Intitulada “(Des)Construção da Memória”, dos artistas macaenses Ung Vai Meng e Chan Hin Io – agora agrupados no coletivo YiiMa – a exposição reúne fotografias, vídeos, instalação e performances, precisou fonte do museu contactada pela agência Lusa.
As obras, de grande formato, e nunca antes reveladas, são o resultado de uma viagem dos artistas através da memória de Macau, dando-lhe um novo significado, com o objetivo de recuperar a identidade de um território “que vai deixando de existir”, segundo a curadoria.
A exposição é organizada por ocasião dos 20 anos de transferência de soberania de Macau para a República Popular da China, e dos 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e aquele país.
De acordo com um texto do curador João Miguel Barros, esta mostra “não regista a memória de um tempo linear e cronológico, e não é, tão-pouco, o desfilar de uma memória construída a partir de factos sistematizados, que permita revisitar a história de modo estruturado ou científico. É, antes, uma forma de os artistas olharem livremente o passado, confortavelmente instalados no presente”.
Esta exposição “é uma descoberta de sinais que foram sendo deixados, algumas vezes esquecidos, e que só uma viagem retrospetiva permite que sejam lembrados e reinterpretados”, acrescenta o curador.
No seu trabalho, assinala, os artistas Ung Vai Meng e Chan Hin Io assumiram como missão resgatar do esquecimento a memória daquele território, “afastando a poeira que o tempo inexoravelmente vai depositando nos marcos do passado”.
Na sua ação artística multidisciplinar e apoiada na pesquisa da história e da cultura oriental e ocidental, procuram mostrar a identidade de Macau através da riqueza da sua multiculturalidade.
A exposição “(Des)Construção da Memória” está estruturada em cinco partes: “Memória”, “Ritualismo”, “Leveza”, “Cerimónia” e “Paraíso”, que embora tenham alguma autonomia, foram criadas como sendo cinco pequenas narrativas inter-relacionadas.
A primeira sala, “Memória”, é composta por uma série de imagens de temáticas “historicamente mais sensíveis”, com cenas da realidade social e de reconstrução de acontecimentos passados de Macau.
“Ritualismo” é o título da segunda sala, um espaço de memória constituído por fotografias de grande escala que têm como denominador comum estruturas de bambu, e ainda uma grande escultura de bambu que representa a síntese entre o túmulo octogonal existente no Mosteiro da Batalha, em Portugal, e o estilo típico do pavilhão chinês.
“A cúpula foi meticulosamente construída durante dez dias por dois mestres de bambu. De algum modo, esta instalação, que retrata simbolicamente o lugar de realização dos sacrifícios, é um símbolo da importância espiritual que o povo dedica aos rituais e, ao mesmo tempo, mostra a estreita relação entre o bambu, a cultura tradicional e a vida quotidiana de Macau”, segundo um texto do catálogo da exposição.
Na sala central, intitulada “Leveza”, é apresentado um vídeo realizado numa sala secreta da cidade antiga de Macau, ao som das canções de ´a capella´, interpretadas pelo Water Singers, um grupo vocal de Macau.
A quarta parte da exposição centra-se na ideia da “Cerimónia”, e é constituída por imagens registadas num espaço anteriormente utilizado pela indústria e pelo comércio marítimo, que agora se encontra esquecido e abandonado.
O visitante encontra na sala alguns trabalhos tridimensionais – numa escala superior à da dimensão humana – que usaram a poesia como ponto de partida para sua criação, mas “é a imagem corporal dos artistas que se apresenta como meio de ampliar o envolvimento humano e o sentimento cénico a exprimir”.
“Paraíso”, a última sala, inclui obras que retratam o mundo original de pessoas comuns e foram pensadas com um propósito especial: o interior de cada um dos espaços selecionados está repleto de símbolos e objetos existentes no concreto tempo em que a ação foi registada, muitos deles banais, utilizados para satisfação das necessidades quotidianas, segundo a descrição do catálogo.
No final da sala de exposições, os artistas mostram um gigantesco trabalho realizado no antigo Tribunal Judicial de Macau, para que os visitantes possam pensar e debater questões como “pátria espiritual”, “libertação” e “vazio”.
“(Des)Construção da Memória” é inaugurada a 06 de novembro, às 19:00, no Museu Coleção Berardo, em Lisboa, onde ficará patente até 09 de fevereiro de 2020.