Governo apela à vacinação

A vacinação contra a Covid-19 em Macau arrancou em Fevereiro. Na região, estão a ser administradas para já as vacinas produzidas pela Sinopharm e BioNTech. Até ao momento do fecho da presente edição, cerca de 50 mil pessoas tinham sido vacinadas e mais de 93 mil tinham agendamento confirmado. O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, e restantes titulares dos principais cargos do Executivo quiseram dar o exemplo e foram dos primeiros. O Governo tem apelado aos residentes para que se vacinem

Texto Catarina Brites Soares | Fotos GCS e Gonçalo Lobo Pinheiro

“Proteger-se a si mesmo, proteger a família, proteger Macau.” O mote foi lançado pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, minutos antes de tomar a vacina.

O plano do Executivo de Macau é vacinar toda a população e rapidamente. Só assim serão levantadas as restrições de circulação em vigor desde o início da pandemia do novo coronavírus Sars-Cov-2. A vacinação é voluntária e cada residente pode escolher uma das três marcas adquiridas pelo Governo: Sinopharm, BioNTech e AstraZeneca. O Executivo encomendou perto de 1,5 milhões de vacinas, incluindo 100 mil para uso de emergência e as mais de 200 mil doses requisitadas à Organização Mundial da Saúde (OMS) no âmbito do programa COVAX.

No plano global de aquisição colectiva de vacinas liderado pela OMS e pela Aliança Global para Vacinas e Imunização, do qual Macau faz parte, a região foi contactada para receber 60 mil vacinas, que disponibilizou para territórios com maior necessidade. “A GAVI (Aliança Global para Vacinas e Imunização) contactou com as autoridades de Macau para fornecer cerca de 60 mil doses de vacinas, situação que coincidiu com a chegada das vacinas da Sinopharm e da Fosun/BioNtech. Para evitar desperdícios, as mesmas vacinas foram depois atribuídas pela GAVI a países ou regiões em necessidade. No futuro, o Governo da RAEM irá adquirir mais vacinas, de acordo com as situações, assegurando que cada residente pode receber duas doses”, referem os Serviços de Saúde em comunicado. Das três vacinas adquiridas, já estavam a ser administradas duas, na altura do fecho desta edição: a Sinopharm e a BioNTech.

Sinopharm

A vacina do laboratório chinês foi a primeira a chegar ao território, a 7 de Fevereiro, através da fronteira do Parque Industrial Transfronteiriço Zhuhai-Macau. Vinte dias depois do primeiro lote de cerca de 100 mil vacinas, chegaria o segundo, com mais 400 mil doses produzidas pela Sinopharm Group, a 28 de Fevereiro, pela mesma via.

Ambas as encomendas foram transportadas por camiões numa viagem de mais de 30 horas de Pequim a Macau. O Governo decidiu jogar pelo seguro e adquiriu mais 100 mil doses da vacina da Sinopharm, aumentando a encomenda para 500 mil doses, devido aos problemas na entrega de vacinas de outras farmacêuticas, como a produzida pela AstraZeneca.

O estoque foi guardado no armazenamento de congelamento de vacinas dos Serviços de Saúde para depois ser distribuído para hospitais e centros de saúde, uma vez que a vacina inactivada da Sinopharma Group necessita de um local com baixas temperaturas para garantir a conservação.

As vacinas da Sinopharm têm uma eficácia de 79 por cento, só podem ser administradas a quem tem mais de 18 anos e até 59. Maiores de 60 anos só devem tomar a vacina caso “estejam de boa saúde” e “sob maior risco de exposição”.

BioNTech

A 27 de Fevereiro, o Centro Hospitalar Conde de São Januário recebeu o primeiro lote da BioNTech, vindo da Alemanha via Aeroporto de Hong Kong. As mais de 100 mil doses das 400 mil encomendadas, produzidas pela alemã BioNTech e distribuídas pela Fosun Pharma, começaram a ser administradas a 3 de Março aos residentes com idade igual ou superior a 16 anos.

Numa primeira fase, a administração da vacina de mRNA decorreu apenas no Centro Hospitalar Conde de São Januário para que os profissionais de saúde pudessem familiarizar-se com o processo, sendo os centros de saúde incluídos após 15 dias.

“A vacina de mRNA é muito sensível e deve ser transportada a uma temperatura negativa de 70 graus Celsius durante todo o processo. Após o descongelamento, deve ser armazenada numa caixa de conservação de temperatura de 2ºC a 8ºC e usada em cinco dias”, detalhou o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, na altura.

Idosos a partir dos 60 anos são sempre vacinados no hospital público porque as “condições de primeiros socorros” são “melhores do que as dos centros de saúde”. No caso da vacina da BioNTech “não há limite de idade”, ainda “que a administração de qualquer vacina exige que as pessoas estejam em bom estado de saúde”, referiu Lei Chin Ion.

Vacinação por fases

Antes da chegada das vacinas ao território, foram realizadas duas sessões de esclarecimento para 150 profissionais dos Serviços de Saúde, com o objectivo para explicar as instruções técnicas dos diferentes tipos de vacinas e processo de vacinação.

Em Macau, à semelhança da prática na generalidade do mundo, o plano de vacinação obedece a fases. A primeira começou a 9 de Fevereiro, e incluiu titulares de altos cargos públicos, trabalhadores da linha da frente (profissionais de saúde, bombeiros e polícias), indivíduos com alto risco de exposição ocupacional (motoristas, professores e trabalhadores na área do jogo), e, por fim, quem precisa de viajar para zonas consideradas preocupantes pela gravidade da pandemia.

Foram distribuídas 3700 doses na primeira etapa. Os profissionais de saúde foram vacinados antes do Ano Novo Lunar, seguindo-se os restantes grupos prioritários.

A 22 de Fevereiro teve início a segunda fase, que passou a abranger todos os residentes e grande parte da população. A terceira fase inclui os não residentes e arrancou a 9 de Março. Os Serviços de Saúde disponibilizam mil vagas diárias de vacinação contra a Covid-19 para este grupo. “De momento, temos 12 postos para vacinação e 5000 vagas diárias. Reservamos mil vagas destas 5000 para os não residentes. Cinco mil vagas por dia é já um número satisfatório. Entre mil e 2000 pessoas têm marcado diariamente a sua vacinação. Quando a procura vier a ser maior poderemos aumentar os locais de vacinação e o número de vagas”, explicou Tai Wan Hou, coordenador do plano de vacinação contra Covid-19 dos Serviços de Saúde.

O Governo garantiu a gratuitidade a três grupos de não-residentes: trabalhadores, alunos legalmente autorizados a permanecer em Macau e reclusos. Os restantes não-residentes terão de pagar 250 patacas por dose.

Grávidas e menores de 16 anos estão excluídos do plano de vacinação.

 “Ainda não temos dados concretos sobre a validade das vacinas contra a Covid-19. Com base em alguns estudos e casos que receberam a vacina podemos dizer que a validade pode ir dos seis aos 12 meses, alguns nove meses, ou seja, quem receber a vacina deverá ter esta protecção”, explicou Alvis Lo, médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário.

Alvis Lo assegurou que o Governo está atento a todos os desenvolvimentos científicos. “Diferentes farmacêuticas têm vacinas novas, quando houver vacinas que provem ser mais capazes, ou que tenham um grau de eficiência maior, também iremos adquirir. Se houver uma procura contínua dos cidadãos pela vacina vamos continuar a adquirir e a adoptar novas fórmulas e novos métodos”, afirmou.

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Governo quis dar o exemplo

O Chefe do Executivo Ho Iat Seng foi o primeiro a receber a vacina contra a Covid-19. “A vacina é segura e voluntária, mas incentivamos todos a tomá-la”, frisou, depois de ter recebido a primeira dose da Sinopharm. “Cada um pode escolher uma das três marcas disponíveis. Incentivamos a população a receber a vacina. Só desta forma conseguimos combater a pandemia”, sublinhou.

O líder do Governo teve de ser vacinado para que pudesse marcar presença na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e na Assembleia Popular Nacional, que decorreram em Março. “Como tenho de estar presente em Pequim tenho de receber a vacina”, afirmou.

A ida à China acabou por antecipar a segunda dose para o Chefe do Executivo. Por norma é aconselhado aguardar três a quatro semanas após a primeira, mas Ho Iat Seng foi novamente vacinado no final do mês de Fevereiro para que pudesse participar nas duas sessões magnas em Pequim.

Ho realçou que o desenvolvimento económico está dependente de “uma boa conjuntura e bom ambiente”, mas ressalvou: “Com a vacina espero em primeiro lugar garantir a saúde e vida da população. Isto é o principal. Depois de termos um ambiente saudável é que vamos recuperar a economia”.

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Mudanças só com população vacinada

As políticas de quarentena obrigatória só serão revistas quando houver uma barreira de protecção imunitária, que depende da vacinação de uma grande parte da população. “Segundo dados científicos, a vacinação pode reduzir os riscos de morte e infecção, por isso, quanto maior for a taxa de cobertura da vacinação, melhor. Ainda não temos indicações claras para substituir as medidas de entrada e saída nas fronteiras. Estamos em negociações com as autoridades do Interior do País e vamos discutir sobre essa possibilidade, mas até ao momento não há um plano concreto porque qualquer medida implementada tem de ser recíproca. Estamos abertos a essas possibilidades [fim das quarentenas], mas vamos tomar como referência as medidas das zonas vizinhas”, explicou o médico adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário.

Alvis Lo acrescentou que o número de pessoas necessário para constituir uma barreira de protecção imunitária pode variar e depende da região em si e da taxa de incidência do vírus, assim como a protecção das próprias vacinas distribuídas nessa região. “Não temos um valor exacto quanto ao número de pessoas necessário para criar esse efeito, mas segundo dados científicos, quanto mais pessoas, melhor. Se a maior parte das pessoas puderem ser vacinadas, melhor.”

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Seguro vacinas

Na sequência do plano de vacinação, o Governo adquiriu um seguro com uma cobertura de até um milhão de patacas no caso de morte ou incapacidade permanente. No caso do visado ter mais de 70 anos, o valor da cobertura do seguro cai para metade e o prazo restringe-se a três meses a contar do dia da vacinação. Idosos com mais de 85 anos e menores de 16 (estes excluídos do plano de vacinação) ficam fora do seguro.