As palavras foram do Chefe do Executivo que elogiou “os resultados eficazes nas diferentes fases de combate à epidemia e afirmou que a “a situação epidémica está basicamente controlada” em Macau
Texto Catarina Brites Soares | Fotos GCS
Na apresentação das Linhas de Acção Governativa para 2020, anunciadas na Assembleia Legislativa, o líder do Governo disse que “as acções de combate à epidemia entraram na fase de prevenir os casos importados e evitar o ressurgimento interno”. Ho Iat Seng prometeu que o Governo vai “continuar a acompanhar permanentemente o desenvolvimento da epidemia e a empenhar o maior esforço nos trabalhos de prevenção e controlo”.
A epidemia provocada pelo novo coronavírus Sars-CoV-2 foi considerada pelo líder do Governo “a mais grave crise de saúde pública vivida por Macau desde o retorno à pátria”. “Um severo teste e um enorme desafio” para o Governo e para a sociedade, considerou Ho Iat Seng. “A protecção da vida, da segurança e da saúde dos residentes é a nossa constante prioridade”, fez questão de sublinhar o líder do Governo na presença dos deputados.
No mesmo discurso, o Chefe do Executivo quis deixar “uma saudação muito especial a todos os que lutam na linha-da-frente contra a epidemia”, como profissionais de saúde, bombeiros, agentes da polícia e trabalhadores da Administração Pública, e um agradecimento à população de Macau por ter colaborado desde o início.
Macau teve 45 casos. Dez numa primeira fase, todos resolvidos até Fevereiro. Em meados de Março, e após 40 dias sem novas infecções, a epidemia voltou a fazer eco. Na segunda fase, foram confirmados mais 35 doentes com a Covid-19, sendo todos casos importados. A 19 de Maio, o último doente recebeu alta hospitalar.
Segundo os números dos Serviços de Saúde, dos 45 casos, 43 foram importados e dois tinham relação com os referidos pacientes. O organismo sublinhou, por outro lado, que, até ao momento, não tinha havido registo de transmissão comunitária na cidade.
Desde o dia 4 de Abril sem novos casos, a cidade retomou a normalidade com as restrições a serem suspensas ou reformuladas lentamente. Ainda assim os Serviços de Saúde garantiram estar preparados para “o pior que possa vir a acontecer”. “Temos reagentes suficientes para 50 mil a 60 mil amostras”, afirmou o médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário. “Posso dizer que a nossa capacidade está a evoluir cada vez mais para preparar o pior que possa vir a acontecer”, garantiu Alvis Lo Iek Long.
Neste momento, Macau tem capacidade para efectuar, diariamente, 6000 testes de ácido nucleico, o que corresponde a aproximadamente um por cento da população, considerado pelo médico “uma proporção relativamente alta”.
Alvis Lo Iek Long explicou com o tempo será melhorada a capacidade de realização de testes de ácido nucleico. Por agora há três destinatários alvo: o primeiro grupo das “pessoas-chave”, ou seja, professores e funcionários nos ensinos primário e secundário, funcionários nas instalações sociais e pescadores, cujos trabalhos de despistagem já foram concluídos; o segundo grupo, que abrange pessoas que estão em estabelecimentos fechados ou concentrados, como hospitais, lares de idosos e prisões, medida que visa proteger os espaços de alto risco; e o terceiro grupo, que integra quem tenha de atravessar as fronteiras.
Progressivamente, o Governo tem levado a cabo uma série de medidas nas diversas áreas para que o território retome a normalidade sem riscos de ressurgimento do vírus e de contágio na comunidade.
Educação
– A 11 de Maio, entraram em vigor as designadas “medidas cordiais” da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), que permitiram às escolas do ensino infantil, especial e dos três primeiros anos do ensino primário receberem crianças que não tenham quem fique com elas em casa. Wong Ka Ki, chefe de Departamento de Ensino da DSEJ, referiu que a maioria das escolas – 60 – aderiu, garantindo 2800 vagas.
– O ensino primário foi retomado por fases a partir de finais de Maio. Os alunos do 4.º ao 6.º anos regressaram às aulas presenciais no dia 25 de Maio. Já os estudantes da primeira à terceira classes regressaram a 1 de Junho. “As medidas de prevenção e de combate à epidemia foram rigorosamente implementadas e os alunos e docentes já retomaram a vida normal”, explicou Wong Ka Ki.
– Para reabrir as escolas, a DSEJ obrigou ao cumprimento de várias regras nos ensinos primário e secundário, tais como o uso obrigatório de máscara, o controlo de temperatura corporal, medidas de distanciamento social e testes de ácido nucleico aos alunos e pessoal que atravessam as fronteiras.
– Aos centros de explicação privados e de educação contínua foi permitido reabrir em pleno a 25 de Maio. Em relação ao ensino infantil e especial, a DSEJ mantém que é possível que as aulas não recomecem este ano lectivo.
Fronteiras
– A 3 de Maio, e “tendo em conta a atenuação da situação epidémica, e depois de várias negociações com Zhuhai”, o posto fronteiriço das Portas do Cerco voltou a funcionar das 6h00 até à 1h00 e o posto fronteiriço da ponte entre Macau e Zhuhai entre as 8h00 e as 22h00. Já o corredor para os veículos na ponte do Delta vai voltar a funcionar 24 horas por dia. Os Serviços de Alfândega
explicaram, no entanto, que os horários normais vão ser retomados só para as fronteiras com Zhuhai e não com Hong Kong;
– Os Governos de Macau e de Hong Kong estavam em negociações sobre a suspensão de parte das restrições de viagens entre as regiões e o Interior do País, nomeadamente a província de Guangdong, de modo a que quem viaja frequentemente entre as três regiões possa movimentar-se sem ter de fazer quarentena .
– A 8 de Maio foi retomado o serviço de autocarros na Ponte do Delta, depois de um mês de interrupção. A empresa HZM Bus referiu que o serviço vai ser prestado de forma limitada, com apenas seis carreiras em ambos os sentidos, entre as 10h30 e as 20h10. Ainda assim, mantiveram-se as restrições nas fronteiras entre Macau e Hong Kong, obrigando quarentena de 14 dias à generalidade dos visitantes.
– A partir de 11 de Maio, os trabalhadores não residentes chineses com título de residência em Zhuhai deixaram de estar obrigados a fazer quarentena à entrada em Macau. Têm, no entanto, de ter domicílio ou ser titular de cartão de residência em Zhuhai, ser portador de certificado de resultado negativo do teste de ácido nucleico referente aos sete dias precedentes, e ter o código de saúde de Macau verde [ver caixa].
– A obrigação de quarentena e rastreios clínicos foram também suspensos a turistas vindos de zonas consideradas de alta incidência epidémica da China. Em lugar do exame médico, que pode demorar até oito horas, em vigor desde 20 de Fevereiro, as autoridades passaram a exigir o novo código de saúde. “Apresentar o código verde é mais eficaz em relação à actual medida de medição da temperatura corporal ou de inspecção médica de até oito horas”, garantiu Alvis Lo Iek Long, médico da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário.
– A 7 de Maio, o teste de despistagem para o novo tipo de coronavírus, obrigatório para passagem nas fronteiras com o Interior do País, passou a ser feito em Macau em vez de Zhuhai. Os testes abrangem cerca de 15 mil residentes de Macau que cruzam a fronteira para trabalhar ou estudar. Além dos professores e alunos transfronteiriços, podem também submeter-se ao rastreio os residentes de Macau que têm salvo-conduto e autorização de residência no Interior do País. Os testes são feitos no Terminal Marítimo do Pac On, diariamente, entre as 9h00 e as 21h00, e ficam disponíveis em 24 horas. Têm validade de sete dias, sendo o primeiro gratuito. Os testes posteriores custam 180 patacas. Professores e alunos estão isentos do pagamento.
– Para os alunos transfronteiriços foi criada uma via na passagem nas Portas do Cerco para facilitar a entrada em Macau entre as 8h00 e as 18h00.
– Ainda em Abril, as autoridades de saúde obrigaram à apresentação de testes negativos para a Covid-19 a todos os passageiros de voos com destino a Macau e com partida de zonas de risco. Na altura, o número de voos a aterrar no Aeroporto Internacional de Macau já era reduzido, atendendo às restrições implementadas para evitar a disseminação do surto. Desde 25 de Março que passou a ser autorizada a entrada apenas a residentes e a cidadãos do Interior do País, Hong Kong e Taiwan que não tenham estado no estrangeiro nos 14 dias anteriores à chegada a Macau.
– Desde 14 de Maio, os indivíduos titulares de salvo-conduto duplo de Deslocação para Hong Kong e Macau com visto comercial, com visto de visita à família, com visto oficial ou passaporte do Interior do País, passaram a poder fazer uma marcação para teste de ácido nucleico através do sistema de marcação on-line do Centro de Coordenação de Contingência. O Governo alertou que, apesar da expansão dos serviços de teste de ácido nucleico de Macau, não significa que a política de isolamento de Zhuhai tenha sido alterada. As autoridades pedem que se verifique se ainda é preciso cumprir as medidas anti-epidémicas do Governo de Zhuhai e se se está isento de observação médica por 14 dias na cidade.
– A partir de 17 de Maio, e em resultado de negociações entre Macau e Zhuhai, passou a ser obrigatório, a quem atravesse a fronteira, apresentar um comprovativo em como deu negativo no teste à Covid-19 nas últimas 24 horas. Até então não havia prazo. O certificado, explicaram as autoridades, é válido por sete dias.
Saúde
– O Hospital Conde de São Januário retomou as visitas aos pacientes a 11 de Maio. Os pacientes passaram a poder receber duas pessoas de cada vez, entre as 18h00 e as 20h00. Os Serviços de Saúde apelaram a que não haja visitas de lactentes e de crianças com menos de seis anos. No hospital público mantêm-se em vigor a obrigatoriedade do uso de máscara, a medição da temperatura corporal e a apresentação do Código de Saúde.
– Centros e postos de Saúde reactivaram todos os serviços disponíveis.
– Também a 11 de Maio, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus activou o sistema de reconhecimento mútuo entre o “Código de Saúde de Macau” e “Código de Saúde da Província de Guangdong”, que implica a transferência, por criptografia, dos dados para o sistema da província vizinha, e vice-versa, antes de se atravessar a fronteira.
– O Edifício do Instituto de Enfermagem no Complexo Hospitalar das Ilhas passou a ser usado para colocar em isolamento quem está em observação médica por ter tido contacto próximo com doentes infectados com o novo tipo de coronavírus ou é considerado de risco.
– Sobre a continuidade do plano de fornecimento de máscaras, o Governo comunicou que dependerá da situação de Macau e da oferta no mercado.
Lazer
– Em Maio, deu-se início à época balnear com autorização de abertura das praias, mas não das piscinas públicas que continuam fechadas. Os Serviços de Saúde explicaram que as “as piscinas públicas, subordinadas ao Instituto do Desporto, vão ser abertas de acordo com a situação”. No caso das praias, as autoridades consideram que não “há um elevado risco de contaminação” já que não há contenção na água e que podem ser cumpridas maiores distâncias entre os banhistas.
– A 15 de Maio, o Instituto Cultural reabriu vários locais de património, espaços museológicos, bibliotecas públicas e pontos de busking, retomando o funcionamento de diversas instalações e serviços culturais, ainda que com medidas de controlo da afluência.
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Novo Código de Saúde
O novo sistema entrou em vigor em Maio e veio substituir a declaração que era exigida nas fronteiras, serviços públicos e alguns estabelecimentos privados desde Fevereiro. O sistema cruza as informações declaradas por turistas e residentes, como manifestação ou não de sintomas e deslocações ao exterior, com os dados pessoais e clínicos dos Serviços de Saúde.
Mediante os dados será atribuída uma cor: vermelho, verde ou amarelo. O vermelho significa proibição de entrada e aplica-se a casos de risco, ou seja, pessoas que tenham sido diagnosticadas com Covid-19, foram considerados casos suspeitos, tiveram contacto próximo com doentes ou estiveram em países ou regiões que exigem o cumprimento de quarentena em Macau. Quem tem código vermelho está em isolamento agora.
O amarelo aplica-se a quem declare ter febre, sintomas de tosse aguda, dores de garganta ou falta de ar, e que tenha estado no mesmo local que um paciente diagnosticado com Covid-19. Nestes casos, é aconselhado distanciamento social; Já o verde inclui quem não represente risco. Os Serviços de Saúde explicam que as cores são alteradas e actualizadas conforme o estado de saúde de cada pessoa. Por exemplo, um doente com Covid-19 que tenha já cumprido o período completo de isolamento, terá um código verde.
O organismo garantiu que as informações não são públicas e não serão partilhadas com outros serviços ou organismos. “Todos estes dados são geridos e introduzidos apenas pelos trabalhadores definidos pelos Serviços de Saúde. Ninguém pode ter acesso a essas informações. Quando um cidadão apresenta o código de saúde tem apenas [visível] o seu nome e o sexo, mas nada mais. [As restantes informações] estão no back office do nosso sistema. Não serão partilhadas, nem com outros serviços públicos”, assegurou Leong Iek Hou.
O médico explicou também que estão a ser avaliados os procedimentos de tratamento de pacientes infectados com o vírus. Actualmente, quem está infectado é sujeito a um mês de isolamento depois de receber alta. Primeiro, é obrigado a passar 14 dias em instalações dos Serviços de Saúde e depois mais 14 em casa, como medida preventiva. “Preferimos ter uma atitude mais prudente. Só assim é que conseguimos garantir a saúde dos pacientes e proteger os cidadãos na comunidade”, explicou Alvis Lo, que admite que as regras poderão mudar se houver uma próxima vaga do vírus.
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Missão médica da China em África conta com Macau
Cinco profissionais de saúde de Macau integram a equipa de emergência médica da China que partiu para a Argélia em Maio. A missão foi organizada pelo Ministério das Relações Exteriores da China e coordenada pela Comissão Nacional de Saúde. Entre os 15 especialistas, estão dois médicos, uma enfermeira, uma técnica de saúde pública e um representante dos Serviços de Saúde de Macau. “O nosso objectivo é partilhar a nossa experiência no combate à Covid-19 e fazer um intercâmbio com académicos, especialistas e médicos locais. Vamos também dar orientações para planos de prevenção e controlo, fazer investigação e estudos, e dar formação aos trabalhadores de instituições públicas locais”, explicou Mio Chi Fong, médico do Centro Hospital Conde São Januário. O especialista, que lidera o grupo de Macau, salientou que a equipa “está sob grande pressão”. Já a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, frisou que a missão “é uma oportunidade única para aumentar a capacidade prática da equipa de emergência médica de Macau” e a capacidade de resposta em contextos de epidemias. A Argélia é considerada uma zona grave de infecção da Covid-19 em África. Conta com cerca de 7000 infectados e uma taxa de mortalidade acima dos nove por cento