham alguma autonomia, foram criadas como sendo cinco pequenas narrativas inter-relacionadas.

A primeira sala, “Memória”, é composta por uma série de imagens de temáticas “historicamente mais sensíveis”, com cenas da realidade social e de reconstrução de acontecimentos passados de Macau.

“Ritualismo” é o título da segunda sala, um espaço de memória constituído por fotografias de grande escala que têm como denominador comum estruturas de bambu, e ainda uma grande escultura de bambu que representa a síntese entre o túmulo octogonal existente no Mosteiro da Batalha, em Portugal, e o estilo típico do pavilhão chinês.

“A cúpula foi meticulosamente construída durante dez dias por dois mestres de bambu. De algum modo, esta instalação, que retrata simbolicamente o lugar de realização dos sacrifícios, é um símbolo da importância espiritual que o povo dedica aos rituais e, ao mesmo tempo, mostra a estreita relação entre o bambu, a cultura tradicional e a vida quotidiana de Macau”, segundo um texto do catálogo da exposição.

Na sala central, intitulada “Leveza”, é apresentado um vídeo realizado numa sala secreta da cidade antiga de Macau, ao som das canções de ´a capella´, interpretadas pelo Water Singers, um grupo vocal de Macau.

A quarta parte da exposição centra-se na ideia da “Cerimónia”, e é constituída por imagens registadas num espaço anteriormente utilizado pela indústria e pelo comércio marítimo, que agora se encontra esquecido e abandonado.

O visitante encontra na sala alguns trabalhos tridimensionais – numa escala superior à da dimensão humana – que usaram a poesia como ponto de partida para sua criação, mas “é a imagem corporal dos artistas que se apresenta como meio de ampliar o envolvimento humano e o sentimento cénico a exprimir”.

“Paraíso”, a última sala, inclui obras que retratam o mundo original de pessoas comuns e foram pensadas com um propósito especial: o interior de cada um dos espaços selecionados está repleto de símbolos e objetos existentes no concreto tempo em que a ação foi registada, muitos deles banais, utilizados para satisfação das necessidades quotidianas, segundo a descrição do catálogo.

No final da sala de exposições, os artistas mostram um gigantesco trabalho realizado no antigo Tribunal Judicial de Macau, para que os visitantes possam pensar e debater questões como “pátria espiritual”, “libertação” e “vazio”.

“(Des)Construção da Memória” é inaugurada a 06 de novembro, às 19:00, no Museu Coleção Berardo, em Lisboa, onde ficará patente até 09 de fevereiro de 2020.