Livros que saem das estantes para ganhar novos leitores

Com o objectivo de transformar os locais mais improváveis numa biblioteca, o conceito de BookCrossing tem milhões de adeptos e está também em Macau desde o ano passado 

Texto Paulo Barbosa 

Calcula-se que milhões de livros um pouco por todo o mundo já tenham sido trocados desde que o conceito de BookCrossing começou a tomar forma no início do século. A prática consiste em deixar um livro num local público para que outros o encontrem e leiam, sendo esperado que os recipientes se tornem, por sua vez, doadores de livros. O conceito ganhou força online através do site bookcrossing.com, que tem cerca de dois milhões de membros registados.  

Em Macau, o Instituto Cultural (IC) tem vindo a introduzir pontos de troca de livros em cerca de dez bibliotecas públicas geridas pelo instituto ou pela Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), incluindo as de maior dimensão, como as bibliotecas Central, Sir Robert Ho Tung, Patane, Ilha Verde e da Taipa.  

A actividade foi lançada pelo IC no dia 23 de Abril de 2019. Em resposta à MACAU, o instituto referiu que o seu objectivo é “promover a leitura e a partilha de livros”. Quem quiser levar um livro para casa pode participar da maneira mais simples. Basta passar pelas estações de troca e levar um livro que tenha o autocolante com a inscrição “Read Me” (“Leia-me”).  

Os doadores devem levar os livros a uma das bibliotecas aderentes. Se esses livros forem considerados apropriados para a actividade (têm que obedecer a vários critérios, como não estarem desactualizados devido ao seu conteúdo técnico, ou não serem proselitistas ou obscenos), são colocados nas estações de troca, onde podem ser levados para casa por qualquer pessoa.  

Os dados fornecidos pelo IC indicam que até Dezembro do ano passado, cerca de dez mil livros foram doados e aproximadamente a mesma quantidade de livros foi levantada por participantes.  

Semana da Biblioteca 

Também com o objectivo de promover uma cultura de leitura, todos os anos o IC, a DSEJ, a Biblioteca da Universidade de Macau e a Associação de Bibliotecários e Gestores de Informação de Macau co-organizam a “Semana da Biblioteca de Macau”, que geralmente decorre entre Abril e Maio. 

Esta iniciativa inclui um evento de troca de livros, que tem decorrido ao longo de vários dias nas instalações no Antigo Tribunal, onde será construída a futura Biblioteca Central desenhada pelo arquitecto Carlos Marreiros.  

De acordo com Lo Chi Keong, chefe da Divisão de Prestação e Promoção de Serviços aos Leitores do Departamento de Gestão de Bibliotecas Públicas, a troca de livros “foi recebida com entusiasmo pelos leitores”. 

Este sistema de troca funciona de forma diferente do BookCrossing. Os leitores recebem pontos por cada obra dada, que é avaliada tendo em conta uma estimativa do seu preço comercial e o estado de conservação. Esses pontos podem depois ser usados para trocar por livros previamente oferecidos por outros leitores. 

O IC disse à MACAU que na Semana de Biblioteca de 2018 foram trocados 9300 livros. No ano passado esse número decresceu para 7800 volumes. As obras que trocam de mãos abrangem muitos géneros literários, entre os quais o ensaio, o romance e a literatura infantil.  

A maioria dos livros disponíveis está escrita em chinês, mas há também uma ampla oferta de obras em inglês e ocasionalmente surgem títulos em língua portuguesa e noutros idiomas.  

Paralelamente à actividade de troca de livros, decorre também a de venda de publicações periódicas que o IC compra e inicialmente disponibiliza na rede de bibliotecas. Todos os anos, o IC revende a preços módicos revistas de todos os géneros e para todos os gostos. Mais uma vez, o objectivo enunciado pelos responsáveis do instituto para justificar esta actividade é a “boa utilização dos recursos e a promoção da leitura”.  

Por preços que podem ser tão baixos como cinco patacas por exemplar, o leitor pode levar para casa números de revistas como a Monocle, a Time e a Economist, ou as versões inglesa e chinesa de grandes títulos internacionais, como a Vogue China ou a Esquire.  

Na Semana da Biblioteca de 2018, foram vendidos 6600 periódicos, mais 2000 do que no ano transacto.  

Falta já pouco tempo para a Semana de Biblioteca de 2020: pode começar a preparar os livros que quer dar, ou a arranjar espaço na estante para os livros e revistas que vai levar para casa. Boas leituras.  

  Semana da Biblioteca Venda de revistas e periódicos 
2018  + de 6600 
2019 + de 4600 
  Semana da Biblioteca Troca de Livros 
2018  + de 9300 
2019 + de 7800